Vocação, missão e descanso
Por Ana Cláudia Luz
A vida é sagrada, a roupa não – “Olhem os lírios do campo e os pássaros do céu (…) por acaso não valeis mais do que os pássaros?”. O trabalho tem valor em si mesmo (servir) e não em sua imediata recompensa – “rogai ao senhor da seara para que envie trabalhadores” – vejam que não orou por “sementes”, pois os campos já estavam brancos. A Palavra é o centro e não o ventre – “por que não só de pão vive o homem”. A vocação para que fomos chamados, seja ela qual for, deve ser maior do que qualquer posição que o mundo e suas instituições possam ou queiram nos dar – “as raposas tem covis, as aves tem seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça (…) quem quiser vir após mim negue-se a si mesmo”.
Ao contrário do que possa parecer, não estou pregando por nenhum voto de pobreza ou qualquer tipo de vida monástica em completo isolamento, mas me questionando quais têm sido as fontes da nossa alegria, do nosso contentamento, da nossa esperança, e qual tem sido o centro da nossa mensagem e vivência.
No evangelho escrito por Mateus, de onde tirei todas essas referências, Jesus confronta a fé dos discípulos com a realidade ao seu redor: crianças morrendo, homens possuídos por espíritos maus, religiosos sem compaixão, cegos e leprosos necessitando a cura, tempestades ao mar e gentios que demonstram uma fé nunca vista em Jerusalém. Diante de toda essa realidade, Jesus repreende seus discípulos e sua geração tomada pelo medo e incertezas chamando-os de “homens de pouca fé”, de “meninos que se assentam em praças” esperando sempre que algo novo os surpreenda ou os motive.
Para mim, nestes dias, o evangelho de Mateus tem soado como um apelo do Espírito Santo para olhar para Jesus – “Vinde a mim, aprendei de mim, a ser humilde e sincero, e então encontrareis descanso”, em outras palavras “e então você encontrará o seu lugar de descanso”. Jesus reclinou a sua cabeça na cruz; sua missão era o lugar do seu descanso – “está tudo consumado”. A alegria e o sentido de Jesus estava em realizar a vontade do Pai. Qual é a vontade do Pai, senão que todos encontremos o Caminho?
Eu não poderia ser o que quisesse, sem antes me render completamente a boa, perfeita e agradável vontade do Pai para a minha vida. Agostinho falava “inquieto está o meu coração até que encontre em Ti o meu descanso”.
Mateus discorre adiante em seu livro “basta ao discípulo ser como seu mestre e o servo igual ao seu Senhor”.
• Ana Cláudia Luz, 37 anos, é missionária, jornalista e documentarista. Está de malas prontas para a Espanha, onde trabalhará como voluntária em uma organização cristã que luta contra o tráfico humano. Se você quer ajudar a Ana Cláudia nesta viagem, entre em contato conosco (juventudes@ultimato.com.br).