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Palavra do leitor

A Igreja das Nucas e não das mãos estendidas

A Igreja das Nucas e não das mãos estendidas



‘’A época arraigada ao racionalismo questionava para uma abertura a liberdade dos homens, pelo qual as distâncias fossem sobrepujadas; no entanto, a história mostrou o oposto e, acontecimentos como o da Segunda Guerra Mundial, não deixam nenhuma sobra de dúvida; agora, na aclamada pós – modernidade, aceita – se a tudo e a todos, com uma frontal anulação da identidade e das idiossincrasias do ser, inclusive com a Cruz de Cristo transformada num arremedo de interpretações pagãs e medíocres, ao qual, tão somente, serve para intermediar diante dos extremos. ’’


Por volta das 15h00min, as nucas iam a direção do templo, para participarem da oração da hora nona e estabelecer uma conexão com o Criador, mesmo que fosse um protocolo ou de mentirinha. Os ecos dos passos formavam uma densa e inofensiva poeira de areia. Deve ser dito, próximo a entrada do templo, um coxo, uma figura já adaptada ao ambiente. De certo, muitos tinham se acostumado, com aquela caricatura.

Em meio a tantas e rotineiras nucas, duas, sem nenhuma justificativa aparente, pararam, diante do pedido por uma esmola. E de imediato ouviu, de uma das nucas, não dispor nem de prata ou ouro. Ora, qual a serventia, então, de ficar aí me atrapalhando, disse o coxo. Mesmo assim, uma das nucas, porfiosamente, declarou (no nome do Senhor Jesus Cristo, o Nazareno, levanta – te e anda). Enquanto isso, outras e outras e mais outras nucas passavam a largo e nem sequer se importavam; afinal de contas, todos devem carregar sua cruz, assumir as consequências, com relação aos seus atos e decisões.

O findar das palavras parecia antever mais uma despedida cômoda e bondosa, entretanto, equidistante de uma efetiva práxis naquela história esfarrapada. De repente, as mãos estendidas de uma das nucas se encontraram com as mãos de um personagem vitimado por um banimento de ser e existir. Faz – se notar, sem querer o submeter a uma incisão de quem pecou ou sei lá mais o que, suas juntas readquiriram sentido, motivo e destino. Lamentavelmente, ao adentrar no tempo, preferiu se retirar, porque queriam colocar gessos em sua vida.

O texto de Atos 03. 01 a 05 narra e aborda os meandros de um coxo bem nas escadarias que conduziam as pessoas ao tempo e isto me levou a elucubrar sobre a igreja das nucas e das mãos estendidas.

Digo isso, porque a igreja das nucas cumpre o script dos ritualismos, entra e sai, tem momentos de êxtases e experiências místicas, traz em si um discurso moralista e de boa conduta, canta louvores, entrega folhetos, fala de Deus, mas não consegue olhar para os lados, estender as mãos da misericórdia e esperança para os combalidos, bem ao seu lado.

Sem sombra de dúvida, ajuntam – se com toda a reverência e permanecem indiferentes aos dissabores e mazelas do seu próximo irmão. Deveras, em tempos de mega – catedrais, lideranças personalistas carismáticas, ministérios apoteóticos e revelações apocalípticas, a comunidade dos apóstolos para em prol dos coxos e por que não dizer dos coxos sufocados pelas perdas e falências, pelos sonhos frustrados, pela ausência de uma palavra de ânimo, de um abraço e nada mais, de um alento, de um aceno, de uma vida ao encontro de outra.

Sinceramente, Pedro e João estenderam a oportunidade para a Graça simples e singeleza de Cristo alcançar aquele coxo, sem o expor a uma sessão de descarrego, de exorcismo, de enaltecimento de gurus e seus púlpitos. Nada mais e menos, as mãos estendidas concederam a oportunidade para o coxo retornar ao papel de escrever sua trajetória e o mais interessante de tudo rejeitou, terminantemente, a tentativa dos detentores da fé de inocularem um estado de comiseração, em sua vida.

Tristemente, quantas pessoas subjugadas pela comiseração de uma divindade de sistemas e regramentos e, noutro lado, a Graça nos chama para as mãos estendidas e enfrentar as alternâncias da vida.
São Paulo - SP
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