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Palavra do leitor

A arte de chutar côco

"São semelhantes aos meninos que,
Sentados nas praças,
Gritam uns para os outros:
Tocamos flauta, e não dançastes;
Cantamos lamentações,
E não chorastes." (Lucas 7:32).

Pense num jogo bruto! Se queres alimento para sua massa cinzenta, vá de Nelson Mandela em INVICTUS.

No futebol se joga chutando a bola para qualquer lado, especialmente à frente. No rúgbi só se pode passar a bola para os jogadores na lateral e para trás, e sempre com as mãos. Rumo ao gol passa-se a bola para trás! Não é a bola que leva o time, mas o time que leva a bola.

O rúgbi não é tão violento como o futebol. O rúgbi parece um bando de tratores de esteira enfrentando uns aos outros. São brutamontes atirando-se uns sobre os outros, puxando, derrubando. É difícil imaginar alguém saindo inteiro, senão todo quebrado. Ledo engano!

As brigas parecem coisa de batalha campal, mas não é. O futebol americano usa capacete, luvas, grades protetoras e o escambal. No rúgbi, nada de proteção!

No filme INVICTUS, assiste-se o jogo de rúgbi e quando esse começa imagina-se que ocorrerão mortes. Para minha surpresa ninguém estapeou ninguém. Puxou-se a camisa, peitou-se, empurrou-se, mas a tradicional pauleira, não.

No futebol nosso tem tudo isso e mais: tapas, socos e pontapés; pedradas e pauladas. Se uma partida de rúgbi precisar de um traumatologista, no futebol é caso de polícia.

O rúgbi é o esporte nacional na África do Sul, terra de Nelson Mandela.

Mandela foi advogado, ex-presidente lá, lutou contra o apartheid e amargou quase trinta anos de cadeia. Recebeu o Nobel da Paz junto com De Klerk, presidente branco no período do apartheid.

Imagina o leitor, um negro, ex-presidiário, num mar de negros pobres, cercado por uma minoria branca rica montada sobre uma economia forte, controlando a política e as forças armadas!

Seria como ‘chutar côco’ em vez de bola de couro.

Pois é o que Mandela quer: ‘chutar côco’ e não bola feita de couro, pano, bucho de animal, qualquer coisa redonda que se pusesse não os pés, mas as mãos rumo ao gol.

Nos tempos de Saddam Hussein no Iraque, um de seus filhos mandava os jogadores da seleção nacional do Iraque chutar uma bola de concreto, cimento mesmo, quando o time perdia uma partida internacional. Já pensou? E ai daquele que não chutasse para valer a bola de concreto!

Aqui em minha casa tem um pé de côco. Enquanto escrevo olho o côco e imagino uma partida com 22 homens chutando aquilo. Não dá! Mas no rúgbi dá.

No rúgbi usasse as mãos, enfiasse o côco debaixo do braço, derruba-se todos que ousarem postar à frente do jogador, todos com mais de 100 quilos de musculatura. Mas nada de ‘chutar o côco’ ou concreto.

É o esporte onde se usa as mãos e a cabeça e não da ginga, o drible.

Força bruta bem pensada e trabalhada em cima de uma estratégia de equipe e com uma idéia simples na cabeça. Se “o futebol é um esporte inventado por cavalheiros, mas praticado por hooligans; o rúgbi é um esporte inventado por hooligans e praticado por cavalheiros”. Disse tudo, um dos seguranças negros de Mandela no filme!

Nelson Mandela resolveu usar o rúgbi para promover a reconciliação de uma nação ferida pelo apartheid pronta para se atracarem-se com violência até a morte.

No exemplo de Lucas 7:32 Jesus conta uma brincadeira de crianças para falar de João Batista e dele mesmo.

Não estavam nem aí. Além de não brincarem não queriam superar diferenças entre si: a reconciliação e o perdão. Se no filme a questão é o futuro das pessoas da África do Sul, aqui a meninada é um bando de enfastiados. Dane-se, dirão!

Se lá o país caminhava mesmo para guerra civil, aqui nem brincando entendiam bulhufas.

À época perguntava se Mandela ganhando a eleição seria capaz de governar o país! Aqui ninguém quer saber de João Batista e muito menos Dele. Tem coisa mais irritante do que menino birrento?

Se a solução se apresentava ao presidente atrás do símbolo nacional dos brancos, o rúgbi, capaz de juntar ricos e pobres, negros e brancos na busca de uma identidade nacional, aqui a turma de meninos nas praças não querem nada com nada.

O diretor do filme, Clint Eastwood, trás ao telespectador isso: a possibilidade da reconciliação entre opostos. No caso, brancos e negros. Uma coisa tão complicada quanto ‘chutar côco’.

Em Lucas não tem flauta nem dança que junta para uma ‘pelada’ ou uma brincadeira.

Olhando para o pé de côco daqui do meu escritório, eu imagino que dá para ‘chutar côco’ com arte, sim. Afinal, o rúgbi usa as mãos.

Um dos problemas centrais do Cristianismo, mormente no evangelicalismo brasileiro, é que ele quer começar com a felicidade, as delícias. Primeiro o Céu e o perdão, depois o sacrifício. Primeiro os juros por antecipação.

O evangélico quer primeiro a felicidade (cura, etc.). Pensa em boniteza, beleza e estética (gelo seco, palco, ribalta e luzes).

Lembrei-me de uma frase de Guimarães Rosa, “o sapo não pula por boniteza, mas por precisão”. Tem muito evangélico pulando errado. Igual meninos na praça...
P - RN
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