Por Lucas Pedro

Sempre que vou falar para algum grupo, dar uma palestra ou oficina, gosto de começar pelas premissas. Premissas são as informações essenciais que servem de base para um raciocínio, para um estudo que levará a uma conclusão. Premissas são as raízes de um modo de pensamento e, por final, conduta. Por serem raízes, normalmente ficam escondidas. Por isso gosto de revelar, logo de cara, quais são as minhas.

Refletir sobre premissas me remete aos primeiros capítulos do primeiro livro da Bíblia: Gênesis, que até em seu significado linguístico carrega a ideia de premissa, de origem. Devo confessar que desde a infância, desde as aulas de escola bíblica maternal, tenho dificuldades em assimilar totalmente estes primeiros capítulos. Com toda honestidade, acho tudo aquilo muito genérico, muito sem detalhes. Com certeza, isso acontece por falta de aprofundamento teológico sobre o livro, por não estudá-lo em sua língua original, coisa que pretendo um dia fazer.

Porém, o que me faz querer mais detalhes sobre este início de Gênesis é justamente a sua enorme influência como premissa em nossa teologia cristã. Nós, cristãos, de todas as eras e esferas, temos baseado nossa crença nas premissas apresentadas por estes capítulos. A origem de todo cosmos e de toda matéria pela palavra do Criador, a criação de toda vida terrestre, a nossa própria criação e, por fim, a nossa queda que é o primeiro ponto da nossa famosa T.U.L.I.P. Desculpe, sei que estou sendo abusado, mas eu queria mais detalhes sobre tudo isso, que não é pouca coisa.

Hoje, nestes assuntos, como em tantos outros, seguimos polarizados. De um lado a “ciência” (detesto usar este termo no singular e de modo pejorativo) defende que surgimos do acaso. Enquanto nós, fiéis, defendemos nossa origem do pó da terra, pelas palavras do Criador. Do ponto de vista científico, somos apenas mais uma espécie neste vasto e complexo sistema biológico. Do nosso ponto de vista, somos especiais, pois fomos criados à imagem e semelhança do Criador, para dominar as outras espécies. Do lado de lá, somos seres em plena evolução cognitiva, donos de nosso destino. Do lado de cá, somos seres caídos e, portanto, carentes de redenção.

Diante deste cenário, muitos jovens cristãos vivem no meio acadêmico pressionados a chavear do modo de pensamento bíblico para o modo científico. Parece haver apenas duas opções: Manter-se firme em suas premissas bíblicas ou chavear para as premissas científicas. A situação piora quando o jovem percebe que as premissas científicas parecem ter um apelo muito mais forte quanto à consciência de cuidado e preservação do meio-ambiente, enquanto o discurso do seu meio evangélico parece se afastar e até ser contrário a esta pauta.

O jovem parece ter que escolher ficar com um modelo de pensamento retrógrado e alienado, que ignora o cuidado com a criação, ou aderir a um pensamento que se engaja no cuidado com a natureza, mas ignora o Deus que a criou. Diante deste dilema, o jovem parece não saber mais distinguir onde está a cruz e onde está a espada.

É neste momento que eu gostaria de falar sobre o efeito danoso de construir uma premissa errada. Quando começamos a cantar uma música no tom errado, toda música está perdida, pois erramos na premissa. Quando erramos no entendimento de nossas origens e de nossas mais primordiais responsabilidades aqui neste mundo, estamos fadados a errar em toda nossa argumentação e em toda nossa conduta de vida. O jovem cristão não pode errar nessas premissas, pois ele é a herança da Igreja Cristã.

O jovem cristão precisa entender que é, sim, criado à imagem e semelhança de Deus, e que por isso deve ser reflexo do amor e do cuidado de Deus na Terra. O jovem cristão precisa estar na ciência e ser expoente neste meio. Ele deve ser luz de Cristo em todas as áreas do saber humano. Pra isso, deve esquecer esta mentalidade de chaveamento maniqueísta. Deve assumir sua mordomia cristã, acima de qualquer ideologia criada por mentes humanas, utilizando-se de todo conhecimento e de toda técnica adquirida até aqui, para ser benção na vida de cada espécie de vida do nosso lindo planeta. Essa é a nossa premissa. Esse é o nosso chamado.

  • Lucas Pedro é autor do blog Transformai-vos. Atua na área de Comunicação e Web Design e ministra oficinas em diversas igrejas no Brasil.

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