Por Jeverton “Magrão” Ledo

O oceano e sua imensidão parece tornar tudo tão distante e frio, mas o coração se mantém aquecido. Aquecido graças às boas lembranças. Amizades que deixamos em cada cantinho, mas que estão em nossa memória, retratadas em aventuras, experiências e histórias.

Sim, as boas e velhas histórias que, como um bom livro, nos fazem viajar no tempo e perceber que ainda temos páginas em branco a serem preenchidas, pois a jornada segue.

Sentado frente ao teclado, companheiro das madrugadas em que o sono é interrompido, vem como um rompante o desejo de compartilhar. Compartilhar e, por um instante que seja, encurtar essa distância que me separa de parte de mim.

Me lembro bem das curvas da estrada, da paisagem que ia se modificando a medida em que o carro se distanciava da cidade maravilhosa e se aproximava daquela pequena cidade cercada de belas montanhas. Minas tem seu charme, e Viçosa tem algo que era totalmente desconhecido para mim até aquele momento. As informações eram poucas, e vindas de um querido amigo que já tinha passado pela experiência de respirar daqueles ares.

Curvas intermináveis e eu ali, ansioso e curioso. Curiosidade que aos poucos foi se dissipando. Cheguei! Opa, quase… Ao correr os olhos por aquela única avenida, pensei “então é isso?” Logo meu olhar se deparou com uma entrada imponente e belos jardins, em torno de uma lagoa.

Sim, a Universidade Federal de Viçosa (UFV), um dos campus universitários mais bonitos e peculiares que já conheci, mas ainda não se tratava de meu destino final. O campus faria parte da minha caminhada nesse novo e fascinante lugar. a Universidade me animou. Em seguida, terra de chão batido, e agora sim faltavam poucos minutos para finalmente me encontrar com minha nova moradia.

Lugar quieto, tranquilo, bucólico, e confesso que no primeiro instante pensei em dar meia volta. O dia começava a nascer, uma densa neblina dava uma atmosfera de mistério. Desci, eu e minha mochila. Me despedi, fiquei com o olhar fixo no carro que se distanciava e me deparei sozinho. Pensei em gritar “pare! Pare, vou voltar”.

Quando menos esperava, aponta em minha direção a primeira pessoa que se tornaria uma amiga, conselheira, professora e, tempos depois, madrinha. Fui direcionado ao dormitório masculino, e num primeiro momento fiquei em um quarto com mais duas camas, uma enorme bancada e um armário. Paralisado por uns segundos, abro a porta do armário e o sentimento de vazio se tornou ainda maior. Tentei dormir agarrado à minha mochila. Não conseguia abri-la e arrumar minhas coisas. E assim se passaram uns dias.

Em poucas semanas estava dividindo quarto com um outro rapaz vindo do interior de São Paulo. Aparentemente não tínhamos nada em comum, mas nos tornamos bons amigos. Cuidado, as primeiras impressões nunca retratam realmente o todo.

As aulas eram em dois períodos, manhã e noite. Participávamos de diferentes atividades,  executando diversas funções que proporcionaram desenvolvimento do trabalho em equipe, bem como amadurecimento e crescimento pessoal. Com a vivência e convivência diária, passei a me sentir em casa.

O Centro Evangélico de Missões (CEM)  marcou a minha caminhada pessoal. Aprendizado e mais aprendizado. A cada novo dia , a certeza de que estava trilhando o caminho certo. Trilhar, percorrer, se encontrar, se perceber. Ter convicção, se enxergar fazendo algo pelo resto de seus dias… isso tem um alto preço.

Nem tudo foi uma mar de rosas. Dificuldades, conflitos internos, questionamentos, o avanço de uma doença. Mas estamos aqui para exercitar nossa fé, crer que a vida é mais, e por ser mais deve ser cuidada, aproveitada e vivida em sua mais profunda essência.

A minha convicção se encontrava em formação, o entendimento da integralidade da Missão, o exercitar do eu discípulo, tudo isso se tornou mais e mais claro com o envolvimento, com o desejo de aprender, de servir e de compartilhar disso tudo, independente do lugar para o qual meus passos me conduziriam.

Com convicção adquirida, sigo eu, desbravando novos lugares, enfrentando novos desafios. Nos últimos anos me encontro em um novo momento, mas nunca me esqueço de tudo quanto vivi e aprendi, pois todas as lições têm mantido minha mente aberta, ecoando e fazendo todo sentido.

  • Jeverton “Magrão” Ledo é missionário e trabalha com juventude. Ele e a esposa estão na Bélgica, onde vão morar por um tempo.
  1. Antonia Leonora van der Meer

    Magrão,
    Você sempre expressa suas memórias e suas experiências de uma forma poética, que agrada os olhos e o coração de quem lê. Obrigada mais uma vez!

    • Maurício, é sempre motivo de gratidão saber que as palavras ecoam e alcançam pessoas que ainda não conhecemos. Seria um prazer te conhecer. Obrigado por deixar seu comentário. Abraço,

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