Só quero que chegue a Copa

Por Layla Fischer

De todos os benefícios de ser criança, talvez o maior deles seja a vida simples e literal.

Com 8 anos, lembro de uma aula da Escola Dominical intitulada “esse meu Brasil!”, cuja ideia era mostrar que fazemos parte de algo gigante – uma nação – que é administrada por diversas pessoas. As professoras expuseram um quadro com o nome de todos os ministérios do Poder Executivo e um deles me chamou a atenção: o Ministério da Fazenda. Era incrível. Diferente. O Brasil tinha um ministério que cuidava de sítios, chácaras e fazendas!

Bom seria se a nossa forma simples de ver as coisas perdurasse. O problema é que a infância vai embora e a essência pecaminosa do homem se amplifica. Somos complexos, obcecados por finitudes e encaramos a vida de modo banal – e a banalidade talvez seja a linguagem do nosso tempo. Tudo é tão frustrante, tão mesquinho…

Essa realidade molda, sobretudo, a forma como perspectivamos a política. Nossa postura cidadã pendula entre a confiança e a incredulidade, entre o “as coisas vão melhorar se tal político for eleito” e o “eu já não confio em mais nada e não quero nem me envolver”.

Quase sempre o sentimento de incredulidade predomina. E preferimos nos ocupar com outras pautas e esquecer da realidade política ao nosso redor.

A pergunta, no entanto, só pode ser uma: o fato de a política se mostrar tão desanimadora e frustrante deveria nos deixar incrédulos e passivos?

É o que parece (já que qualquer esforço se mostra vão). Mas não é o que o Evangelho nos ensina.

Primeiro porque declara: Cristo é Senhor. Tal verdade não pode ser silenciada; os céus a proclamam, o firmamento a anuncia (Sl 19.1). Se cremos nesse senhorio, cremos que todas as coisas estão debaixo de sua administração. Ele estabelece governantes e os tira. Tem domínio sobre o reino dos homens (Dn 4.17) e exerce seu governo acima de qualquer autoridade.

Se Cristo é Senhor, então tá tudo certo.

Mas, e a sociedade corrompida? A pobreza, o preço da gasolina, a injustiça?

É o que dá sentido à missão do crente. É o que o motiva a ser operante e crer nos propósitos que transcendem a realidade política e social.

A decadência que vemos não suprime o propósito de Deus para as autoridades civis – de serem instrumento para punir o mal e assegurar o bem (Rm 13.1-6) -, mas nos conclama a ser luz em tempos sombrios a fim de impedir que a sociedade se autodestrua.

Dessa forma, o cristão entende a política de forma diferente, porque o mal que coexiste em todas as coisas não o distancia, mas o convida ao envolvimento: a orar, votar e testemunhar acerca do bem comum que seu enredo cristão carrega.

>> Cristianismo e Política <<

O problema é que alguns fogem de qualquer interação com a política. Oram e socorrem os doentes, os enlutados, os que perderam bens, mas se recusam a reconhecer que seu cristianismo também tem remédio para as enfermidades públicas.

Além disso, o Evangelho nos traz a perspectiva de um quadro completo da realidade, de modo a evidenciar que as coisas não se reduzem a essa vida. Nossa cidadania não está adstrita a um local geográfico, mas é do céu. Nossa esperança não está na melhora da política ou da economia, mas na pessoa de Jesus Cristo.

Assim, a realidade desanimadora não pode ser mais convincente que a narrativa que a explica. Deus tem seus propósitos para a política e devemos crer nisso. Do contrário, nossa visão será vazia de esperança, já que parcial e restrita – como alguém que acredita que o único sentido da palavra “fazenda” é “sítio”.

As eleições se aproximam. Ore pelo Brasil. Creia que, para além de qualquer projeto de governo, o Senhor está executando o seu plano perfeito. Que Ele também soterre nossa incredulidade e nos fortaleça na missão de sermos bons cidadãos até que a eternidade rasgue o tempo e adentremos à nação perfeita.

  • Layla Fischer, 23 anos, é estudante de direito, pesquisadora pela ANAJURE e membra da Igreja Presbiteriana Central de Curitiba/PR. @laylafischer

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