Por Lucas Pegoraro

Pela completa graça, já sou chamado, já sou vocacionado e preciso viver esse meu chamado.

Quando penso em vocação, lembro-me de uma crise de tempos que encontrou descanso no meu coração recentemente. Deixe eu me apresentar e me explicar melhor: Meu nome é Lucas, tenho 24 anos e sou um missionário. Sim, eu sou um missionário. Você não sabe quanto tempo demorei para chegar a essa conclusão sobre qual seria a minha vocação e poder falar algo assim com convicção. A grande verdade é que sempre me achei um impostor nesse sentido. Nunca pensei que poderia, de fato, ser alguém chamado por Deus para ser um missionário (talvez em um futuro distante) pois, afinal, “não estou indo para a África ou para o Oriente Médio” – era assim que eu pensava.

Desde criança, sempre me interessei por várias áreas diferentes – desde música, design, teologia, psicologia, libras e até dublagem – ao mesmo tempo que sempre me senti chamado por Deus e buscava servir onde estava, e imaginava que, no futuro, quem sabe, poderia fazer algo pro reino, e me tornar um missionário à la Jim Elliot.

Em 2018, formei-me em design gráfico. Foram cinco anos muito bons de estudo, nos quais estagiei, trabalhei e até tive a oportunidade de estudar por dois semestres na Austrália – com ajuda do programa Ciências sem Fronteiras. Enquanto estava na universidade, pude me envolver com a ABU, testemunhar e evangelizar no dia a dia. Na Austrália, servi em uma comunidade brasileira local onde recebíamos brasileiros, convertidos ou não, e compartilhávamos o evangelho. Aqui no Brasil sempre fui envolvido com a minha igreja local – servindo principalmente entre jovens e adolescentes. Mesmo buscando servir onde estava e sabendo que, de alguma maneira, Deus me chamava para a sua obra – aquelas obras que ele preparou de antemão para que eu andasse nelas (Ef 2.10) – eu sempre me via como alguém “café com leite”.

Até que, recentemente, Deus ensinou-me uma lição que, não sei o porquê, demorei um pouco para entender: a missão é o caminho, não o destino. Sempre quis e me senti chamado por Deus para missões e para uma vida de testemunho, mas pensava que isso ia acontecer de maneira plena “só lá na frente”. A grande lição foi enxergar que, no caminho que tenho trilhado, já tenho vivido a missão, só precisava trazer à mente a consciência dessa realidade e me posicionar nesse chamado. Muitas vezes eu me perguntava: “Qual é a vontade de Deus para a minha vida?” – pensando sempre em algo futuro. Mas entendi que já estou vivendo a vontade de Deus hoje. Minha vida é missão. Acredito que se compreendesse o que já estava na vontade de Deus, e vivendo como um missionário, talvez tivesse um olhar muito mais confiante e firme sobre aquilo que deveria fazer. Hoje percebo a importância de buscarmos de Deus a consciência de chamado e vocação, e entendermos que nossa expressão de missão como vocacionados não está na perfeita execução dos nossos dons e talentos, mas na expressão diária da realidade de um Deus gracioso que usa um pecador como eu de maneiras simples e onde ele tem me colocado.

Olhando para trás eu vejo como Deus já me colocou em missão. Hoje sei que quando fui para a Austrália, achando que estava indo estudar communication design, estava sendo enviado pelo próprio Cristo em missão. Minha faculdade foi missão. Meu envolvimento com igreja local foi missão. Entretanto, o que é fato, e hoje eu já tenho convicção, é que todos os dias ele me convida para viver a agenda dele, e convida-me para atentar ao que ele tem feito no mundo e me chama para fazer parte disso.

Sou, sim, um impostor e falho em muitos sentidos – um verdadeiro “café com leite!”. Mas vejo que Deus gosta de usar pessoas assim: falhas, impostoras, muitas vezes heróis, muitas vezes vilões, muitas vezes seguros e muitas vezes inseguros.

Pela completa graça, já sou chamado, já sou vocacionado e preciso viver esse meu chamado. Ver que Deus pode usar, sim, minha formação, meu ensino médio, minha faculdade, meu intercâmbio, minhas amizades para o reino, e tudo isso são os meios, e apenas os meios, que ele me usa para cumprir sua missão e me tornar como ele. E assim eu sigo “indo e fazendo discípulos”. Antes de ser designer, músico ou teólogo eu sou um missionário. Não na África ou no Oriente Médio, mas onde ele tem me colocado. Que você também possa enxergar isso e ver que Deus não o chama amanhã, mas chama hoje. Não necessariamente para outro país, mas onde você está. E, portanto, para dizer com convicção: eu sou um missionário. “Eu sou teu missionário, eis me aqui, envia-me a mim”.

  • Lucas Pegoraro tem 24 anos, nasceu em São Paulo e estudou design gráfico na UNESP. Atualmente cursa liderança e discipulado no Seminário Bíblico Palavra da Vida em Atibaia/SP.

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