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Palavra do leitor

A carência neurótica afetiva e as redes sociais - Parte 2

Nietzsche escreveu em "Crepúsculo dos deuses" que "aquilo que precisa ser demonstrado não vale grande coisa". O contexto ali seria o interesse do filósofo pelos valores estéticos e beleza acima da "vontade de verdade" (conceitos absolutos). Lembrei-me de um talentoso fotógrafo que conheci décadas atrás. Afirmava ele ter aversão a marketing pessoal. Enquanto diversos colegas e profissionais concorrentes recorriam ao uso de outdoor, books de amostra de trabalhos e cartões de visitas, entendia ele que seu valor e reconhecimento viria por outras vias, por exemplo, indicações de outros clientes satisfeitos e gratos, os quais preconizariam seu nome.

Numa época de reality shows e busca insaciável por sucesso e fama, pessoas se rebaixam a níveis de comportamentos patéticos. Posturas como a do referido fotógrafo causa estranheza e pode ser vista como displicência, presunção e autoconfiança inadequada, pois relegar-se ao anonimato não é uma tendência natural do ser humano - ainda que neste caso aponte tanto para uma qualidade rara como um tolo orgulho inútil. Como disse o personagem Seymour Trotter em diálogo com Ernest Lash no livro "Mentiras no divã" (obra de autoria de Irvin Yalom), fomos socialmente construídos para adorar ser adorado - admitia dr. Seymour ao questionar se o colega Ernest também não gostava dos aplausos quando acabava de dar palestras e ver pessoas, em particular as mulheres, aglomerando-se em volta dele.

Buscar reconhecimento pelo pavoneio leva à contrapartida do desapreço porque o mérito da grandeza moral, intelectual ou artística subsiste pelo julgamento exterior ao indivíduo, confirmado pela memória impressa nas páginas do tempo. Por essa razão pessoas foram canonizadas como santas sem jamais buscarem isso em vida, enquanto déspotas poderosos e amantes de si mesmos foram enterrados e desprezados pela humanidade.

O Deus encarnado, ausentando-se do céu, trocou a honra e glória pela humilhação da cruz. Não quis impressionar ou ser elogiado, mas glorificar Seu Pai celeste. Filho do Homem, reprovou a ambição egoísta e ensinou a grandeza do serviço. Por isso, cristãos podem abdicar do anonimato sem precisar perder o caráter de uma vida discreta.

A metidez causa reprovação com razão e avidez, mas quando apenas as outras pessoas são vistas como megalomaníacas ou narcisistas, acalenta-se uma presunção de superioridade moral sutilmente enganosa, pois somente de alguém mais orgulhoso, pode o orgulhoso receber maior indignação e ira desse alguém pela mesma razão. Para um egoísta, idem. E assim por diante.

Voltando ao assunto das redes sociais, ainda que muito do que se publique seja uma questão de ego, não importa se inflado ou desinflado, tudo seria ego em nós. Se o ego tem suas definições pelo viés freudiano (conceito também herdado de Nietzsche e ressignificado nas Psicologias e Psicanálise), podemos simplificá-lo teologicamente como o "eu" corrompido e fora de sua rota de origem. Por conseguinte, o real viver cristão começaria pelo esvaziamento dele - o ego.

Sabendo que criticar e provocar os outros por suas preferências e perfis de rede beira a estupidez, cada um usando seu espaço nas redes sociais como melhor lhe representa e apraz, faria mais jus à liberdade e bom-senso dentro dos limites toleráveis da licitude. Caberia aos amigos ou inimigos discordantes a contrapartida da reação, que inclui tanto o curtir e ignorar, quanto o bloquear, excluir ou deixar de seguir.

Não obstante, diria ao garoto do nosso texto, que não se afligisse com a ausência de curtidas nem se superestimasse com a abundância delas. Ainda que pareça simbolizar aplauso, curtida é apenas curtida, cujo deslumbramento e devaneio ameaçam o próprio tino.

A consciência de que muita gente adicionada ao seu Facebook nunca curtirá nada, nem comentará nem compartilhará nem dirá nunca um bom dia ou feliz aniversário, é um bom caminho para a maturidade e antídoto contra possíveis neuras, pois é no agigantado mar de novidades, banalidades e no azáfama das informações e seletividades que a timeline tende a ser rapidamente olhada. Com ar de admiração velada ou desdém, desprezo e incômodo, adicionados podem ignorar, refletir, rir, gargalhar, fazer beicinho, franzir a testa e torcer o nariz, mas também por essas reações a publicação poderá ter cumprido a sua finalidade. A menos que o outro exista para satisfazer suas necessidades sensíveis, poderás manter-se amigável e até curtir posts da outra pessoa, independentemente da recíproca.

A dependência de likes, curtidas, seguidores e etc., como critério de medida para autoestima (termo risível para alguns filósofos), além de ser um misto de meia-furada com histeria, conduz o indivíduo para um estado de mendicância da "afetividade social", tornando-o cada vez mais um frenético mímico, incansável e insaciável em suas coreografias e trejeitos comportamentais em busca de mimos e aprovação.

Que publicar o que quiseres seja uma opção. E que a curtida alheia não precise ser necessidade.
Alagoinhas - BA
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