Palavra do leitor
- 17 de janeiro de 2011
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A chuvarada no Rio, São Paulo e Minas. Ou: "e eu [Deus] com isso?"
Grandes catástrofes naturais são prato cheio para Cristãos. Cheio de problemas e questões mal respondidas! A pergunta que não quer calar: se existe um Deus onisciente, onipotente, onipresente e benevolente, como se explica tanto sofrimento? O nome pomposo disso é teodicéia: diante da tragédia e sofrimento no mundo, como é que fica (a justiça) Deus?
Se você começar a ler esse artigo e pensar naquela resposta estúpida de que o problema é o homem e não Deus, vá plantar seus pés de alface e couve noutro lugar e pare de ler, posto que o assunto aqui não é para os tradicionais ‘cordeirinhos de Jesus’ da intelectualidade rasa como pires do evangelicalismo superficial. Está dispensado também aquele carrossel de citações bíblicas e o tradicional ‘petição de princípio’.
Livro recém publicado pelo historiador inglês Edward Paice, A IRA DE DEUS (editora Record), sobre o terremoto que abalou Lisboa (durou seis dias), Sábado 31 de Novembro de 1755 às 9:40, é um bom começo.
O espaço aqui não permite, mas a mentalidade da Europa à época do terremoto era regida por uma idéia chamada ‘optimismo’. Nada a ver com ‘otimismo’ hoje, como nessa piada.
Conta-se que certo pai ofereceu um presente a cada um dos seus dois filhos: ao primeiro, que era pessimista, ofereceu uma bicicleta; ao ‘optimista’, uma lata cheia de bosta de cavalo. Quando os dois se encontraram quiseram saber dos respectivos presentes. ‘A mim’ ---- revelou o pessimista ---- ‘deu-me uma bicicleta: a minha namorada gosta de andar de bicicleta, acabará um dia destes por cair e pode até morrer; tenho que reforçar a porta da garagem, podem até roubar a bicicleta’. ‘E a você? O que é que meu pai te deu?’ ‘A mim’ ---- respondeu o optimista ---- ‘deu-me um cavalo. Viu ele por aí’?
Voltaire (1694-1778) rasgou o verbo quando soube do terremoto. Publicou seu, POEMA SOBRE O DESASTRE DE LISBOA, cujo subtítulo era: OU O EXAME DO AXIOMA: 'TUDO ESTÁ BEM' [OPTISM]. (aqui). Dava cacetada intelectual no gestor da idéia ‘optimismo’(isto é, ‘tudo está bem’ ou às suas variantes: ‘Deus está no controle’, ‘Ele é bom’, etc.), o alemão Leibniz (1646-1716), que amaciara a contradição entre um ‘bem’ absoluto e o ‘mal’ visível.
Atribui-se a Epicuro (341 a.C.) o seguinte dilema:
Se Deus é onipotente, onisciente e benevolente, então o mal não poderia continuar existindo; se for onipotente e onisciente, então tem conhecimento de todo o mal e poderia acabar com ele: se não o faz então Ele não é bom. Se for onipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom, mas se não o faz, não sabe quanto mal existe e onde está, logo não é onisciente. Se for onisciente e bom, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo, mas isso elimina a possibilidade de ser onipotente, pois se o fosse erradicaria o mal. E se Ele não for onipotente, onisciente e bom, então por que chamá-lo de Deus? (sim, estou familiarizado com as possíveis falácias e paradoxos atribuídos a Epicuro. Adiante!).
Agostinho reduziu o mal a uma ‘aparência’. ‘Nós’, quase o ouço dizer, ‘não podemos, como Deus, enxergar as coisas em suas reais dimensões. Não podemos dizer que alguém sofre injustamente se não conhecemos como Deus, todos os pecados. Tampouco sabemos quais são os planos divinos. O que hoje é mal poderá ser compensado no futuro. Mais a mais, não devemos nos limitar ao plano individual. Deus pensa grande, ocupa-se de toda a Criação e certos sacrifícios são necessários’. Delirou e descarrilou!
O texto de Voltaire é uma crítica ao 'optimismo' de Leibniz: o mundo em que vivemos é o melhor dos mundos possíveis. O Deus criou o melhor de todos.‘Tudo está bem’ (‘optimismo’).
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), aquele que sabia fazer filhos, mas não criá-los, o pai do ‘bom selvagem’, para tirar Deus da reta preferiu atribuí-lo (sofrimento) aos homens. ‘Quem mandou o povo de Teresópolis e adjacências morar em barranco?’ E mais, diria, ‘quantos infelizes pereceram neste desastre, porque quiseram pegar, suas roupas, seu dinheiro? Ou pior, quem mandou ‘votarem no Sérgio Cabral e na Dilma?”
O que todo ‘bom cristão’ quer fazer é encontrar explicações para salvar a pele de Deus, e de preferência, achar os culpados aqui na terra. Outros, mais sofisticados, apelam aos tais ‘insondáveis caminhos de Deus’. Acho tudo isso insuportável.
Também não faço coro com aqueles que fiam totalmente na solidariedade humana, ou que a resposta seja a ciência que tem que dar. Logo aparecerão um bando de abestalhados para dizer que Deus é que é a ‘chave’, até da ciência.
O que eu ‘acho’ de tudo isso? Eu tinha um primo que ‘achava’, a polícia ‘achou’ ele e nós nunca mais o ‘achamos’.
Prefiro a ‘saída’ teológico-diplomático de João Calvino, o indigesto: a gente deve pensar até certo ponto, até aí, que ele chamava ele de limite do pensamento: de ‘piedade’ (não tem nada a ver com o sentido tradicional de ‘piedade’). O que passar disso (‘piedade’), é pura especulação.
Se você começar a ler esse artigo e pensar naquela resposta estúpida de que o problema é o homem e não Deus, vá plantar seus pés de alface e couve noutro lugar e pare de ler, posto que o assunto aqui não é para os tradicionais ‘cordeirinhos de Jesus’ da intelectualidade rasa como pires do evangelicalismo superficial. Está dispensado também aquele carrossel de citações bíblicas e o tradicional ‘petição de princípio’.
Livro recém publicado pelo historiador inglês Edward Paice, A IRA DE DEUS (editora Record), sobre o terremoto que abalou Lisboa (durou seis dias), Sábado 31 de Novembro de 1755 às 9:40, é um bom começo.
O espaço aqui não permite, mas a mentalidade da Europa à época do terremoto era regida por uma idéia chamada ‘optimismo’. Nada a ver com ‘otimismo’ hoje, como nessa piada.
Conta-se que certo pai ofereceu um presente a cada um dos seus dois filhos: ao primeiro, que era pessimista, ofereceu uma bicicleta; ao ‘optimista’, uma lata cheia de bosta de cavalo. Quando os dois se encontraram quiseram saber dos respectivos presentes. ‘A mim’ ---- revelou o pessimista ---- ‘deu-me uma bicicleta: a minha namorada gosta de andar de bicicleta, acabará um dia destes por cair e pode até morrer; tenho que reforçar a porta da garagem, podem até roubar a bicicleta’. ‘E a você? O que é que meu pai te deu?’ ‘A mim’ ---- respondeu o optimista ---- ‘deu-me um cavalo. Viu ele por aí’?
Voltaire (1694-1778) rasgou o verbo quando soube do terremoto. Publicou seu, POEMA SOBRE O DESASTRE DE LISBOA, cujo subtítulo era: OU O EXAME DO AXIOMA: 'TUDO ESTÁ BEM' [OPTISM]. (aqui). Dava cacetada intelectual no gestor da idéia ‘optimismo’(isto é, ‘tudo está bem’ ou às suas variantes: ‘Deus está no controle’, ‘Ele é bom’, etc.), o alemão Leibniz (1646-1716), que amaciara a contradição entre um ‘bem’ absoluto e o ‘mal’ visível.
Atribui-se a Epicuro (341 a.C.) o seguinte dilema:
Se Deus é onipotente, onisciente e benevolente, então o mal não poderia continuar existindo; se for onipotente e onisciente, então tem conhecimento de todo o mal e poderia acabar com ele: se não o faz então Ele não é bom. Se for onipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom, mas se não o faz, não sabe quanto mal existe e onde está, logo não é onisciente. Se for onisciente e bom, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo, mas isso elimina a possibilidade de ser onipotente, pois se o fosse erradicaria o mal. E se Ele não for onipotente, onisciente e bom, então por que chamá-lo de Deus? (sim, estou familiarizado com as possíveis falácias e paradoxos atribuídos a Epicuro. Adiante!).
Agostinho reduziu o mal a uma ‘aparência’. ‘Nós’, quase o ouço dizer, ‘não podemos, como Deus, enxergar as coisas em suas reais dimensões. Não podemos dizer que alguém sofre injustamente se não conhecemos como Deus, todos os pecados. Tampouco sabemos quais são os planos divinos. O que hoje é mal poderá ser compensado no futuro. Mais a mais, não devemos nos limitar ao plano individual. Deus pensa grande, ocupa-se de toda a Criação e certos sacrifícios são necessários’. Delirou e descarrilou!
O texto de Voltaire é uma crítica ao 'optimismo' de Leibniz: o mundo em que vivemos é o melhor dos mundos possíveis. O Deus criou o melhor de todos.‘Tudo está bem’ (‘optimismo’).
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), aquele que sabia fazer filhos, mas não criá-los, o pai do ‘bom selvagem’, para tirar Deus da reta preferiu atribuí-lo (sofrimento) aos homens. ‘Quem mandou o povo de Teresópolis e adjacências morar em barranco?’ E mais, diria, ‘quantos infelizes pereceram neste desastre, porque quiseram pegar, suas roupas, seu dinheiro? Ou pior, quem mandou ‘votarem no Sérgio Cabral e na Dilma?”
O que todo ‘bom cristão’ quer fazer é encontrar explicações para salvar a pele de Deus, e de preferência, achar os culpados aqui na terra. Outros, mais sofisticados, apelam aos tais ‘insondáveis caminhos de Deus’. Acho tudo isso insuportável.
Também não faço coro com aqueles que fiam totalmente na solidariedade humana, ou que a resposta seja a ciência que tem que dar. Logo aparecerão um bando de abestalhados para dizer que Deus é que é a ‘chave’, até da ciência.
O que eu ‘acho’ de tudo isso? Eu tinha um primo que ‘achava’, a polícia ‘achou’ ele e nós nunca mais o ‘achamos’.
Prefiro a ‘saída’ teológico-diplomático de João Calvino, o indigesto: a gente deve pensar até certo ponto, até aí, que ele chamava ele de limite do pensamento: de ‘piedade’ (não tem nada a ver com o sentido tradicional de ‘piedade’). O que passar disso (‘piedade’), é pura especulação.
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