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Palavra do leitor

500 Anos de Reforma Protestante, mas o que protestamos?

‘’O evangelho apregoado por e em Cristo não nos oferece um calhamaço de faço isso, aquilo e acolá, mas sim nos leva a uma decisão por confiar ou não, sem nenhuma incidência de nos infundir em culpa e condenação. ’’


A Reforma Protestante completará, em 30 de Outubro de 2017, quinhentos anos, como uma referência e um mover transformador na história, a partir do cenário da Europa, com efeitos na humanidade.

Por mais que muitos relutem, há uma série de aspectos contribuidores para o eclodir dos reformadores; agora, em resumidas abordagens, a partir de uma leitura da trajetória de Martinho Lutero e João Calvino, chega – se ao coração – útero de toda a dinâmica desse processo, ao qual abraçou o direito e o dever de cada ser humano, aqui, cada cristão, de estabelecer uma decisão por submergir ao Cristo da Graça, como trouxe de volta a confirmação de sermos livres para viver e conviver em liberdade e respeito, com relação a nós mesmos, ao próximo e a vida, em toda sua extensão e profundidade.

Nessa linha, suscetível a ser uma esfarrapada ponderação, de raciocínio, somos levados a responsabilidade, ao chamado por responder, em função de, como seres de narrativas históricas, escrever sobre os atos e as práticas de nossas escolhas, tanto no que se refere ao meu ser quanto como ao semelhante. Afinal de contas, não somos seres abstratos, mas sim de vínculos afetivos, de imaginação, de diálogo e reciprocidade. Vou adiante, a reforma destrona toda uma engrenagem do poder absoluto do clero, da fé vazia e atordoante, de uma linguagem alienígena, porque as missas eram realizadas em latim, enquanto o povo permanecia distante, imóvel, incompreensível, ou seja, seguiam um Deus, ao qual aplicava uma espécie de vida teleológica, em outras palavras, se pobre, pobre; se nobre, nobre; se predestinado a ser sacerdote, sacerdote; se maldito, maldito.

Eis o eco estridente de Martinho Lutero, em função de dizer não, não a um evangelho sem o toque de gente, as mãos de gente, o inclinar de gente. Não por menos, extraímos, então, o direito e dever por decidirmos confiar ou não na Graça, em respeito e responsabilidade pela vida e estribados na palavra, como critério orientador e não uma lei a não ser ruminada e contextualizada. Atentemos, o espertar da reforma despertou um retorno a palavra expositiva e reflexiva, segundo a ótica do Espírito Santo, como nascente de inspiração e criação. A partir dessas descrições superficiais ao tema, deveríamos sobre o que protestamos, em pleno Século XXI, diga – se de passagem, embriagado pelo culto ao sucesso, pela veneração do individualismo, do sucesso como regra de outro, de uma ética líquida, fluida, rasa, das vontades e dos impulsos?

Sem hesitar, protestamos, em nossos sermões, nossos cânticos, nossos discursos, nossos testemunhos, nossas missões, nossos encontros dominicais, sobre a importância do evangelho sensível a todas as tribos (as tribos dos tatuados, as tribos dos adeptos da cultura do gênero, as tribos dos marginalizados, as tribos dos aversivos ao evangelho, as tribos dos homossexuais, as tribos dos divorciados, as tribos dos desesperançados, as tribos dos relativistas, as tribos dos sem teto, sem emoções, sem lágrimas, sem um aperto de mão, as tribos de pessoas que vivem por viver e mais nada).

Então, protestamos, por meio das redes sociais, com lucidez e perspicácia, diante do declínio de parâmetros e fundamentos éticos, sem descambar em moralismos toscos e estúpidos? Faz – se observar, protestamos contra lideranças megalomaníacas, contra um evangelho esfarelado, esgarçado, espatifado por miríades de crendices anômalas?

Sinceramente, quinhentos anos, tem me levado a rever, a reler, a atentar o quanto se torna relevante a questão da vida em comunidade, dentro de uma dimensão histórica que nos aponta para novas histórias, através da Graça do Cristo Ressurreto, do Deus ser humano Jesus Cristo, com o propósito de perceber sobre nossa condição de exercer o direito e o dever, o respeito e a responsabilidade, atentar e observar a palavra iluminada pela inspiração e criatividade do Espírito Santo. Além do mais, quinhentos anos para desembocar, em abundância de esperança e alegria, em uma comunhão de gente não perfeita, ainda bem, e, independentemente disso, abertos as imensuráveis oportunidades para se reinventar.
São Paulo - SP
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