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Palavra do leitor

A Graça não é uma exclusividade dos cristãos?

A Graça não é uma exclusividade dos cristãos?


‘’Olhar para a vida sem a esperança, pode ser comparado a compor uma sinfonia sem a batida do coração, sem as lágrimas da criação, sem o encontro melódico e harmônico da arte, do transcendente, da humanidade e de que não somos frutos do acaso. ’’


A trajetória dos heróis da fé, conforme descrito em Hebreus, demonstra, por todas as letras, o quanto Deus passa a léguas de distância de qualquer tentativa exclusivista. Vale dizer, ao folhear os enredos narrativos de profetas do naipe de Jeremias, da língua afiada e direta de Amós (sem papa na língua para denunciar os abusos, os desmandos e fraudes praticadas pelas autoridades de sua época) e da revelação inspiradora de Isaías, percebo, em todos, aqui citados, uma repulsa com relação a intenção de uma fé nacionalista, pertencente a um povo (como se fosse um gueto, dentro do oikos). Aliás, em todo o momento da história, quando houve isso, desembocou – se na inquisição, nas cruzadas e outras anomalias. Sem hesitar, como, então, aceitar a Graça personificada no Cristo Ressurreto, pertencente aos cristãos e nada mais?

Dou mais uma pincelada, no princípio era o verbo, o logos, o fundamento criativo de tudo e de todos, ao qual estava e esta com Deus. Destarte, de certa maneira, em todo povo, em toda etnia, em toda raça, em toda história e em toda cultura há um toque de anseio, por sua origem. De tal modo, quando observo uma digladiação de denominações, como se estivéssemos numa feira livre, pelo qual os feirantes oferecem o melhor produto e tentam descartar o concorrente, chegamos a conclusão de quão funesto e tétrico tem sido os atos e as práticas dos apologistas de uma visão exclusivista. Além do mais, caso aceitássemos essas ideias, o velho testamento deveria ser removido da bíblia e limitar – nos – íamos a uma leitura das epístolas paulinas. Para piorar a situação, essa doentia exclusividade distancia – nos do próximo, da realidade, com suas ambiguidades e ambivalências, com suas tensões e dicotomias, com suas alteridades e transformações. Não por menos, uma exclusividade de templos, uns ao lado de outros, para ver quem pode mais, quem cura mais, quem liberta mais, quem prospera mais, quem exorciza mais e por ai vai.

Em direção oposta, embora a Graça não seja, nem será e muito menos é uma exclusividade cristã, fomos envolvidos por uma sede virulenta para ainda crer, acreditar e não baixar a guarda, diante dos vendavais da injustiça, da impiedade e iniquidade (como, por exemplo, de autoridades descompromissadas em executar o coração – útero da fé e da paz, ou seja, a justiça restauradora e reconciliadora, ao qual tem provocado, em nosso país, uma sociedade, cada vez mais, submersa no cada um por si e Deus por todos). Somos, sim e sim, chamados para o serviço inovador de ir ao próximo, com a palavra alforriadora, ao qual torna o ser humano livre e responsável pelo semelhante. Por fim, por qual motivo não abrirmos mão de uma exclusividade que não nos pertence? Afinal de contas, o sacrifício da Cruz não teve e não tem um alvo:

- A tudo e a todos?
São Paulo - SP
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