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Palavra do leitor

A ciranda da vida

"Não reconhecer que o caminho em direção à eternidade envolve a manifestação dos resquícios da natureza adâmica, trará a infalível consequência de prosseguirmos a desfiar uma espiritualidade - semelhante a um vaso de flores murchas!"

A infância deixa marcas indeléveis nas memórias. A fase dos heróis, dos mitos, dos brinquedos adquiriam a postura de personagens e partícipes relevantes, numa espécie de diálogo em nosso quarto, ou no nosso munto a parte dos adultos. Bem, alguns, como eu, acima dos trinta anos, ainda se lembram de brincar peão; esconde, esconde; de bolinha de gude; de deixar a imaginação e a excitação de duelar nos céus, por meio de uma pipa; de pular de corda e não há como apagar, ciranda cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dá a meia volta e me esqueci do resto.

Tempos bons, de descompromisso, de trilhar pelas fantasias e estórias, de embevecer a alma com o lúdico e a peripécia. Em contrapartida, ao observar os desdobramentos do presente século XXI, a inocência, cada vez mais, perde espaço e dimensão na realidade das crianças. Lamentavelmente, tudo hoje em dia ganha foros de uma panorâmica social permeada por uma espécie de ditadura do tempo-presente, de uma obsessão consumista e construindo personalidades subjugadas pela ansiedade de ter, ter e ter.

Neste itinerário denominado pós-modernidade, o não, as fronteiras, os princípios e fundamentos de uma educação a espertar o sendo e a concepção de dever, responsabilidade, compromisso e militância por trabalharmos pelo bem-estar do eu e vós, parece estar no ostracismo, jogado para escanteio. Literalmente, o individualismo e materialismo doentio tem culminado a questão de o ser humano, tão somente, poder ser humano, quando tem o outro, nós, coletivo e comunitário na ponta das suas decisões. Não obstante, todo o esplendor da pós-modernidade e o culto desmedido e falacioso ao progresso, ainda não sobrepujamos já conhecidos díspares sociais e econômicos, cujos desfechos tem sido uma geração órfã de esperança e alternativas.

Então, você pode interpelar sobre os motivos da temática - ciranda da vida? Em resumidas palavras, procuro não apresentar um pacote de respostas e fórmulas. Opostamente, lanço o convite a efeito de andarmos pelas dunas de Eclesiastes 03 e divagar um pouco no maior de todos os romances; ou seja, a vida. Neste, encontraremos um diretor fabuloso; um andarilho ardoroso no qual trouxe uma perspectiva de sentido e destino, lá na Cruz.

Sem hesitar, quando olhamos para a vida, chegamos a conclusão de que há um teor de intricado, de complexidade, de dicotomia e contraditório. Aliás, a vida enlaça a dinâmica de marcas e fatos, ao saltar do muro, ao correr atrás de uma bola no campo de barro, ao rasurar a folho com o estojo de lápis das mais variadas cores, de colocar o dedo nas sobras da massa do bolo de chocolate, de inventar uma indisposição a fim de não a escola, de ficar sem eira nem beira naquela prova de matemática e por ai vai. Nisto, a vida pode ser cotejada a pujança das manadas de búfalos, ao baile melífluo das gaivotas, ao ressoar terapêutico das ondas do mar, ao sorriso alentador de uma criança e etc eres.

Ora, indo a texto de Eclesiastes 03, nos lança a verdade inqüestionável de que a vida não abre mão de ser dialética, mudança e decisória. Não se coaduna a uma proposta de política estática e insólita. A vida pulsa, tem batida, tem ritmo, tem fluxo, abre e fecha, tem rotação e movimento.

Enfim, a vida espelha a sina ou a trajetória de cada ser humano por decidir. Seja para permanecer nos bastidores ou subir no palco e interpretar a mais estonteante das peças; em suma, a vida. Então, o abrotar da flor! As águas apetecíveis no riacho! O canto do sabiá! As nuvens embranquecidas no céu! As estrelas luminosas! O aquentar inestimável do sol! Deveras, o vrs. 02 de Eclesiastes 03 nos remete a insistência desse mestre cuca a não nos privar de uma pitada de mistério, paixão, excitação, êxtase, lúdico, amor e criatividade.

O vs. 03 desnuda as palavras deste andarilho pelos subterrâneos da alma humana, emanando a proposta do sorrir e sonhar - através da regência dos verbos nascer, plantar e amar. Por isso, há o matar, edificar, derrubar, ou seja, não fugir das alterações, das mudanças e dos recomeços. O vers 04 nos leva a importância da decisão e participação na história de cada dia. Os vrs. 12 e 13 exprimem os dons da vida e que esse romance reserva o melhor para a última página. Os meandros do vrs. 15, a vida dança, anda, amadurece, fecha os olhos, abre a porta, fala, ouve, compreende, chora, lança os por quais motivos, recita poesia, conta causos, peleja pelo pão de cada dia, escreve sonhos na laje enchida aos finais de semana, ama, abraça, beija, discorda, trilha pela solidão, busca o silêncio, enfrenta as dores de parto e por ai vai.

Aliás, a vida quando compartilhada e intercambiado por Deus, alcança um sentido e senso maior e mais adocicador e instigante.
São Paulo - SP
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