Por Jetro Coutinho

Se você está lendo este texto, é provavelmente um cristão. E, justamente por ser cristão, você, em algum momento da sua vida, se converteu. Pois bem, na conversão a transformação ocorre de dentro para fora, pois o Espírito Santo é quem opera essa mudança no coração.

Como a transformação é interior, é impossível para o cristão exercer sua fé apenas na igreja. Afinal, o íntimo do seu ser foi transformado. A fé, portanto, influenciará todas as áreas da vida do cristão, de dentro para fora. Sua visão de mundo em relação à família, à igreja, à sociedade civil, à política, muda. Isso significa que o modo como o cristão se relaciona com sua família, como exerce a fé coletiva na igreja, como interage com a sociedade, como exerce sua cidadania e até a forma como trabalha, muda.

Sim, até a forma como trabalha. E vou além: não só a forma como trabalha, mas até como escolhe com o que trabalhar.

Pense agora em José do Egito. Do que você lembrou? Talvez você tenha lembrado que ele era filho de Jacó. Talvez você tenha lembrado que ele foi vendido por seus irmãos. Que foi preso injustamente. Que interpretava sonhos. Mas com certeza você lembrou que ele foi Governador do Egito. E não só isso, José foi um baita governador: por conta de sua estratégia de estocar comida, ele evitou que muitos países passassem fome durante os 7 anos de “vacas magras” que acometeram aquela região.

Repare que José não é lembrado por ser um grande pastor, um grande profeta ou grande missionário. Ele é lembrado por ter sido um bom governador para o povo egípcio e para as nações vizinhas. Mais que isso, ele é lembrado por ter sido fiel a Deus em todos os seus ofícios anteriores, seja quando estava pastoreando os rebanhos com seus irmãos (Gênesis 37:2), seja quando administrava os bens de Potifar (Gn 39:4), quando ficou responsável pelos prisioneiros no cárcere (Gn 39:22) e, igualmente, quando se tornou o comandante de todo o Egito (Gn 41:41).

No entanto, definitivamente, José não tinha uma função eclesiástica.

A Bíblia está repleta de pessoas assim como José, que não ocupavam funções ou cargos eclesiásticos, não eram pastores, profetas ou apóstolos, mas, com seus ofícios, com seus trabalhos, serviam ao Criador.

Podemos lembrar de Neemias, que era copeiro do Rei (Neemias 2:1), um servidor público, mas que foi convocado por Deus para reerguer os muros de Jerusalém. Podemos lembrar dos valentes de Davi (2 Samuel 23:8-39), que tinham seus ofícios como guerreiros, mas cuja memória a Bíblia preservou. Podemos lembrar de Dorcas (Atos 9:36-42), que compartilhava do evangelho enquanto fazia vestidos com suas amigas. E podemos evidenciar tantos outros que serviam a Deus com suas profissões, como as mulheres que serviam a Jesus com seus bens (Lucas 8:1-3) e o centurião romano (Mateus 8:8-13).

Esses exemplos bíblicos nos mostram que mesmo que não sejamos pastores ou missionários em tempo integral, ainda assim devemos servir a Deus com nossa profissão. Se Deus te vocacionou para ser pastor, ótimo! Se Deus deseja que você seja missionário em tempo integral no Brasil ou em outro país, vá! Mas se Deus te chamou para ser médico, engenheiro, cientista político, músico, ator, terapeuta, administrador, economista, assistente social, psicólogo, servidor público, empresário ou para atuar em qualquer outra profissão, você precisa servir a Deus através desse seu ofício, da mesma forma que José do Egito e tantos outros exemplos na Bíblia.

Lembre-se de que, por sermos cristãos, nosso interior mudou. O Espírito Santo fez essa mudança. Por isso, a forma como enxergamos o nosso trabalho deve mudar também.

Nosso trabalho não é apenas um meio de subsistência. Nosso trabalho não deve ser encarado como um fardo (Colossenses 3:23). Nosso trabalho não é fonte de reclamações (Filipenses 2:14-15).

Nosso trabalho é, sim, um meio para realizarmos boas obras (Efésios 2:10). Nosso trabalho, é um meio de Deus nos usar para alcançar as finalidades que Ele já determinou desde antes da fundação do mundo. Nosso trabalho é um meio de darmos glória a Deus (1 Coríntios 10:31).

  • Jetro Coutinho, 27 anos. É auditor do Tribunal de Contas da União.
  1. Sr. Jetro Coutinho, bom dia
    muito obrigado por este texto conciso, porém nos faz compreender como é importante o caráter a conduta e o sentimento de equidade para com Deus, nosso próximo e em nossos negócios. Muito obrigado

Leave a Reply to Simone Cancel Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *