Por Marlon Teixeira

807952_post_it_1As duas letras unidas que formam o título deste texto dizem respeito ao maior homicida da espiritualidade que habita em cada um de nós. O “eu” de mim mesmo é quem sempre me impediu de compreender a ironia do Evangelho, ou seja, o discurso de que devo viver em favor dos outros, conforme a mente alheia, me importando, sobretudo, com as convicções dos “eus” que estão fora de mim.

“Testemunho” é uma palavra banalizada. Não se trata apenas de compartilhamento de experiências espirituais. Testemunho, na verdade, é um sacrifício do cristão quando pode agir de forma lícita em alguma ocasião, mas não procede, pela consciência de que sua ação pode se tornar um escândalo aos olhos de quem a presenciar. Não foi por outro motivo que Paulo, artesão de vidas e tendas, disse: “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” [1Co 10.23].

Jesus veio e substituiu o “pode” e o “não pode” pelo “depende”. Ele não trouxe uma nova lei fria, e sim concedeu a todos os cristãos algo que os judeus nunca desfrutaram: o direito de avaliação racional e espiritual para definir o próprio comportamento em situações simples ou complexas. Por isso, toda ação pública de um cristão precisa ser balanceada junto a conceitos culturais, sociais, morais e religiosos de um determinado lugar, durante determinado tempo.

Essa é a ética do Reino: julgar todas as coisas, reter o que é bom e privar o outro de confusão ideológica.A maior prova do amor ao próximo consiste nesta abstinência. Deixar de ingerir álcool, de fazer tatuagem, de ir a algumas festas, de usar certas roupas, de ouvir determinadas músicas, são atitudes maduras de alguém que avalia o seu contexto e o texto sagrado. Porém, infelizmente, ainda existe uma enorme quantidade de cristãos contaminados pelo que chamamos de “lairribeirismo”, que diz: “o que as pessoas pensam sobre você não é problema seu, é problema delas” (Lair Ribeiro).

O individualismo prático consolida o egoísmo e nos torna participantes de direitos que não existem, como o de viver sem se importar e o de se importar sem se abster. Você deve prestar contas a quem tem a mente fraca. Você deve acolher o legalista e o liberal com sabedoria, sem culpá-los pelo extremismo. Já dizia o velho Batman, o zelote de Gotham: “Não é quem eu sou por dentro, mas sim o que eu faço, é que me define.” Definitivamente, você é o que as pessoas dizem por aí.

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Marlon Teixeira, 20 anos, é de Ipatinga, MG.

  1. Muito bom.Tem uma parte que vc fala assim: “o que as pessoas pensam sobre você não é problema seu, é problema delas”, mas infelizmente as pessoas deixam de ser elas mesma preocupadas com o que os outros vão pensar.

  2. Muita calma nesta hora… Entendo e concordo, quanto a respeitarmos os fracos na fé. Entretanto, tem muita gente “forte” na fé que usa esse argumento para restringir o comportamento de outros cristãos. Jesus deixou claro como é dificil agradar os homens:
    Porquanto veio João, o Batista, não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio; veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores.
    Lucas 7:33-34

  3. Será mesmo, e se o falante for um lesado, despeitado, … ?
    Se fosse assim, o que seria dos pastores, que as pessoas as vezes falam misérias deles, sem nem entender ou ter noção dos encargos da funçaõ.

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