Por Joyce Melo

Separei hoje o dia para escrever. Cancelei os compromissos adiáveis, vou deixar de nadar. Para hoje, na agenda, não tem o amanhã nem o final de semana que precisa ser planejado; há somente o dia atual e o que posso fazer com ele.

Fiz isso em parte por perceber que é saudável parar e em parte por atentar que preciso fazê-lo. Neste mundo de planos e agendas preenchidas, sempre houve um grande desgaste relacionado aos contratempos e imprevistos: eles de alguma forma eram testemunha de que eu, como gerente do tempo, havia fracassado. Com essa impressão veio a tentativa de desejar dar conta do que poderia acontecer, fazendo mil planos para que os improváveis desaparecessem e, sem analisar devidamente os fatos, cair na armadilha de compor vários dias futuros, esperando estar melhor preparada para o amanhã incerto.

Minha geração conhece bem esta palavra, afinal, é o mundo líquido que vivemos dia a dia. No esfacelamento das certezas a respeito da vida, sobra a cobrança das melhores realizações, a ponto de fazer dos resultados uma identificação de valor: é um melhor profissional, mas no fundo, uma melhor pessoa ao ter o controle ao seu dispor.

Tanto o viver o hoje, quanto o parar para o descanso são atos de confiança: a medida em que eu percebo que não sou capaz de viver várias realidades de uma vez só, entrego a realidade que me cabe à Deus. Quando me agarro à verdade de que não são os resultados que me definem enquanto gente, tenho liberdade de crescer na graça divina, realinhando as minhas prioridades à agenda dEle.

Ao separar o dia de hoje, entendo que nem sempre saberemos o que fazer, preparados ou não segundo nossos próprios termos. Saber disso já é um passo, buscar a sabedoria em Deus é o passo seguinte. O hoje já é o bastante para se viver e é a medida de peso exata para alguém carregar. No meu caso, o peso das palavras, ditas e não-ditas, e a certeza de que o enredo se encaminha, um texto de cada vez.

• Joyce Melo, 27 anos. Formada em Ciências Sociais e mestranda. Congrega na Igreja Cristã Evangélica do Marco, em Belém (PA).