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Palavra do leitor

O post no status de um amigo perguntava o que é felicidade. Indagação risível para uns e instigação relevante para muitos, de Epicuro a Kant, Kierkegaard e outros tantos, tal inquirição e tema segue atual.

Desde datas de aniversário em nossa tenra idade, recebemos de amigos ou familiares os "votos de felicidades", que se repetem quando nos formamos, casamos ou temos algum êxito na vida. Assim, ainda cedo a felicidade passa a ser um alvo, desejo ou necessidade de constante realidade.

O psiquiatra austríaco Viktor Frankl dizia aos seus alunos que ninguém deveria perseguir o sucesso ou felicidade, mas deixar acontecer naturalmente. Sendo prova viva dessa afirmação, antes de criar a Logoterapia e tornar-se personalidade célebre no século 20, Dr. Frankl foi um dos prisioneiros sobreviventes dos horrores nos campos de concentração nazista (perdendo esposa e parte da família]), mas ressignificou seu sofrimento com sua obra escrita e vida notável em benefício de outros.

Associada não poucas vezes a estado durável de plenitude, estabilidade emocional, sucesso pessoal ou ausência de infortúnios, a definição de felicidade já foi aliada aos ideais de realização, prazer e bem-estar.

A ideia de bem-estar indica sensação de satisfação, mas esta costuma derivar da disposição resoluta do indivíduo para consolidar o objetivo de seus esforços pelo foco ou empenho – realização.

Embora o prazer tenha certa relação com a felicidade, não é dela sinônimo por si só. Na verdade, o prazer antecedente pode levar ao sofrimento consequente, algo recorrente no hedonismo.

A concepção de felicidade envolvendo a dimensão de passado, presente e futuro, abrange lembranças felizes, saudades de raros momentos, a valorização de cada oportunidade aproveitada e um viver diário de modo a contribuir para um amanhã satisfatório .

Todavia, a ideia de felicidade atrelada ao "antes, durante e depois" não evita equívocos. Assim como inúteis tentativas de se reviver um feliz passado longíquo pode alcançar somente a melancolia e delírio, o subterfúgio na imersão do prazer imediato (como fuga da realidade) traduz uma alegria autoenganosa - modismo da filosofia "Carpe Diem".

A Bíblia ensina a aproveitar sabiamente as oportunidades visando bons fins (Gl 6:10; Ef 5:15,16); mas a mentalidade do "comamos e bebamos porque amanhã morreremos" encena a alegria e esperança dos que resumem a vida à mero divertimento ou esbórnia. Dessa forma, pretendendo curtir a vida, não poucos acabam por encurtá-la.

A felicidade idealizada no depois (futuro ideal ou imaginário) indica uma linha no horizonte da doce utopia, mas refém de fantasias e resoluções que fogem ao controle humano, ancora na dependência ilusória de um momento distante ou futuro inatingível.

Ao contrário dos valores preconizados como felicidade em nosso tempo (fama, sucesso, prazer hedônico e ausência de problemas), as Escrituras não endossam tais devaneios (Jo 16:33), embora assegure promessas de bênçãos, salvação e paz interior a todos que seguem a Jesus (2Co 9; 1Jo 5:18-20; Jo 14:27).

Paulo e Silas quando presos injustamente e açoitados por amor a Cristo, mesmo lançados no cárcere interior (lugar horripilante com possíveis fezes, ratos, escorpiões) louvaram ousada e destemidamente ao Deus Criador (At 16). Seria isso possível se fossem infelizes?

O autor da trilogia poética bíblica de Provérbios, Cantares e Eclesiastes expressa neste último livro um misto de tédio, pessimismo, depressão e mau humor. Se o livro de Cantares traz os versos de um homem apaixonado por uma mulher, em Provérbios revela-se alguém numa fase de ponderação da sabedoria prática, moral e espiritual. Em Eclesiastes, porém, um ancião depressivo, relata suas desilusões (riqueza, poder, conhecimento, mulheres) ao reconhecer que tudo não passou de vapor, vaidade, efemeridade.

A Bíblia apresenta o termo "Bendito" e "Bem-aventurado" no sentido de feliz (Asher em hebraico e makárioi em grego). Nesse contexto, feliz é quem teme a Deus e medita nos Seus ensinamentos, guarda no coração Suas palavras e as pratica (Sl 1); bem-aventurados os que nele esperam e se refugiam (Mt 5).

As Escrituras revelam o auge da felicidade na bendita esperança (2:13) diferindo-a plenamente da mera expectativa, otimismo ou ilusão, pois como já foi escrita e descrita parcialmente de maneira sublime (Ap 21), "não se trata apenas de uma esperança maior, mas a maior de todas as esperanças". Contudo, essa felicidade começa aqui.

Neura por felicidade leva a tristeza e fracasso, mas a Bíblia mostra que a graça do Senhor é mais que suficiente para os inquietos e ansiosos (2Co 12:9-11). Desse modo, ao contrário do filósofo que entendia a regra da vida como dor e sofrimento e felicidade mera exceção (Schopenhauer) ou dos versos da canção de Tom Jobim ("Tristeza não tem fim, felicidade sim"), sem ignorar as mazelas de um mundo que jaz no Maligno (1Jo 5:19), podemos enxergar a felicidade real e completa como infinita na pessoa divina e eterna de Cristo Jesus.
Alagoinhas - BA
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