A cruz do escândalo versus a ordem vazia

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Mateus 15.1-12

O título da presente exposição objetiva cutucar mesmo, mover-se e movimentar-se por uma narrativa provocativa e não haveria outro caminho, quando trago a pauta sobre a deificação dos usos, dos costumes, dos hábitos. Não posso fugir, as palavras de Jesus soam e ressoam, numa intensidade dilacerante, como um escândalo e intitulo de a Cruz do Escândalo. Vou adiante, estamos diante de um confronto, de um embate insolúvel, inadiável e claro, com relação aqueles voltados a uma autêntica experiencia interior para se esparramar na realidade externa e, por tal modo, não propagar uma exterioridade, na mais cristalina constatação, vazia, vaga e vulgar. Sem sombra de dúvida, ao se falar sobre usos e costumes, hábitos e práticas, adentramos num cenário multifacetado e de aparências, a qual tenta se definir uma pretensa conotação ou significado entre o bom ou mal, entre o santo e profano, entre o certo e o errado. Decerto, temas tais como se a pessoa tem tatuagem ou não, se a pessoa usa piercing ou não, se a pessoa é divorciada ou não, se a pessoa é virgem ou não, se a pessoa pode ir a determinados espaços ou não, se a pessoa usa determinadas roupas ou não, além de outras questões invadem a leitura de os cristãos se portarem e se conceberem, como ao outro. As colocações feitas por Jesus apresentam tanto os fariseus quanto os escribas, com sua sagacidade e reivindicações, caracterizados por formar uma ordem estabelecida, por meio de usos, de costumes, de hábitos e de práticas, acima de uma realidade interior curada e transformada e disseminador de uma fé exclusivista, ímpia, de escolhidos e não escolhidos, de uma eleição privilegiada e nada mais. Sempre se faz de bom parecer destacar, essa ordem estabelecida, apegada a um levantar da exterioridade acima do próprio chamado da Cruz do Escândalo. Aliás, escândalo porque os impactos ocorrem na interioridade do indivíduo, na sua individualidade, na sua singularidade, na sua subjetividade, mediante a verdade que liberta ou, em outras palavras, o Deus ser humano Jesus Cristo. O chamado do Kairos para todos abre caminhos para a presença da verdade em nossa interioridade, para sermos testemunhas autênticas da verdade, a qual liberta e transforma, de dentro para fora. Noutro lado da moeda, a ordem estabelecida diz um taxativo não, diz um sonoro e estridente não pode ser assim, diz um hostil e covarde não será assim e ponto final. Evidentemente, concentrar-me-ei na ponderação substancial de apontar para o perigo da deificação da ordem estabelecida, para a divinização de estereótipos, para a sublimidade de linguagens sobrenaturais e, lá no fundo, tudo não passa de uma blasfêmia preconizada ou apregoada pela ordem estabelecida, com pessoas, tacitamente, intituladas e intitulando-se como divinas e com uma presença outorgada ou com um cartão de autorização para julgar, para condenar e para punir. A ordem estabelecida dos fariseus, dos escribas e dos saduceus causavam um esquecer de que todos fomos destinados a redenção estabelecida em Jesus, o Cristo. A ilusão da ordem estabelecida, de sua presunçosa paz e justiça, segurança e certeza, como se fosse o patamar ideal a ser buscado. Qual o problema dos apologistas da ordem estabelecida dos usos e dos costumes, dos hábitos e das práticas? Deixam de perceber o quanto estamos num vir a ser, num realizar-se, num projetar-se para fora, de que ainda não somos completos e não considerar isso conduz a uma fé complacente, indiferente, preguiçosa, passiva, autodeificante, autodivinizante e com a remoção de um encontro sério e sincero entre o interno e a verdade das notícias boas. A verdade das notícias não confronta, não inquieta, não provoca, porque o interno foi removido e tudo se segura numa aprazível ordem estabelecida de que ser vestir tal ou qual roupa, de que se me valer de tais ou quais palavras, de que se fizer isso, aquilo e acolá, enfim, estarei quite e aceito. A ordem estabelecida não vive e muito menos convive a verdade que nos faz sofrer, nos faz indignar, nos faz crer e não se amoldar as conveniências e congruências de uma exterioridade piedosa e tudo bem. A ordem estabelecida decreta a remoção do Deus ser humano Jesus Cristo, abole o Deus não afeiçoado as injustiças e teimosas tentativas dos apologistas de tais vazios. A ordem estabelecida reduz os indivíduos a figuras empacotadas e embaladas, com a promessa de que todos serão remetidos para uma alegria eterna se, porventura, cumprirem os cronogramas da exterioridade. nota-se o quanto os usos e os costumes alcançaram a dimensão de artigos de fé, de santidade, de intimidade assumem o status de serem importantes e não a incidência do Deus ser humano Jesus Cristo, em nossa interioridade. O mais drástico de tudo, ordenanças, hábitos, costumes, vestes e indumentárias são a base de nossa espiritualidade e não aquele que representa a Cruz do Escândalo. Ademais, será que não estamos assim?

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Opinião do leitor