Eu sou da “igreja dos jovens”
O importante desafio da intergeracionalidade na Igreja
Por Layla Fischer
Há quem pense que as grandes variedades da vida se encontram em dilemas do tipo: aqueles que preferem arroz por cima ou por baixo do feijão, “biscoito” ou “bolacha”, “zap” ou “WhatsApp“. Ou em outras preferências do tipo: dizer “tchau” ou “tchau tchau” no fim da conversa; preferir secar a louça ou deixá-la se secando sozinha; dormir no domingo de tarde ou maratonar séries da Netflix.
Poucos sabem, no entanto: as grandes variedades não estão em dilemas de linguagem, muito menos em preferências pessoais. As maiores variedades estão no mais belo fruto do ajuntamento humano: na Igreja!
Isso porque, entre aqueles que se reúnem em razão de uma mesma confessionalidade, há uma enorme diversidade de idade, etnia, experiência de vida, estrutura familiar, maturidade espiritual e vivência de fé.
O problema surge, porém, quando as diversas variedades não se conversam e, sobretudo, quando as diferentes gerações não se relacionam, mas vivem autocentradas em suas próprias programações e alheias às realidades do Corpo.
Jovens e adultos mal se conhecem, adolescentes enfrentam seus problemas sem nenhum suporte, idosos vivem seus dias solitariamente.
Assim, a igreja se torna a soma de várias igrejas: a “igreja dos jovens”, “a igreja dos que tem filhos”, “a igreja daqueles que falam ‘zap’” (essa é a minha preferida), a “igreja dos que só participam dos cultos de domingo”. O corpo coeso, cuja essência é de ligação, se torna reflexo de projeções pessoais. Fragmentos eclesiásticos.
Tal realidade se assemelha a da sociedade, que não tem compromisso consigo mesma (muito embora os pilares democráticos se fundamentem na solidariedade e cooperação), mas é fragmentada por si só. Isso não te perturba? A Igreja fragmentada, em meio a uma sociedade fragmentada, não faz diferença alguma.
Assim, nos resta o grande desafio: como promover a intergeracionalidade ou integração entre diferentes contextos na igreja?
Primeiro, aprendendo com a Trindade, que concilia unidade e diversidade. Nas palavras de Pedro Dulci, “é precisamente porque na unidade da divindade há três pessoas de mesma substância, poder e eternidade que sua Igreja precisa demonstrar tal dinâmica no mundo por meio de sua atuação variada, coesa e bela.”[1]
Segundo, encarando o compromisso do discipulado, que nos fornece uma forte base relacional. A caminhada cristã envolve a integralidade da comunidade dos discípulos do Cristo e não é trilhada apenas com pessoas da mesma faixa etária ou que possuem os mesmos gostos – caso contrário, não se trata de discipulado.
Terceiro, permitindo que tais fundamentos nos levem à participação profunda e nos tire do conforto de escolher aquilo que nos agrada. Isso implica em interações entre diversos grupos e pessoas nos encontros comunitários, e também reflete na existência de atividades que promovam tal envolvimento.
Imagine que lindo: uma refeição depois do culto – com arroz por cima ou por baixo do feijão – com toda a diversidade de gerações envolvidas em conversas profundas e desfrutando do prazeroso sabor da comunhão! Ou aquele grupo no zap (ou: WhatsApp) do ministério da igreja que concentra as mais diversas idades e trabalha junto na obra de Cristo!
Eu não tenho dúvidas que a sociedade iria estranhar um fenômeno tão incomum. E a igreja estaria ali para perguntar: “quer fazer parte disso? Aqui é o lugar de todo mundo.”
Esta é a Igreja do Senhor: viva, diversa e relacional. É dela que eu quero fazer parte.
Nota:
[1]. DULCI, Pedro Lucas. Igreja sinfônica: um chamado radical pela unidade dos cristãos. 1ª ed – São Paulo: Mundo Cristão, 2016. Pág. 19.
- Layla Fischer, 22 anos, é estudante de direito e congrega na Igreja Presbiteriana Central de Curitiba/PR.
A Edição 379 é uma conversa sobre intergeracionalidade. Embora cada geração tenha a sua maneira de agir, sentir, pensar, decidir e enfrentar os desafios específicos de sua época, Cristo estabelece um fio condutor único, de geração em geração.
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Mateus Lages
Excelente!