Palavra do leitor
- 05 de janeiro de 2011
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A Espiritualidade no evangelicalismo brasileiro: conceitos, características e consequências
Primeira Parte
INTRODUÇÃO
O Evangelicalismo brasileiro é dicotômico no que tange a realidade, pois, por um lado, a discerne como sendo divina, sacra e, portanto, espiritual, mas também identifica uma outra dimensão secular, mundana e profana. Esta visão bipartida da realidade, estranha ao ensino das Escrituras Sagradas e à Teologia Reformada, da qual o evangelicalismo é herdeiro, é responsável pelos contornos em que o conceito de espiritualidade ganhou no Brasil evangélico de hoje. Podemos afirmar que a espiritualidade evangélica brasileira é mística, introspectiva e alienante, e nossa proposta, neste ensaio, é tentar entender o porquê de tais matizes, quais os seus efeitos e de que maneira pode-se discutir uma solução.
Uma Espiritualidade Mística
Entendendo como Francis Schaeffer, que a "verdadeira espiritualidade" reside na fé cristã e que esta, por sua vez, à luz das Escrituras Sagradas, especialmente o Novo Testamento, é um dom de Deus oferecido gratuitamente aos que foram “chamados para fora”, para a exercerem e a manifestarem na sociedade em que estamos inseridos, a igreja, como despenseira desta espiritualidade, tem, portanto, a missão de compartilhá-la através do Kerigma e da ação do cristão em prol da transformação do mundo, objetivando com isto a glória de Deus. Este foi o discernimento que os reformadores como Lutero, Calvino, Melanchton, Zwinglio e outros tiveram. Para os mesmos a espiritualidade era vivida no âmbito da fé (subjetividade) e da ação (objetividade).
No Brasil o evangelicalismo, especialmente por influência do pentecostalismo e o neopentecostalismo, separou estes conceitos de tal forma que transformou a fé e, portanto, a
espiritualidade cristã em algo meramente subjetivo, abstrato, sobrenatural e, logo, místico. Com esta ênfase em uma espiritualidade subjetiva houve a valorização do culto místico, marcado pela ênfase no sobrenatural. Tal conceito é muito valorizado no atual cenário evangélico brasileiro, onde há uma predominância numérica de comunidades de fé de cunho carismático. Ser espiritual, neste contexto é ter experiências sobrenaturais. O que deveria, portanto, ser extraordinário, uma experiência possível, porém incomum à ordem do dia, virou um padrão de normalidade. Tais experiências se tornaram, na prática, uma necessidade e um termômetro do culto e da vida cristã. A realidade natural, a sociedade, o trabalho, os deveres e direitos são vistos como algo de importância menor, pois fazem parte do que é “objetivo”, não devendo, portanto, serem considerados como prioritários.
É bom que se diga que há, na vivência da espiritualidade cristã, um lugar saudável para as experiências pneumáticas. O cristão é alguém que se relaciona com o Espírito Santo e é, por Ele visitado, curado, consolado, orientado e edificado. A questão aqui não é negar as operações reais do Espírito Santo, mas sim avaliar criticamente a insistência de muitos círculos em colocar o sobrenatural como a porta de entrada e balizador da espiritualidade genuína. Entendemos que tal interpretação prejudica a saúde da fé bíblica, pois confunde o extraordinário com o ordinário, o milagre com o que é comum e o que é apenas possível com o que é fundamental e necessário.
Na espiritualidade mística, tudo o que é objetivo é visto com desconfiança, assim há pouco lugar para o racional. Destarte, a teologia não recebe a devida atenção, e, na prática, a própria Palavra só é aceita quando "toca" o emocional do indivíduo, pois para este o que importa é se a mesma lhe traz alívio. A doutrina torna-se secundária. A questão não é mais conhecer a verdade, mas sim obter dela benefícios. Se a verdade não traz alívio e não torna o indivíduo mais feliz, esta não o interessa.
Podemos afirmar, então, que o misticismo é uma das principais características da espiritualidade contemporânea. Ser cristão não é mais questão de entender as verdades cristãs e logo aceitá-las como padrão de espiritualidade. Ser cristão virou uma experiência subjetiva. Não mais importa o que se crer, mas sim o que se experimenta de Deus.
Continua no próximo artigo...
INTRODUÇÃO
O Evangelicalismo brasileiro é dicotômico no que tange a realidade, pois, por um lado, a discerne como sendo divina, sacra e, portanto, espiritual, mas também identifica uma outra dimensão secular, mundana e profana. Esta visão bipartida da realidade, estranha ao ensino das Escrituras Sagradas e à Teologia Reformada, da qual o evangelicalismo é herdeiro, é responsável pelos contornos em que o conceito de espiritualidade ganhou no Brasil evangélico de hoje. Podemos afirmar que a espiritualidade evangélica brasileira é mística, introspectiva e alienante, e nossa proposta, neste ensaio, é tentar entender o porquê de tais matizes, quais os seus efeitos e de que maneira pode-se discutir uma solução.
Uma Espiritualidade Mística
Entendendo como Francis Schaeffer, que a "verdadeira espiritualidade" reside na fé cristã e que esta, por sua vez, à luz das Escrituras Sagradas, especialmente o Novo Testamento, é um dom de Deus oferecido gratuitamente aos que foram “chamados para fora”, para a exercerem e a manifestarem na sociedade em que estamos inseridos, a igreja, como despenseira desta espiritualidade, tem, portanto, a missão de compartilhá-la através do Kerigma e da ação do cristão em prol da transformação do mundo, objetivando com isto a glória de Deus. Este foi o discernimento que os reformadores como Lutero, Calvino, Melanchton, Zwinglio e outros tiveram. Para os mesmos a espiritualidade era vivida no âmbito da fé (subjetividade) e da ação (objetividade).
No Brasil o evangelicalismo, especialmente por influência do pentecostalismo e o neopentecostalismo, separou estes conceitos de tal forma que transformou a fé e, portanto, a
espiritualidade cristã em algo meramente subjetivo, abstrato, sobrenatural e, logo, místico. Com esta ênfase em uma espiritualidade subjetiva houve a valorização do culto místico, marcado pela ênfase no sobrenatural. Tal conceito é muito valorizado no atual cenário evangélico brasileiro, onde há uma predominância numérica de comunidades de fé de cunho carismático. Ser espiritual, neste contexto é ter experiências sobrenaturais. O que deveria, portanto, ser extraordinário, uma experiência possível, porém incomum à ordem do dia, virou um padrão de normalidade. Tais experiências se tornaram, na prática, uma necessidade e um termômetro do culto e da vida cristã. A realidade natural, a sociedade, o trabalho, os deveres e direitos são vistos como algo de importância menor, pois fazem parte do que é “objetivo”, não devendo, portanto, serem considerados como prioritários.
É bom que se diga que há, na vivência da espiritualidade cristã, um lugar saudável para as experiências pneumáticas. O cristão é alguém que se relaciona com o Espírito Santo e é, por Ele visitado, curado, consolado, orientado e edificado. A questão aqui não é negar as operações reais do Espírito Santo, mas sim avaliar criticamente a insistência de muitos círculos em colocar o sobrenatural como a porta de entrada e balizador da espiritualidade genuína. Entendemos que tal interpretação prejudica a saúde da fé bíblica, pois confunde o extraordinário com o ordinário, o milagre com o que é comum e o que é apenas possível com o que é fundamental e necessário.
Na espiritualidade mística, tudo o que é objetivo é visto com desconfiança, assim há pouco lugar para o racional. Destarte, a teologia não recebe a devida atenção, e, na prática, a própria Palavra só é aceita quando "toca" o emocional do indivíduo, pois para este o que importa é se a mesma lhe traz alívio. A doutrina torna-se secundária. A questão não é mais conhecer a verdade, mas sim obter dela benefícios. Se a verdade não traz alívio e não torna o indivíduo mais feliz, esta não o interessa.
Podemos afirmar, então, que o misticismo é uma das principais características da espiritualidade contemporânea. Ser cristão não é mais questão de entender as verdades cristãs e logo aceitá-las como padrão de espiritualidade. Ser cristão virou uma experiência subjetiva. Não mais importa o que se crer, mas sim o que se experimenta de Deus.
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