Por Gabriela Prillip

A gente gosta de controlar, e controlar o máximo de coisa possível. Aplicativo do banco, da academia, google agenda, notes. Planner em papel, agenda descolada também no papel (pra complementar a agenda do celular), uma notificação do que tá escrito nos dois pra ter certeza de não esquecer.

Passeio com os amigos, resolver um probleminha, comprar a peça do carro que faltava, aproveitar o cupom de desconto pra comprar aquilo que nem precisava (mas é bom aproveitar o desconto, né), aula às 19h, apresentação pro cliente amanhã às 8h. Além de controle, a gente odeia o tempo livre.

Ando pensando que nunca estamos realmente preparados pra alguma coisa nessa vida. A gente acha que está, mas a real é que a gente só aprende vivendo. Sim, todo mundo sabe disso, o básico, mas sempre esquecido.

Com tudo o que temos passado nos últimos dias (tentando não romantizar a situação do alto do meu privilégio nesse isolamento), além de alguns sentimentos de tristeza e até mesmo de raiva, fomos chamados, de um jeito ou de outro, a repensar bastante coisa na nossa vida. Querendo ou não, estamos nos fazendo muitas perguntas num overthinking enorme e sem nenhuma resposta talvez.

No mínimo estamos pensando sobre o tempo, trabalho, vida, além de economia ou futuro não só do país, mas do mundo. Estamos precisando refazer planos, lidar com frustração, medo, mas acho que o pior: estamos lidando sem ter como escapar da verdade escancarada de que nunca fomos semideuses com controle absoluto da nossa vida e que, no máximo, podemos tentar controlar o pagamento do boleto que está com a data pra vencer hoje deixando no débito automático. E é isso.

O estilo de vida que construímos e no qual estamos inseridos até aqui como sociedade e o que foi aprendido de maneira coletiva, principalmente nos momentos mais próximos que antecederam essa crise, realmente nos fizeram acreditar que teríamos como controlar tudo, principalmente o futuro e nossos planos. Qualquer plano, na verdade. “Planeje, trace um objetivo claro, corra pra isso e se esforce bastante. No fim, é óbvio, vem o resultado esperado”. Seja seu próprio plano, diriam.

Mas, a verdade é que a gente não controla nada e mesmo as nossas agendas com compromissos do mesmo dia estão debaixo das mãos de Deus e talvez a gente tenha se esquecido que mesmo qualquer compromisso que preenchemos no planner ou no google agenda não necessariamente vai acontecer só porque a gente planejou, desejou e escreveu ali. Esquecemos que absolutamente tudo e qualquer coisa está sob a mão e presença de Deus.

Podemos cantar todos os louvores sobre tempos de luta e momentos difíceis e ler todos os versículos sobre Deus ser nosso refúgio, socorro na aflição, castelo forte e companheiro na aflição, mas nada disso nos prepara pros momentos de andar no vale da sombra da morte ou pra tempestade no barco. E só quando a gente tá no vale ou no barco mesmo que vamos entender o real sentimento de estar ali, e só assim vamos aprender e ver se reconhecemos que Deus realmente está do nosso lado. Talvez a gente fique nesses lugares um pouco amedrontadores achando com toda certeza do mundo que nunca estivemos tão sozinhos.

A vida é uma coisa doida na qual a gente quase nunca tá pronto pra nada e só aprende quando as coisas realmente acontecem. Não existe algo como “estar preparado”. A gente pode refletir, meditar e buscar entender, mas vamos aprender mesmo na prática. A vida é sobre viver. Mas o que a gente sempre pode e precisa exercitar é a nossa fé. Seja nos dias mais comuns em que tudo parece paz, seja nos momentos mais caóticos, quando a gente não consegue saber como vai ser o final do dia. E pra esses momentos, lembrar que Deus nunca nos cobrou controle algum, muito pelo contrário:

“Como sabem o que será da sua vida amanhã? A vida é como a névoa ao amanhecer: aparece por um pouco e logo se dissipa. O que devem dizer é: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isso ou aquilo”. Caso contrário, estarão se orgulhando de seus planos pretensiosos…” – Tiago 4: 14-15.

No mínimo, agora é momento de finalmente e verdadeiramente descansar em Deus e parar de tentar lutar contra qualquer coisa. Momento de ser mais Maria, ficando no melhor lugar, do que Marta, querendo resolver mil tarefas. Afinal, é a única opção. E, apesar de tudo, que bom.

  • Gabriela Prillip, 25 anos. É marketeira, estudante de ciências do consumo, tentando lidar com a vida adulta escrevendo. Congrega no Projeto 242.

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