Por Amanda Almeida

Depois de ser traída e passar por um divórcio, a mocinha conhece um homem que a valoriza e parece ser leal. Após alguns encontros, ela se sente preparada para passar a noite com ele.

Algum tempo depois que sua esposa faleceu, um pai de cinco filhos começa a namorar. Depois de alguns meses, ele se sente preparado para deixar seus filhos com a babá e passar a noite com a namorada.

Um médico que tem um projeto para comunidades carentes dá uma entrevista para uma matéria em uma revista e começa a sair com a jornalista. Depois de uns poucos encontros, eles começam a dormir juntos.

Essas histórias têm algo em comum: a mulher traída, o viúvo e o médico são personagens cristãos em séries de ficção. Doces Magnólias, Família em Concerto e The Bold Type, respectivamente, todas disponíveis no catálogo da Netflix.

Sempre fico incomodada com a forma como cristãos são retratados na ficção. Às vezes como alguém meio piegas, outras como alguém que finge ser todo certinho, quando na verdade faz coisas “que até o diabo duvida”.

Mas, o que me chamou atenção em todos esses 3 casos foi o fato de que nenhum dos personagens se encaixava em um desses moldes pré-existentes. Na verdade, o fato de serem cristãos não fez com que questionassem sua ética sexual.

Nem cheguei nos 30 ainda e já cheguei no ponto em que penso algo nas linhas de “será que os jovens de hoje em dia…?”. Será que os jovens cristãos pensam que o sexo não é algo que deva ser reservado para o casamento?

É um tipo de entrega tão íntima, que deve ser feita apenas em um relacionamento no qual há um compromisso, uma aliança e uma entrega proporcionalmente dignas. Deve ser parte daquele relacionamento que espelha o de Cristo e a Igreja, que é o casamento.

Tendo a ser uma pessoa bem racional, então a lógica por trás disso sempre fez sentido pra mim também. A partir do momento em que passa-se a ter relações sexuais, é possível que uma nova vida seja concebida (e quinto à questão dos métodos contraceptivos, todos têm sua porcentagem de chance de falhas). E o cenário ideal para receber uma criança é o de uma família, formada pelo casamento.

Assim como com qualquer outro aspecto da fé cristã, não espero que quem não é cristão concorde com esse preceito de que “sexo é pra ser feito dentro do casamento”. E também não espero que cristãos sejam perfeitos e acertem sempre. Mas deixar essa parte de lado frequentemente no dia a dia me parece não como um tropeço, mas como uma rota calculada.

Hoje de manhã, enquanto escovava os dentes, pensei em como, quando fazemos algo que Deus não quer que façamos, é como se disséssemos que amamos mais essa coisa do que amamos a Deus. É a antítese de “aquele que tem os meus mandamentos e obedece a eles, esse é o que me ama” (João 14:21).

Não estou aqui pra dizer que pecados na área sexual são piores do que pecados relacionados à mentira, à ganância, à confiança na autossuficiência e por aí vai. Quem dera fôssemos conhecidos como o povo comprometido com a verdade, o povo marcado pela generosidade, o povo que depende do seu Deus. Mas, de certa forma, éramos conhecidos como o povo que espera até o casamento para ter relações sexuais. E, talvez, já não sejamos mais.

Com isso, também não quero dizer que quem “escolheu esperar” automaticamente é um exemplo de santidade na área sexual. Quem dera o fato de não ter transado com alguém garantisse algo nesse sentido. É muito possível que alguém que já se deitou com cem mulheres encontre mais favor do Senhor do que quem orgulhosamente nunca se deitou com nenhuma.

O que quero dizer é o seguinte: o que tem nos motivado? Para o que temos dado lugar em nosso coração? O que temos desejado mais que tudo?

Achei bem curioso que 3 séries que assisti recentemente tenham retratado sexo fora do casamento, nas histórias de personagens cristãos, como algo tão banal quanto mentira, ganância e autossuficiência. E que pena pra nós, fazermos tudo virar banal.

(Assim que escrevi essa última frase, lembrei de quando, na adolescência, eu respondia “ai, nada a ver, mãe”. Se aquela adolescente me visse agora, teria me condecorado com a mais alta medalha do cringe.)

  • Amanda Almeida, 28 anos. É formada em Comunicação Social e mestre em Estudos de Linguagens.

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