A dura missão de Hércules

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“Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.” Jo 18; 31

Pilatos fora avisado pela própria esposa, que o aconselhou a ficar de fora daquilo. “E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.” Mat 27; 19

De certo modo, ele deu crédito ao aviso, e tentou se esquivar do julgamento. Sugeriu que os judeus o fizessem segundo a sua lei. Mas, eles tinham um problema: “A nós não é lícito matar pessoa alguma”.

A cretinice humana assume proporções assustadoras quando quer. Se o óbice ao julgamento do Sinédrio era que eles não poderiam condenar ninguém à morte, já haviam julgado Jesus como digno de morte; o que estavam solicitando era que o Império executasse a sentença, para que eles seguissem “inocentes”. Como um “abismo chama outro abismo” junto à hipocrisia, estava a mentira.

Era facultada a pena de morte sim, em casos de blasfêmia, adultério… tanto que o mesmo tribunal se omitiu ante o apedrejamento de Estevão, sem veredicto algum, no berro da multidão apenas. "O homem que deseja dirigir uma orquestra, deve voltar as costas para a multidão." (Ralph W. Emerson) Mesmo tendo vivido bem antes de Emerson, os Rabinos deveriam saber disso; “Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito.” Ex 23; 2

Mas, a multidão é uma besta útil que alguns sabem cavalgar, fazendo-a pensar que se locomove de moto próprio. Tem voz altissonante e ouvidos moucos; escrúpulos convenientes e instintos bárbaros.

Se alguém enfiar um dedo nos olhos de outrem, e tentar se isentar dizendo que foi uma minoria, os outros quatro dedos eram “pacíficos,” isso há de inocentá-lo? A turba dos escrúpulos convenientes é maioria, mas, dá sustentação aos “valentões” dos instintos bárbaros. Para efeitos práticos é irrelevante se foi com cauda o com a cabeça que Godzilla derrubou o prédio.

Quem não viu as imagens do furioso mascarado que quebrou tudo na porta da prefeitura de São Paulo, ontem? Hoje, identificado, falou como um cordeirinho, quase Bíblico; “Atire a primeira pedra quem nunca errou”; Mas, seu erro só se verificou porque foi identificado o indivíduo, separado do restante do monstrengo que o sustentava. Se a multidão bem intencionada fizesse manifestos ordeiros, em praças, como convém, tais, não se atreveriam ao vandalismo, temendo a polícia; amparados, se sentem uns deuses.

Ele notadamente era um “excluído;” 22 anos, saúde para dar e vender, criado a iogurte, estudante de arquitetura, ( estaria se preparando para construir? ) Com seu perfil, claro que não eram os 20 cents que o moviam. Na verdade é a luta contra o “sistema” que os anima.

Essa geração foi domesticada por professores “canhotos” que sonham com uma potência “bolivariana”, onde tudo se resolve na base da “revolución”. Outro o dia o Maduro veio pedir bexiga em Brasília, e afirmou que estava fazendo “uma revolução alimentícia”, naquele país cujo modelo sonhado por muitos cá, levou à escassez até de papel higiênico. Mas isso eles resolvem com outra “revolución” usando o papel de “La prensa” oficial, ou proibindo que o povo, como direi, produza a necessidade de papel, sob pena de serem acusados de subversivos.

Está mais que na hora, de que eles assumam abertamente suas posições, e defendam-nas, por meios lícitos; se querem matar ao Salvador, não transfiram a incumbência para Roma. Se abominam o Estado de direito, a polícia, a imprensa livre, os cristãos com seus valores, falem abertamente; pois, vinte centavos nós já pagamos por esse pretexto, quais serão os próximos? Afinal, não somos ingênuos de acreditar na decapitação da Hydra de Lerna. Hércules até pode ter feito seu trabalho, mas, Iolau não estava por perto.

Protestos pacíficos reitero, nas praças, com ordem, pauta, vozes que representem anseios coletivos. Assim, difusos, e bloqueando o trânsito, apenas dão sustentação ao vandalismo e a toda sorte de perturbação da ordem. Ademais, a simples violação do ir e vir de quem seja já é uma forma de violência; fazer isso gritando, “sem violência” é producente como enxugar gelo; sábio como abrir buracos n’ água. Mesmo que seja gente de bem; afinal discernimento também é um bem. Carvão em brasa queima; carvão frio suja; e ninguém o transformará em giz, apenas mudando seu nome.

“A multidão: esse enorme pedaço de monstruosidade que, considerada a partir dos seus elementos, parece feita de homens e das criaturas sensatas de Deus; mas, considerada como um todo forma uma enorme besta e uma monstruosidade mais horrível do que Hidra.” Thomas Browne

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Opinião do leitor