Bonhoeffer, avivamento e idealismo: testemunho e chamado
Por Maurício Avoletta Jr.
Desde que me casei e mudei para Belo Horizonte – cidade natal da minha esposa –, tenho servido como um dos líderes do ministério de jovens e adolescentes da Igreja Batista da Lagoinha Mineirão – o ministério One Way.
Minha intenção com este texto é falar sobre uma das séries de pregações sobre avivamento e o impacto que alguns avivalistas causaram em suas respectivas épocas oferecidas a esses jovens e adolescentes. Não falamos sobre Azusa ou sobre os moravianos. Focamos em avivalistas menos comentados e que alguns nem consideram avivalistas, como Abraham Kuyper, João Calvino, Dietrich Bonhoeffer e Martin Luther King Jr.
O propósito dessa série de pregações foi mostrar quatros coisas extremamente importantes: 1) que o avivamento não depende de nós, mas de Deus; 2) que ele não se limita a experiências espirituais extraordinárias; 3) que ele traz arrependimento e conversão genuínos; 4) que nossa fé se torna infrutífera se não tiver um impacto prático no dia-a-dia das pessoas que estão ao nosso redor.
Fiquei encarregado de falar sobre Dietrich Bonhoeffer, o que se mostrou uma honra e um desafio. Bonhoeffer não é o tipo convencional de avivalista. Ele foi assassinado em um campo de concentração e não experimentou nenhum avivamento como o dos irmãos moravianos, por exemplo. Sei que ele não foi convencional, mas defendo o título de avivalista para o teólogo alemão por alguns motivos: 1) ele mostrou que a ação de Deus não depende de homem algum, senão do próprio Deus; 2) ele falou sobre experiências espirituais e as vivenciou em comunidade, mas sua ênfase nunca foi nelas e sim na comunhão dos santos; 3) ele falou sobre o verdadeiro arrependimento que há quando somos encontrados pela verdadeira graça e sabemos que houveram muitos arrependimentos ao seu redor; 4) por fim, ele testificou sua fé com suas obras e isso permanece impactando a vida de muitas pessoas, como a minha, por exemplo. Particularmente, não consigo pensar em Bonhoeffer sem pensar no versículo 13 do capítulo 15 do evangelho segundo São João: ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.
Essa série de pregações, inicialmente, tinha o intuito de fazer com que aqueles que fossem aos cultos repensassem a própria fé e analisassem seus corações: “será que minha fé tem sido avivada o suficiente para servir o meu próximo?”. Sei que alguns fizeram essa pergunta para si mesmos, mas foi apenas quando eu me peguei pensando sobre isso, é que a ficha caiu: aquelas pregações – principalmente a do Bonhoeffer – não foram para o One Way, foram para mim! Quando me dei conta, uma chama ascendeu dentro no meu peito. Não aquela chama típica do início dos avivamentos, mas um chama idealista.
Sim, meu idealismo está mais vivo do que nunca!
A Igreja é, como muitos dizem, uma sociedade espelho: ela reflete parcialmente como será a vida dos cidadãos da Nova Jerusalém. Essa sociedade espelho é regida pelo que meu querido Chesterton chamou de eterna revolução. A eterna revolução que busca subverter os valores de um mundo secular é o que faz com que meu idealismo não morra. Estudar sobre avivalistas tão inusitados me fez ver que avivamentos não dependem dos grandes acontecimentos, mas dos pequenos. A chama dos avivamentos que incendeiam corações sempre surge com pequenas leituras, breves acontecimentos ou simples testemunhos. Nunca é uma voz estrondosa que todos ouvem, uma aparição angelical ou uma sucessão impressionante de milagres. Quando tudo está desmoronando, o avivamento costuma vir do meio do silêncio daqueles que trabalham ardentemente na obra de Deus.
Trabalhar junto com os jovens e adolescentes do One Way foi ferramenta de Deus para reavivar minha fé de uma forma ativa, não meramente intelectual. Isso não se deu por causa deles, mas por meio deles, por meio da Igreja! Por meio da Igreja, Cristo traz motivação e propósito para as nossas vidas. É apenas na comunhão dos santos que somos verdadeiramente discipulados e vamos, aos poucos, deixando nossa antiga identidade para trás para, finalmente, abraçarmos a vida de Deus. Ser Igreja é ser parte do avivamento, tanto dos extraordinários, como aquele vivenciado por Bonhoeffer, que perdura até hoje; quanto dos ordinários, como dos irmãos moravianos, que teve grande impacto, mas curta duração.
É somente na unidade do Corpo de Cristo que pode haver avivamento.
- Maurício Avoletta Junior é casado com Amanda e congrega na Igreja Batista Batista da Lagoinha Mineirão. Formado em Teologia pela Mackenzie, estudante de filosofia e literatura (por conta própria); apaixonado por livros, cinema e música; escravo de Cristo, um pessimista em potencial e um futuro “seja o que Deus quiser”.
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