A satisfação em ouvir, abraçar e servir as pessoas
Foi na tarde de uma quarta-feira, dia 18 de novembro de 2015, que cheguei a Barra Longa-MG. A poeira que começou a atingir meu rosto ainda no ônibus que me levou à cidade, era parte da lama que atingiu o pequeno município no interior de Minas Gerais, destruindo a principal praça da cidade e invadindo residências e estabelecimentos comerciais.
Ao desembarcar do veículo me sentei em uma mureta perto de algumas mulheres. Perguntei sobre a poeira, se era comum. A resposta foi que nem a poeira e nem a agitação eram familiares aos barra-longuenses. Uma delas – que morava no morro aonde a enchente não chegou, comemorava a aparente vantagem sobre um possível preconceito que sentia da parte de quem mora em baixo: “É melhor ser lagartixa do que ser sapo”. Outra, sabendo que eu era voluntária vinda de longe, deu graças a Deus pelos viajantes ajudantes. “Se dependesse do povo daqui…”, ela disse.
Se é verdade ou não, sei que encontrei pessoas de todos os tipo, de fora e de dentro, ajudando nos primeiros, segundos, terceiros socorros da cidade. Quando cheguei, a primeira leva de voluntários já havia terminado de tirar a lama – que atingiu mais de dois metros de altura – de dentro das casas. A segunda leva, a qual pertenci, se ocupou da distribuição de alimentos, roupas, utensílios domésticos, água e outros, além de visitas às casas, realização de cultos nos lares e até mesmo dentro da belíssima igreja católica da cidade, histórica. Há quem diga que há obras de Aleijadinho ali.
Haviam muitos voluntários. Cada dia um número diferente. Durante a semana variava muito. Já chegou a ter 80, chegou a ter menos também. Nos finais de semana, o número poderia atingir 300, 500… Dependia. Alguns foram até lá para fazer o que uma voluntária chamou de “turismo de tragédia”, é verdade. Mas muitos estavam focados no trabalho. Era legal ver pessoas ali que chegaram antes de mim e saíram depois. Estavam totalmente dedicados a servir pessoas e a anunciar Jesus. A grande maioria dos voluntários era cristã.
Na volta para casa, enquanto eu andava no metrô em Belo Horizonte que me dirigia até a rodoviária, um rapaz hippie observou os tênis em meus pés e indagou: “Estava fazendo trilha, moça?”. “Não, eu estava na região de Mariana, na lama”. Minha resposta fez com que no mínimo quatro olhares se arregalassem em minha direção com as perguntas: “Sério? Você estava lá? Como foi?”. Até agora não sei descrever o que senti naquele momento, mas algo queimou dentro de mim. Uma satisfação talvez. Satisfação por representar muitos que desejavam ter ido ajudar. Satisfação por servir pessoas, ouvir pessoas, abraçar pessoas. Satisfação por estar no lugar certo, onde – creio eu – Deus queria que eu estivesse. Satisfação por não viver para mim, apesar de alguns dias – confesso – eu desejar viver. Boba eu! Não há nada melhor do que viver para Deus.
• Ananda Ribeiro é jornalista na agência de notícias GNI (www.gni.mobi) e missionária em JOCUM Maringá.
sarahmyrlane
Belo exemple,Senhor te abençoe !!
Antonia Leonora van der Meer
Li seu relato com emoção e gratidão a Deuw por chamar e enviar pessoas dispostas a ir servir as vítimas do rompimento da barragem em Mariana. Espero e oro para que além desses primeiros, segundos e terceiros socorros algo seja feito para que essa gente e essa terra e esses rios voltem a ter uma vida restaurada…