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Palavra do leitor

A ética das conveniências

"A ética deve ser um trabalho a ser construído com suor, parceria, dedicação e inovação; semelhante a um multirão de encher a laje, nos finais de semana, cujas mãos dão existência à idéia de um teto para morar, para ser em dignidade e cidadania. Aliás, devemos primar pela ética da interdependência, do ouvir e compreender a vida nas suas alternâncias e multiplicidade!"

Somos discípulos perenes da ética das conveniências? Provavelmente, ecos de objeção bateram o pé e apresentaram o '"não é bem assim"'.

No entanto, ao observamos a realidade atual, tudo indica sermos propaladores não somente da ética e, indo mais além, da política, justiça, da economia e por ai vai das conveniências. Quedamos em dizer algo aqui e decidimos de maneira totalmente diferente acolá.

Deste itinerário, incorremos em um jogo de palavras e idéias regidos por príncípios típicos de um contexto submersos no relativismo, no pluralismo, no individualismo mais parecidos com dogmas impositores do certo e errado.

Sem titubear, a ética não pode ser interpretada, segundo o ângulo da retórica. Deve transpor as linhas das folhas dos discursos, pôr os pés no chão de cada dia, adentrar nos subterrâneos do homem de alma, carne, osso, sangue...

Logo, poderíamos adornar a ética numa busca contínua e dedicada pela vida, ao lado do outro. Isto nos remete a irrompermos com os tentáculos de uma ética incumbida a coisificar ou descartar as pessoas. Falo de uma ética propensa nos trilhos de uma cultura narcisita, do id e ego insuflado pelo tempo-presente.

Partindo dessas colocações, adentramos na dimensão cristã e desembocamos no texto de Mateus 5. Ali, Jesus afia uma ética mediadora, de engajamento, de compromisso e responsabilidade pela vida.

Por consequência, não mantém nenhuma coadunação com um evangelho pauperizado e que tem chafurdado pessoas numa concepção deformada de cristandade.

Então, em um período de prognósticos e palpites salpicados de pessimismo, a Igreja não pode abrir mão de ser porta-voz da esperança solidária e fraterna, da justiça e comunhão atreladas a enfrentar e encarar as aflições dos homens.

As palavras ressaltadas acima ressoam com um quê de utópico e absurdo. Agora, somos convidados a divorciarmo-nos da ética das conveniências e soerguemos uma ética a ser composta nas inter-relações humanas pautadas nas boas-novas, numa opção por uma linha teológica, revelacional, eclesiástica mediadora e sem alienações.

Isto implica priorizarmos o diálogo e a sinceridade diante dos reveses da vida, de ouvirmos e compreendermos os excluídos, de partilharmos mais vida, sonhos, sorrisos, princípios e valores tão bem evocados pelo Mestre.

Por ora, cabe, a cada um de nós, ponderamos sobre qual ética estamos estribados.
São Paulo - SP
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