Por Daniel Theodoro

Adultos têm dificuldade de olhar para cicatrizes da infância, aquelas marcas do passado que podem inflamar o presente.

A conturbada rotina repele o exercício da reflexão e não autoriza perder tempo resgatando assuntos pendentes de uma infância distante. Há ainda certa soberba cronológica que diz aos adultos que passado é refúgio dos fracos, gente crescida é humano evoluído focado no presente, segundo opinião de alguns.

A paternidade/maternidade chega e rompe com a lógica do imediatismo e da arrogância, convidando o adulto a revisitar o recôndito da alma, obrigando pais a pensar na educação que receberam e como (e se) irão transmiti-la, uma árdua tarefa que precisa ser executada ao mesmo tempo em que fraldas são trocadas.

Em alguns lares cristãos, a chegada do primeiro filho e toda transformação que ela promove é a porta de entrada para a prática de uma educação infantil equivocada fundamentada numa leitura bíblica errada. A teologia do oprimido é uma falsa doutrina que afirma que a educação num lar cristão devem ser resultado exclusivo da obediência hierárquica, onde a criança é subjugada às regras preestabelecidas pelos pais; em caso de insistente desobediência, o castigo é a melhor ferramenta para recuperação e manutenção da ordem.

Em geral, a prática da teologia do oprimido é defendida por doutores da lei analfabetos emocionais e adultos cristãos disfuncionais cuja falta de empatia e sensibilidade impossibilita entender a criança como um ser em formação. Incapazes de interpretar as conflitantes emoções características da infância, muitos adultos validam apenas as emoções que eles julgam aceitáveis. O resultado é contínua tensão na relação entre adulto e criança, brigas e violência física em alguns casos.

Amar a criança como amar ao próximo dará aos pais uma nova perspectiva de educação e disciplina. A criança deve ser vista pelos pais como um semelhante, nunca como um ser cujas emoções devem ser diminuídas ou desprezadas. Assim, à luz do evangelho que ampara os frágeis e os coloca no centro do debate, uma criança “birrenta” passará a ser vista como uma criança frustrada que busca ser compreendida; uma criança “manipuladora” e “afrontosa” passará a ser vista pelos pais como uma criança que explora os limites para compreender as regras que regem o ambiente onde ela vive.

Os exemplos citados não são adaptação vocabular. Trata-se de analisar o comportamento da criança de modo amplo e profundo, evitando prejulgamento e, por consequência, uso do castigo como instrumento pedagógico.

Pais que aplicam castigo físico aos filhos baseando-se em princípios bíblicos, desconhecem a verdade do evangelho, provocam cicatrizes no futuro adulto, e perpetuam uma cultura de violência na sociedade.

  • Daniel Theodoro, 33 anos. Cristão em reforma, casado com a Fernanda e pai do Matteo. Formado em Jornalismo e Letras.

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