Por Maurício Avoletta Junior

Então disse o homem: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada. Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, e eles serão uma só carne”. (Gênesis 2:23, 24)

No primeiro ato do drama da criação, logo na introdução, onde somos apresentados ao autor e consumador da história, somos apresentados também à base da humanidade: a família. Sei que é perigoso falarmos isso, especialmente diante do quadro político que estamos vivendo em nosso país. Certas posições foram batizadas por ideologias políticas: defender a liberdade hoje é bandeira da esquerda; defender a família hoje é bandeira da direita.

Em meio à tanta bagunça, nos tornamos reféns da nossa própria época. Contudo, hoje tentarei fazer a defesa de uma ideia eterna. Como costumava dizer Chesterton: não falarei nada de novo, pois muitos já disseram o mesmo antes de mim.

É comum encontrarmos discursos de “desconstrução” nos mais diferentes lugares. Pessoas desconstroem tudo hoje em dia, desde gênero, até sexo, músicas, livros e também a família. Contudo, me parece que o conceito que mais desejam desconstruir é a família. Desejam tornar a família em um conceito meramente afetivo.

Família se tornou tudo aquilo que é construído na base do amor. Mas, o que realmente é a família? Respondendo de forma bem direta: pai, mãe e filhos. Sei que essa afirmação hoje é digna de apedrejamentos, mas pretendo explicar meu pensamento – que não é meu – no decorrer desse texto. Quando terminar, você pode decidir se me odiará ou se concordará comigo, mas até lá, leia até o final.

Antes de qualquer coisa, desejo colocar as cartas na mesa e me apresentar rapidamente para que todos entendam os meus pressupostos: sou cristão protestante, geralmente me defino como neo-calvinista holandês, pois me alinho bastante com as ideias de Abraham Kuyper, contudo, estou mais para um católico reformado no que diz respeito a tradição Cristã. Sou conservador, mas isso não é o que você imagina, pois não defendo as figuras pitorescas comumente referidas como conservadores, não me associe a eles, pois somos muito diferentes. Como conservador, entendo que certos valores devem ser conservados para o melhor desenvolvimento da sociedade, porém, como cristão, entendo que muitos desses valores serão seguidos apenas por aqueles que como eu, são conhecidos historicamente como cristãos.

Defendo pautas que entendo que um cristão deve obrigatoriamente defender, embora compreenda que a sociedade em geral recusará essas máximas – talvez um dia fale sobre isso, mas esse dia não será hoje. Como cristão, é meu dever defender os valores que foram passados pela Igreja Católica (Universal) de Cristo durante toda a história, mas não é meu dever forçar as pessoas a concordarem com esses valores, ainda que eu os entenda como eternos e absolutos.

Bom, as cartas estão na mesa, agora me sinto mais tranquilo para defender o que pretendo defender. Por que entendo que a família, além de ser a base da sociedade é primariamente constituída de homem, mulher e filhos? Pois essa foi a estrutura inicial escolhida por Deus. Dessa forma, penso que devemos conservar aquilo que nos foi entregue.

O que eu não quero dizer com isso? Eu não quero dizer que uma família onde um dos pais morreu ou simplesmente abandonou a família é automaticamente descaracterizada como tal. Mas, pelo menos do meu ponto de vista, é óbvio que essas situações não deveriam existir. Uma pessoa que toma sobre si o dever de outra pessoa, independente do motivo, não conseguirá fazer nem o seu papel e nem o papel do outro plenamente. Situações como essas, embora sejam mais comuns do que muitos admitem, não são situações que todos desejam – embora existam estranhas exceções -, mas são frutos de ações anteriores à constituição dessa família em específico.

Bom, acredito que ficou claro o que penso de famílias “não convencionais”, como famílias de pais ausentes, omissos ou falecidos, famílias que tem parentes que não os pais como “cabeças da casa” ou até mesmo famílias de homossexuais, certo? Acredito que sejam famílias e acredito que exista amor verdadeiro entre elas, mas elas foram baseadas em uma estrutura problemática: uma criança que é privada da mãe ou do pai desde a mais tenra idade pode – e muito provavelmente irá – apresentar algum tipo de problema, psicológico, social ou qualquer outro.

É com a mãe que a criança aprende – ao menos deveria – a diferenciar as individualidades das pessoas. Com o pai, a criança aprende a respeitar autoridades e eventualmente a exercer autoridade. Com os dois, a criança aprende a viver em sociedade, pois lhe é ensinada dentro desse núcleo toda a tradição que vem sendo passada geração após geração.

Por que creio que a família é base da sociedade? Pois é dela que surge aquilo que chamamos de tradição. A tradição é aquilo que mantém uma cultura, pois todos, sem exceção, seguem alguma tradição, e essas tradições, creio eu, nascem dentro das famílias. Somos o que somos pois fomos criados dentro de um núcleo familiar, independente de como ele é formado. É necessário que o ser humano seja criado por uma família, pois é de lá que surge o indivíduo e isso será determinante para como esse indivíduo irá se portar diante da sociedade.

Entendo que muitos vão discordar de mim, mas isso é resultado de expor opiniões. Meu dever, enquanto cristão, é afirmar as verdades eternas que chegaram até mim desde Abraão, Isaque, Jacó, os Profetas, os Apóstolos, os Santos Padres, a Escolástica, a Reforma Protestante, os Doutores da Igreja, a Igreja Confessante, os Movimentos Avivalistas, os meus pais e todos os Santos Mártires que entregaram sua vida por causa da propagação do Evangelho de Cristo. Todos eles tomaram como base de suas vidas as Sagradas Escrituras, e por isso, defendiam a família como a base da sociedade, como podemos ver tanto na Doutrina Social da Igreja, como nas doutrinas Calvinistas e tantas outras que falaram a respeito da sociedade.

Acredito que os cristãos devem ter as bases da sua fé muito bem fixadas e defendê-las, mas também acredito que os cristãos devem ter em mente o fato de que nossa fé não é a mesma fé do mundo inteiro, por isso, devemos lembrar que nem todos vão agir segundo os preceitos bíblicos que a tradição cristã sempre defendeu. Devemos prezar pelas liberdades individuais de todas as pessoas, mas nunca deixar de dizer o que cremos ser verdadeiro, pois como ouvirão se não há quem pregue?

  • Maurício Avoletta Junior, 22 anos. É membro da Igreja Presbiteriana do Tucuruvi (SP). Em suas palavras, é profissional em ser chato e futuramente um mestre em “seja o que Deus quiser”.
  1. Concordo com você. A família é a base para a formação dos filhos, os futuros cidadãos de uma sociedade. A família cristã é a luz do mundo e sal da Terra.

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