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Palavra do leitor

A beatificação de João Paulo II, o milagre protestante e a produção de santos

Tendo Faraó logo ao seu encalce, à frente o Mar Vermelho e ao lado as montanhas, com a vara Moisés tocou o mar e esse se abriu. A viúva foi até Elizeu em vez de consultar os búzios ou levantar dinheiro com agiota e resolveu a questão. Lázaro morreu e mesmo em processo de decomposição saiu inteiro.

Milagre! Há aos borbotões. E para todos os tipos e gostos.

Começou hoje o processo de beatificação de João Paulo II. O mais querido dos Papas.
O caixão contendo seus restos mortais foi exumado da cripta, em baixo da Basílica, e depois da cerimônia será sepultado próximo ao sepulcro do apóstolo Pedro. O caixão ficará exposto durante a cerimônia de beatificação nesse domingo último.

Presente à cerimônia o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, que esteve em Roma por ocasião da morte de Paulo II, e a despeito de proibido de pisar na Europa por conta da enormidade de abusos (tortura, assassinato) praticados em seu país com a maior inflação do mundo.

Beatificação é processo pelo qual se declara uma pessoa ‘beata’ (abençoada). Um dos passos iniciais para chegar ao estado último de ‘santidade’ e ser declarado como tal, ‘santo’.

O Vaticano credita ao Papa pela sua intervenção junto a Deus para que curasse a freira Marie Simon-Pierre Normand, 49 anos, que depois de orar a noite toda foi milagrosamente curada do mal de Parkinson, a mesma doença de João Paulo II.

Para alcançar a canonização é preciso de mais um milagre, muito embora haja dúvidas sobre a cura. Segundo um jornal polonês, o médico que examinou o caso da freira acha que a doença dela é outra, similar a Parkinson, mas de natureza nervosa. Há indícios de que ela teve uma recaída recentemente.

O que é milagre?

Milagre é, para início de conversa, a suspensão de uma causa natural e a intervenção de outra, supranatural.

Mar não abre. Mas com a intervenção ‘extra’ sobre o natural, diz o texto bíblico: o mar abriu-se e o povo passou.

Certa viúva teria seus filhos vendidos para pagar um empréstimo. Tudo que ela tinha era um pouco de azeite. O profeta ordenou a ela que coletasse o máximo de jarras e tantos quantos ela trouxe se encheriam. Dito e feito. Eliseu então mandou que ela vendesse e pagasse a dívida.

Lázaro morre e como todo morto, entra em estado de putrefação. É natural. Jesus intervém e o processo é interrompido.

O que é se faz com um milagre? Não estou interessado. Meu interesse é em que consiste milagre.

Há dúvidas sobre a cura da freira. Mas não importa. Um milagre, segundo o Vaticano, resulta da intercessão de uma pessoa ao candidato que por sua vez intercederá diante de Deus em favor do peticionário.

Para os examinadores do caso da freira foi isso que ocorreu de maneira clara e evidente com a conseqüente violação das leis naturais, resultando na cura, graças à intercessão de João Paulo II diante do Pai.

Uma equipe atestou que na ausência de evidências médicas seria impossível uma pessoa ser curada de Parkinson. Logo, é declarou-se a ocorrência de um milagre.

Segue o processo de beatificação em direção à canonização.

Ocorreu o que a meu ver não passa de ‘raciocínio circular’ (AQUI). Se você é evangélico, e o autor discordaria de mim, o artigo vai ajudá-lo a não afundar-se em dúvidas.

Os mais espertos perceberão, todavia, que o artigo tem um defeito de lógica embutido.
Colhi na internet alguns exemplos de ‘raciocínio circular’:

“Por que a Bíblia é a Palavra de Deus? Ora, porque ela foi inspirada pelo próprio Criador.”

“A Bíblia é perfeita porque é a Palavra de Deus. E como sabemos que ela é a Palavra de Deus? Pela sua perfeição.”

ATENÇÃO. Os exemplos não são para desacreditar a bíblia, mas o descrédito do argumento.

A equipe que trabalha na beatificação parece ter incorrido no exemplo clássico do post hoc ergo proter hoc: porque o evento B aconteceu depois do evento A, poder-se-ia afirmar que A é a causa de B? (que falta faz um David Hume).

‘Causas’ precedem os ‘efeitos’, mas não se segue que tudo o que precede um ‘efeito’ deve ser contado como entre as suas ‘causas’.

Quando João Paulo II morreu a multidão gritava “Santo Subito!”, quer dizer, “beatificação já!”.

Bastou um ‘milagre’ (logo outro será fabricado) e a coisa vira certeza matemática.

Duas observações, para início de conversa. Primeiro, se um fenômeno não tem explicação --- mesmo admitindo que todas as autoridades médicas dissessem que não existe explicação possível para o caso da freira --- isso não prova milagre algum, apenas ignorância ou ausência de evidências.

Segundo, a dita freira orou e o milagre aconteceu. Qual a relação de ‘causa e efeito’? Nenhuma!

E os Protestantes com isso?

Perguntem aos televisivos conhecidos das ‘igrejas fast-food’ e você descobrirá que os tradicionais Protestantes continuam repetindo a mantra medieval para milagre e os modernos Protestantes na TV faturando alto com milagres.

Sim, dinheiro dá em árvore!
P - RN
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