Meu RG e minha espiritualidade
Por Jeferson Cristianini
Desde que me conheço por gente tenho o número do meu Registro de Nascimento. Só fiz um RG que uso até hoje. Meus amigos tiram sarro da minha foto com cara de menino. Foto ridícula é a do RG, não é mesmo? Quem nunca tirou sarro de alguém ao pegar o RG na mão? É uma bagunça legal ver foto de RG.
Mas o fato é que as pessoas olham para a foto e pedem outro documento. Em várias repartições públicas, na secretaria da faculdade e em outras ocasiões nas quais preciso usar meu RG, sou obrigado a apresentar a CNH, por conta da foto. Alguns dizem que meu RG não vale mais, e eu nem sabia que era preciso atualizar o RG, pensava que ele ficaria comigo até eu morrer ou perdê-lo.
A pessoa bate o olho no meu RG e suspeita que não sou a mesma pessoa. Mudei muito. E é verdade. Como mudei. Acabando de escrever esse texto, prometo ir ao Poupa Tempo regularizar esse documento.
Esse fato corriqueiro e cotidiano do RG tem tudo a ver com minha espiritualidade, e talvez com a sua também. As pessoas que pegam meu RG olham a foto, me encaram, e veem que eu mudei. E quantas mudanças! Eu era bem jovem, magro, não tinha barba, tinha orelhas grandes, semblante de menino. Hoje não. O tempo já deixou marcas no rosto, e o semblante de menino se foi. Ficou a cara de alguém que tem que aceitar a vida adulta e ponto final.
Mas o que isso tem a ver com minha espiritualidade, afinal? Da mesma forma que as pessoas veem que eu mudei a partir do referencial da foto do RG, as pessoas devem ver que mudei quando olham para minha vida antes e depois de Jesus. Minha vida deve transparecer que estou em constante mudança, ou melhor, que a cada dia estou passando por um processo de transformação tão intenso que não sou o mesmo de ontem. Louvado seja Deus por isso.
A espiritualidade cristã nos ensina, desde os primeiros passos na caminhada com Jesus, que a nossa vida deve ser moldada pela oração de João Batista: “Convém que Ele cresça e que eu diminua”. Depois gravamos o conceito profundo da teologia paulina que diz “vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim”.
Dessa forma, a espiritualidade cristã vai nos moldando de tal forma, que o maior testemunho que posso dar aos colegas da infância, da faculdade, amigos e familiares é quando olham para mim e já não me reconhecem mais. Não veem mais alguns valores e práticas do passado, e veem que estamos vivendo a partir de novos referenciais. Referenciais eternos. Referenciais do reino.
Soa como um elogio, ou melhor, como um incentivo, quando alguém bem próximo diz que já não sou como era. De fato não sou. Cristo está me mudando. Aleluia. Cristo está operando no meu interior. Cristo está removendo muitos dos meus conceitos e pré-conceitos e me levando a um processo de transformação da mente: a metanóia (cf. Rm 12:1 a 2). Cristo está levando meus pensamentos cativos à Palavra. Está fazendo novas todas as coisas dentro de mim para que eu possa testemunhar da mudança e transformação que só Ele pode fazer, e assim refletir a glória do Pai. Cristo está trabalhando para que eu seja um instrumento dEle, na obra dEle, para a glória dEle.
De fato, não sou o mesmo Jeferson da foto do RG. Já mudei tanto que por vezes não sei mais quem fui. E nem preciso saber. Só sei que sem mudança não serei o que Deus espera que eu seja. Assim, vou trilhando o caminho de Jesus na companhia dEle e sendo moldado. A foto do RG não me representa mais, assim como meu passado não me representa. Sonho em não ser reconhecido nem pela foto do RG e nem pela vida que tinha antes de conhecer a Jesus.
Jesus me mudou e o processo continua a todo vapor. Vou atualizar meu documento e continuar crendo e clamando que Jesus, que é poderoso, continue a boa obra no meu e no seu interior, a fim de sermos pessoas diferentes das que fomos, para que as pessoas ao nosso redor vejam Jesus em nós, vejam que estamos sendo moldados para nos tornarmos espelhos, refletindo a imagem de Deus. Amém!
- Jeferson Rodolfo Cristianini é pastor da PIB Bauru.