A humanidade de Deus em nós

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Quando vierem a Campo Grande MS, não deixe de visitar o hospital São Julião. A instituição não faz parte da lista dos pontos turísticos da cidade, mas a história e a beleza do São Julião dão à instituição um dos primeiros lugares dessa lista.
Semana passada, levei um irmão daqui da comunidade para uma consulta oftalmológica (O Hospital concentra bons médicos oftalmos).

Enquanto aguardava fiz uma caminhada pelas lindas alamedas rodeadas e coberta pelas sombras de seus arvoredos; senti o frescor da manhã, pude quase tocar nos Joões de barro e nos bem- te- vis que aparecem bem pertinho de nós, a seriema com o seu bico e sua canela combinando, numa pintura precisando de um retoque já, mas bela, sem espantar com nossa presença, observava…

As extensas alamedas, a localização e atmosfera do ambiente suscita certo mistério… Depois do portão, antes de chegar ao saguão principal, descemos pelas ruas margeadas de casas com sistema de aquecimento solar, casas simples, mas de uma beleza significativa. Avistamos crianças brincando, escola (que não seria propriamente uma creche para filhos de funcionários), parque, igreja… Este cenário traduz-se num verdadeiro convite a que o visitante mergulhe fundo na história que está por trás daquele fantástico lugar.

Deixei o paciente para a consulta e, atraído pelo mistério, como dama que seduz, fui descendo, descendo, seguindo os “ecos” do bosque. De repente, surpreso, um pequeno In memorian . Ah… Compreendi, então, a essência daquele ambiente no texto lavrado na lápide do poeta Lino Vilachá:

“Gostaria que repousasse o pouco que restou de meus andrajos humanos debaixo de uma árvore do São Julião, bem perto de suas raízes, para que eu receba por elas o frêmito de felicidade das folhas ao vento e o cheiro do amanhecer…”

A chave do transcendente será sempre entregue, e o cheiro das palavras que pairam sussurrantes conduzirá o oportuno viajante ao âmago do significado. Percebi isso ao caminhar por ali.

Na verdade, a distância de 15 km do centro se explica pela origem histórica do lugar que no princípio era um leprosário, lugar de isolamento. Hoje, continua sendo; ainda existem pessoas que foram tratadas, mas por não terem para onde ir permanecem vivendo lá, naquela que foi uma colônia de leprosos; de uma história muito triste de morte e dor, mas que foi transformado num lindo lugar onde paira, quem sabe, uma atmosfera de salvação.

Um grupo de cristãos católicos da comunidade italiana assumiu a causa valorizando a vida naquele sagrado lugar. Hoje, o ambiente, além de uma beleza inspiradora, é um convite à visitação, digno de elencar a lista de pontos pitorescos de MS; é limpo, cheiroso e lindo, onde a poesia paira no ar. Vale a pena conhecer.

Fui ao saguão de espera para ver se meu amigo já havia sido liberado, folheei paginas de uma revista, mas não tinha nada só glamour; olhei a televisão, mais glamour nos noticiários e na programação também. Fiquei admirado em como alguns temas ofuscam mesmo a nossa visão da realidade tirando o nosso foco. Fugi dali e comecei tudo outra vez.

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Opinião do leitor