Maria de Betânia, que lavou os pés de Jesus, é uma mulher me inspira profundamente em sua forma de se relacionar com Jesus.

Imagino essa cena com todos os detalhes; tem movimento, é dramática. Aquela mulher quebrando um frasco de perfume caro: o dote dela e de sua irmã para o casamento. Um ato aparentemente tão irresponsável para com a irmã.

O que me choca é o que a presença de Jesus faz. Tirou aquela mulher do prumo das responsabilidades sociais, e ela simplesmente entrega toda sua expectativa.

Uma descrição cheia de movimento, e arrebatadora. Cheia de coragem pra romper com protocolos. Tudo porque ela representou tão verdadeiramente a noiva na presença do amado.

Primeiro, ela teve a sorte de lavar os pés de Jesus, pois a casa estava cheia e havia muitas pessoas lavando pés alheios. Ela sabia que estava na frente do Filho de Deus; tinha esta fé; e a fé salva, cura e dá vida. Ela teve uma experiência estonteante! Naquela hora Jesus abriu os céus a ela; ela pôde ver de uma maneira que ninguém conseguiu.

Saiu correndo e pegou o frasco. Nada mais importava nesta vida: vida que limita tudo, limita a mente,  a sensibilidade; vida terrena tão pronta à aprisionar, limitar o infinito, conter o eterno.

Imagino aquele momento, a conversa entre os dois, e a platéia criada para testemunhar o amor, a entrega, o sacrifício da alma, o que realmente importa. Pois Jesus falava sempre do amor como a maneira eficaz de cumprir a lei, Ele mesmo veio mostrar isso em sua missão.

Jesus parecia amar esses “surtos viscerais”, protagonizados por algumas mulheres da Bíblia. Há quem diga que os homens são de Marte, e as mulheres de Vênus; os homens racionalistas, as mulheres empíricas; os homens retangulares, as mulheres arredondadas – artistas já representaram essa ideia em suas formas conceituais: Klimt, Miró, Malevich…

Jesus amava a habilidade de se entregar, provida às mulheres; e creio que não poupou revelação a estas, pelas quais já esperava alegre. E era sempre aquele choque, porque esses encontros escandalizavam os religiosos, a ética social.

Esta mulher massageou os pés do Messias com perfume e enxugou com os cabelos: uma vontade de se fundir, representado na matéria sensível do toque dos cabelos na pele, e o perfume compartilhado entre a pele de Jesus e seus cabelos, marcando um momento que Jesus prometeu entrar pra história.

  • Rafaela Senfft é artista plástica formada pela Escola Guignard/UEMG, onde é professora de História da Arte Ocidental no curso de extensão. É membro de CIVA (Christian in Visual Arts) e congrega na Caverna de Adulão, em BH.

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