A verdade no jardim de casa
Por Daniel Theodoro
Esqueçam os grandes concílios das religiões, os tribunais das mais altas cortes, os principais simpósios científicos. Desconsiderem os congressos nacionais das sólidas democracias, a assembleia-geral das nações e seu conselho de segurança. Desdenhem até mesmo dos restritos clubes da intelectualidade contemporânea e suas extensões em fóruns na rede mundial de computadores.
Bem longe dos auditórios sedentos por respostas, há um jardim florido em verdade, lá acontece o único debate essencial à toda humanidade.
Quem se questiona a respeito da origem da vida irá, cedo ou tarde, visitar o jardim. Ele é o santuário da interação entre o indivíduo e o cosmos, a intersecção entre a parte e o todo. Lá o sujeito poderá se descobrir poeira cósmica ou feitura divina.
No amplo espaço verde, destacam-se duas árvores. Debaixo da primeira, muitos procuram descanso, reclinando o corpo e aliviando a mente à sombra da casualidade. Quem dela se alimenta tem certeza de que nada pode ser muito certo, há apenas a consciência de que o acaso ordena a evolução sobre o caos.
A vida orbita em torno de si mesma, caminhando progressivamente para o desfecho da morte, a apoteose sem nenhum fulgor. A sombra da árvore da casualidade é lugar exclusivo para sujeitos que declaram autonomia humana e rejeitam submissão a uma mente genitora.
Há ainda a árvore da Vida, espécie única, cultivada antes mesmo que houvesse um princípio na história. Sob ela, a suave brisa do Espírito da verdade areja a mente daqueles que, de antemão, foram escolhidos para procurar repouso nela. Seu fruto de fé é a porção de alimento necessário para sobreviver. Quem dele come, nunca mais tem fome, porque somente a fé sacia a fome de quem foi criado para se alimentar da verdade.
No princípio, a humanidade pôde escolher à sombra de qual árvore viveria. Mas, na dúvida entre a eterna sabedoria divina e o finito conhecimento humano, decretou a própria sentença de ignorância e morte ao optar pela segunda. Como consequência, experimenta até hoje o veneno da soberba, rejeitando o Criador, despendendo vitalidade na busca pela verdade que um dia foi cultivada no jardim de casa.
- Daniel Theodoro, 33 anos. Cristão em reforma, casado com a Fernanda. Formado em Jornalismo e Letras.