Palavra do leitor
- 09 de outubro de 2011
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A existência de um deus pode ser cientificamente comprovada?
Antes de prosseguir, é necessário definir o que se compreende por ciência, assim como o que se define como deus.
A atividade científica é um trabalho racional. Ou seja, fundamentada na razão e no esforço. Ela inexiste na ausência de ambos, mas não exclui o lúdico. Sendo racional, segue um raciocínio concatenado, onde o fato/a ideia “A” segue naturalmente o fato/a ideia imediatamente procedente, preferencialmente sem saltos sobre lacunas. Não é suficiente o encadeamento lógico, sendo necessária a comprovação experimental do mesmo. Se esta não for possível, por mais consequente que seja o raciocínio será obrigatoriamente refutado como falso.
Trabalhando sobre o real e concreto, o acessível à experimentação e a análise, a ciência descreve as características do objeto em estudo, seu funcionamento (quando aplicável) e sua utilidade. Conforme o campo do saber há maior ou menor grau de incerteza sobre o seu conhecimento. Por exemplo, a metalurgia é um campo menos instável que a medicina, a física clássica menos disputada que alguns ramos da biologia. E isto é facilmente explicável: todo objeto que sofre a menor influência do meio externo a ele mesmo, ou cujas influências sejam passíveis de enumeração e controle, fornece uma terreno sólido para descrições com baixa probabilidade de erro. A biologia, por tratar de seres vivos sujeitos a influências externas inumeráveis/desconhecidas (chamado “sistema aberto”), trabalha, em alguns de seus ramos, sobre grande instabilidade. O mesmo se aplica às doenças humanas, tanto nos aspectos preventivos quanto nos terapêuticos.
Apesar de trabalhar sobre o concreto, o cientista também propõe hipóteses de trabalho, que necessitam de validação empírica. Segundo a atual filosofia da ciência, uma hipótese chamais será provada verdadeira. Ao contrário, ela será tida por “não falsa” enquanto resistir ao mais severo escrutínio e enquanto prover respostas acertadas.
E o cientista sabe que seu conhecimento abarca apenas uma pequena fração da realidade e que estamos bem distantes de uma visão abrangente, organicamente integrada, da mesma. Ele é forçado a aceitar, por honestidade intelectual, que quando descreve, descreve por aproximação, por analogia, que é bem diferente daquela pequena porção da realidade a qual se dedica.
Portanto, a ciência abrange um vasto espectro de atividade intelectual que tem extremos precisos (a descrição de um movimento, pela física clássica) e altamente especulativos (a teoria da evolução). Mas em toda a sua extensão não explica ou propõe mecanismos/causas fora do mundo natural.
Deus forçosamente é um ser autoconsciente e de poder inimaginável. Se assim não fosse, como poderia ser o criador e/ou mantenedor da natureza? Há espaço para o politeísmo, mas esta construção traz um enfraquecimento da ideia de divindade, pois todo o poder não está concentrado em um só, e a realidade seria consequência de um acordo operacional entre vários seres poderosos mas limitados uns pelos outros.
Monoteísta ou não, a existência de deus(es) não pode ser averiguada cientificamente por algumas poucas e boas razões:
1. Não é compatível com seu status de criador divino o deixar-se esquadrinhar por suas criaturas como se objeto fosse – um ser autoconsciente necessariamente se atribuirá valor e um ser todo-poderoso não se verá como menor que suas criaturas.
2. A ciência trabalha por comparação, aproximação, analogia. Com o quê se comparará um deus?
3. Para ser estudado ele tem de se deixar encontrar, se for possível, ou se revelar, se estiver fora do alcance dos cinco sentidos naturais. Como obrigá-lo?
4. Deus(es) não são acessíveis aos nossos sentidos – pois se o fossem, ateístas negariam a realidade óbvia, em uma situação de insanidade. Seria(am) um dia acessíveis ao esquadrinhamento por parte de nossa tecnologia? E se sua(s) constituição(ões) é(são) desconhecida(s), pela mesma razão, como idealizar um recurso que o(s) encontre(m)?
A existência ou não da divindade somente pode ser disputada no campo das ideias, e não da experimentação. Não há como obrigá-la a participar de um ensaio cientifico qualquer, não há como construir hipóteses e demonstrá-las não falsas a respeito de um deus – forçosamente um ser autoconsciente e todo-poderoso. Se fosse bem humorado, brincaria com nossos pobres esforços à exaustão (nossa).
Postado no Crer é Pensar
A atividade científica é um trabalho racional. Ou seja, fundamentada na razão e no esforço. Ela inexiste na ausência de ambos, mas não exclui o lúdico. Sendo racional, segue um raciocínio concatenado, onde o fato/a ideia “A” segue naturalmente o fato/a ideia imediatamente procedente, preferencialmente sem saltos sobre lacunas. Não é suficiente o encadeamento lógico, sendo necessária a comprovação experimental do mesmo. Se esta não for possível, por mais consequente que seja o raciocínio será obrigatoriamente refutado como falso.
Trabalhando sobre o real e concreto, o acessível à experimentação e a análise, a ciência descreve as características do objeto em estudo, seu funcionamento (quando aplicável) e sua utilidade. Conforme o campo do saber há maior ou menor grau de incerteza sobre o seu conhecimento. Por exemplo, a metalurgia é um campo menos instável que a medicina, a física clássica menos disputada que alguns ramos da biologia. E isto é facilmente explicável: todo objeto que sofre a menor influência do meio externo a ele mesmo, ou cujas influências sejam passíveis de enumeração e controle, fornece uma terreno sólido para descrições com baixa probabilidade de erro. A biologia, por tratar de seres vivos sujeitos a influências externas inumeráveis/desconhecidas (chamado “sistema aberto”), trabalha, em alguns de seus ramos, sobre grande instabilidade. O mesmo se aplica às doenças humanas, tanto nos aspectos preventivos quanto nos terapêuticos.
Apesar de trabalhar sobre o concreto, o cientista também propõe hipóteses de trabalho, que necessitam de validação empírica. Segundo a atual filosofia da ciência, uma hipótese chamais será provada verdadeira. Ao contrário, ela será tida por “não falsa” enquanto resistir ao mais severo escrutínio e enquanto prover respostas acertadas.
E o cientista sabe que seu conhecimento abarca apenas uma pequena fração da realidade e que estamos bem distantes de uma visão abrangente, organicamente integrada, da mesma. Ele é forçado a aceitar, por honestidade intelectual, que quando descreve, descreve por aproximação, por analogia, que é bem diferente daquela pequena porção da realidade a qual se dedica.
Portanto, a ciência abrange um vasto espectro de atividade intelectual que tem extremos precisos (a descrição de um movimento, pela física clássica) e altamente especulativos (a teoria da evolução). Mas em toda a sua extensão não explica ou propõe mecanismos/causas fora do mundo natural.
Deus forçosamente é um ser autoconsciente e de poder inimaginável. Se assim não fosse, como poderia ser o criador e/ou mantenedor da natureza? Há espaço para o politeísmo, mas esta construção traz um enfraquecimento da ideia de divindade, pois todo o poder não está concentrado em um só, e a realidade seria consequência de um acordo operacional entre vários seres poderosos mas limitados uns pelos outros.
Monoteísta ou não, a existência de deus(es) não pode ser averiguada cientificamente por algumas poucas e boas razões:
1. Não é compatível com seu status de criador divino o deixar-se esquadrinhar por suas criaturas como se objeto fosse – um ser autoconsciente necessariamente se atribuirá valor e um ser todo-poderoso não se verá como menor que suas criaturas.
2. A ciência trabalha por comparação, aproximação, analogia. Com o quê se comparará um deus?
3. Para ser estudado ele tem de se deixar encontrar, se for possível, ou se revelar, se estiver fora do alcance dos cinco sentidos naturais. Como obrigá-lo?
4. Deus(es) não são acessíveis aos nossos sentidos – pois se o fossem, ateístas negariam a realidade óbvia, em uma situação de insanidade. Seria(am) um dia acessíveis ao esquadrinhamento por parte de nossa tecnologia? E se sua(s) constituição(ões) é(são) desconhecida(s), pela mesma razão, como idealizar um recurso que o(s) encontre(m)?
A existência ou não da divindade somente pode ser disputada no campo das ideias, e não da experimentação. Não há como obrigá-la a participar de um ensaio cientifico qualquer, não há como construir hipóteses e demonstrá-las não falsas a respeito de um deus – forçosamente um ser autoconsciente e todo-poderoso. Se fosse bem humorado, brincaria com nossos pobres esforços à exaustão (nossa).
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