Palavra do leitor
- 27 de março de 2023
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A Bíblia e os impostos
"Pois bem, meu pai lhes impôs um jugo pesado; eu o tornarei ainda mais pesado. Meu pai os castigou com simples chicotes; eu os castigarei com chicotes pontiagudos" (1 Reis 12:11) - resposta de Roboão, filho de Salomão, àqueles que lhe solicitaram um alívio da carga tributária.
Ao contrário do que alguns pensam, a Bíblia trata de temas como o dinheiro, riquezas e impostos. Não que haja uma espiritualidade nesses assuntos em si mesmos, mas sim com a maneira de como lidamos com eles.
O profeta Samuel, comissionado por Deus para pregar no tempo de transição entre a Confederação Tribal e a Monarquia Unida, e antes de Saul ser ungido como primeiro rei de Israel, advertira o povo quanto aos ônus de aderir a monarquia nos moldes das outras nações circunvizinhas.
Dentre as consequências dessa escolha, Samuel elenca as seguintes (1 Sm.8): 1. Alistamento dos jovens para o campo de batalha (v.11); 2. Os camponeses trabalharão para sustentar os soldados (v.12a); 3. Os artesãos confeccionaram armas para a guerra (v.12b); 4. As jovens estarão servindo na corte como perfumistas, cozinheiras e padeiras (v.13). 5. Tributação sobre a propriedade privada, sobre a agricultura e a pecuária (v.14-17). Mesmo com todas essas exigências, o povo preferiu ter um rei, o que Deus permitiu.
Se no tempo de Saul, quando a Monarquia estava dando os seus primeiros passos e ainda não tinha tanta pompa assim, já se falava de sobrecarga de impostos, imaginem no Reino davídico-salomônico quando a máquina administrativa estatal era muito mais complexa com exército profissional, a construção do templo, o clero e a corte palaciana financiados pelo Estado de Israel. Obviamente, tudo isso tinha um custo que, com o passar dos anos, tornava-se cada vez mais oneroso para o povo comum, que efetivamente pagava a conta.
O filho de Salomão, Roboão, que governou depois dele, ao ouvir o conselho dos mais jovens e não dos anciãos, teve como primeiro ato de sua administração pública o aumento de impostos, o que ocasionou uma revolta da população, encabeçada pelo líder dos operários chamado Jeroboão I. Ele foi, posteriormente, aquele que criou, em torno de si, um movimento separatista que deu origem ao Reino do Norte.
O Reino Sul (Judá) e o Reino do Norte (Israel) foram tributários, durante anos, as superpotências mundiais como os assírios, os babilônicos, os persas, os gregos e os romanos, que surgiram no cenário internacional, o que acarretou, internamente, várias crises econômicas, sociais, políticas e religiosas.
O Império Romano foi o mais gigantesco desses impérios. Com um exército de, aproximadamente, 600 mil homens, construções sendo executadas (cidades, pontes, estradas, teatros e estádios) na capital e nas províncias, uma máquina político-administrativa com senadores, cônsules, questores, censores e governadores, o custo de manutenção dessa Senhora do Mediterrâneo era enorme, trazendo aos povos subjugados onerosa carga tributária.
Para tanto, eram contratados, dentre os nativos, cobradores de impostos, conhecidos como publicanos, sendo dois deles mencionados pelo nome no Novo Testamento (Mateus e Zaqueu). Esta profissão era execrada pelos judeus, pois além de serem considerados traidores da nação, eram tidos como corruptos. Eles eram culpados de enriquecimento ilícito, colocando-os em pé de igualdade com os pecadores públicos.
Percebam que, quanto mais se agiganta o Estado, mais impostos são cobrados e nem sempre temos uma contrapartida em serviços e bens estatais para benefício da população em geral. O pior ainda é que o Estado pode se tornar um espaço ideal para falcatruas, propinas e corrupções as mais diversas.
Jesus foi colocado no olho do furacão da polêmica entre sonegadores e contribuintes de impostos, sendo-lhe apresentado uma moeda contendo a imagem de César e, aproveitando a oportunidade, fizeram-lhe a seguinte indagação: "É lícito ou não pagar imposto a César". Jesus retruca com uma outra pergunta: "De quem é esta inscrição?". E eles responderam: "César". Jesus, então, conclui com a famosa frase: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
Com esta resposta, Jesus legitima a atuação do Estado e a obrigação tributária do cidadão, mas impõe um limite: os governantes não são deuses e o Deus verdadeiro tem autoridade universal sobre todos os governantes e todas as nações, aplicando juízos sobre eles, quando verificados os abusos de poder, inclusive na questão fiscal. Afinal de contas, devemos "dar a Deus o que de Deus". Na realidade, tudo é dele, e a Ele prestaremos contas, sejam os cidadãos comuns ou os governantes.
Por Isaac Vieira de Araújo.
Ao contrário do que alguns pensam, a Bíblia trata de temas como o dinheiro, riquezas e impostos. Não que haja uma espiritualidade nesses assuntos em si mesmos, mas sim com a maneira de como lidamos com eles.
O profeta Samuel, comissionado por Deus para pregar no tempo de transição entre a Confederação Tribal e a Monarquia Unida, e antes de Saul ser ungido como primeiro rei de Israel, advertira o povo quanto aos ônus de aderir a monarquia nos moldes das outras nações circunvizinhas.
Dentre as consequências dessa escolha, Samuel elenca as seguintes (1 Sm.8): 1. Alistamento dos jovens para o campo de batalha (v.11); 2. Os camponeses trabalharão para sustentar os soldados (v.12a); 3. Os artesãos confeccionaram armas para a guerra (v.12b); 4. As jovens estarão servindo na corte como perfumistas, cozinheiras e padeiras (v.13). 5. Tributação sobre a propriedade privada, sobre a agricultura e a pecuária (v.14-17). Mesmo com todas essas exigências, o povo preferiu ter um rei, o que Deus permitiu.
Se no tempo de Saul, quando a Monarquia estava dando os seus primeiros passos e ainda não tinha tanta pompa assim, já se falava de sobrecarga de impostos, imaginem no Reino davídico-salomônico quando a máquina administrativa estatal era muito mais complexa com exército profissional, a construção do templo, o clero e a corte palaciana financiados pelo Estado de Israel. Obviamente, tudo isso tinha um custo que, com o passar dos anos, tornava-se cada vez mais oneroso para o povo comum, que efetivamente pagava a conta.
O filho de Salomão, Roboão, que governou depois dele, ao ouvir o conselho dos mais jovens e não dos anciãos, teve como primeiro ato de sua administração pública o aumento de impostos, o que ocasionou uma revolta da população, encabeçada pelo líder dos operários chamado Jeroboão I. Ele foi, posteriormente, aquele que criou, em torno de si, um movimento separatista que deu origem ao Reino do Norte.
O Reino Sul (Judá) e o Reino do Norte (Israel) foram tributários, durante anos, as superpotências mundiais como os assírios, os babilônicos, os persas, os gregos e os romanos, que surgiram no cenário internacional, o que acarretou, internamente, várias crises econômicas, sociais, políticas e religiosas.
O Império Romano foi o mais gigantesco desses impérios. Com um exército de, aproximadamente, 600 mil homens, construções sendo executadas (cidades, pontes, estradas, teatros e estádios) na capital e nas províncias, uma máquina político-administrativa com senadores, cônsules, questores, censores e governadores, o custo de manutenção dessa Senhora do Mediterrâneo era enorme, trazendo aos povos subjugados onerosa carga tributária.
Para tanto, eram contratados, dentre os nativos, cobradores de impostos, conhecidos como publicanos, sendo dois deles mencionados pelo nome no Novo Testamento (Mateus e Zaqueu). Esta profissão era execrada pelos judeus, pois além de serem considerados traidores da nação, eram tidos como corruptos. Eles eram culpados de enriquecimento ilícito, colocando-os em pé de igualdade com os pecadores públicos.
Percebam que, quanto mais se agiganta o Estado, mais impostos são cobrados e nem sempre temos uma contrapartida em serviços e bens estatais para benefício da população em geral. O pior ainda é que o Estado pode se tornar um espaço ideal para falcatruas, propinas e corrupções as mais diversas.
Jesus foi colocado no olho do furacão da polêmica entre sonegadores e contribuintes de impostos, sendo-lhe apresentado uma moeda contendo a imagem de César e, aproveitando a oportunidade, fizeram-lhe a seguinte indagação: "É lícito ou não pagar imposto a César". Jesus retruca com uma outra pergunta: "De quem é esta inscrição?". E eles responderam: "César". Jesus, então, conclui com a famosa frase: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
Com esta resposta, Jesus legitima a atuação do Estado e a obrigação tributária do cidadão, mas impõe um limite: os governantes não são deuses e o Deus verdadeiro tem autoridade universal sobre todos os governantes e todas as nações, aplicando juízos sobre eles, quando verificados os abusos de poder, inclusive na questão fiscal. Afinal de contas, devemos "dar a Deus o que de Deus". Na realidade, tudo é dele, e a Ele prestaremos contas, sejam os cidadãos comuns ou os governantes.
Por Isaac Vieira de Araújo.
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