Por Rafaela Senfft

Existem muitas formas de evangelização. São muitos os formatos que se adequam a uma linguagem atualizada, para jovens, por exemplo; e que são extremamente criticados por grupos mais tradicionais. Mas considero legítimos esses formatos “modernos” de evangelização.

“Contemporaneidade” é uma palavra que não devemos menosprezar. Jesus era contemporâneo, uma vez que atendia às demandas de seu tempo. Em um novo tempo, ele estava levando pessoas a se reconciliarem com Deus, curando almas que, pelos meios da lei, não se encaixariam no perfil necessário para tal reconciliação.

Jesus era simples, atemporal, não se prendia a formas. As pessoas eram seu foco, e ele se fazia bem familiar a elas quando as abordava ou era abordado. Todo o peso que a pessoa carregava se esvaia ao ser amada, acolhida e aceita, tanto quanto os fariseus que aumentavam a distância entre homem e Deus.

Isso se repetiu várias vezes na história, como com as indulgências na igreja católica, e posteriormente com o conservadorismo hermético de algumas denominações protestantes.

Jesus sempre olhou o próximo, falando da forma do outro, sempre se doando e nunca cobrando uma postura formal. O próprio Deus fez isso ao nos enviar Jesus, que falava nossa língua humana, se despindo de uma plenitude absoluta e eterna para viver na privação e nos limites do tempo. Não foi uma forma misericordiosa e graciosa de “evangelizar”? Porque então deveria haver privações nas formas de evangelizar?

Outro ponto que sempre questiono é o quanto as pessoas estão enfadadas do discurso. Estamos num tempo em que a palavra não vale mais nada. O testemunho que temos dado como igreja está queimado, cristãos fazem guerra nas redes sociais, nossa “classe” aparece escandalosamente nos noticiários se corrompendo, falando bobagens e etc…

A Bíblia sugere que evangelizemos, a priori, pelo amor – pro mundo ver nosso amor e querer viver num ambiente assim, onde o amor se faz possível de verdade, porque Deus é amor. Mas, essa não tem sido a realidade que o mundo vê. Então o melhor evangelismo não seria sempre o essencial? O amor entre irmãos, a igreja como exemplo de amor? Para que os de fora vejam a pessoa de Jesus e se apeguem a ela? Em Roma, muita gente se converteu com esse exemplo.

Mas não, ficamos nos matando na internet e falando mal da igreja que tem parede preta, que canta alto, que tem luz neon… e por aí vai.

De falar de Jesus por falar, o mundo já está cheio. Quando falamos que somos cristãos, ninguém nos escuta. Riem da nossa cara, e não pelos motivos certos. Não adianta falar que é perseguição, porque quem perseguia Jesus não eram os de fora da religião, como já sabemos.

Estamos falando muito e vivendo pouco, ou nada! Estamos perdendo o essencial. Estamos vendendo o sangue de Jesus pro mercado da auto-afirmação.

Se tiver alguém usando x ou y recursos estéticos para evangelizar ou prestar culto a Deus, e as pessoas tiverem a oportunidade de conhecer a Jesus e se sentirem acolhidas, já é um grande feito e Jesus está feliz com isso. Precisamos dar mais espaço ao Espírito Santo num tempo em que usamos a palavra para esmagar o outro.

  • Rafaela Senfft é artista plástica formada pela Escola Guignard/UEMG, onde é professora de História da Arte Ocidental no curso de extensão. É membro de CIVA (Christian in Visual Arts) e congrega na Caverna de Adulão, em BH.

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