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Por René Breuel

A Marilyn Monroe acordou de um sonho inquietante em 1955. Em um diário descoberto recentemente, ela narra em frases cortadas como o seu psicanalista e o seu professor de teatro estavam ao seu redor em uma sala de operação, e começaram a abri-la como cirurgiões.

Eles me abrem … e não tem absolutamente nada ali – Strasberg é profundamente desapontado mas ainda mais – surpreso academicamente de ter feito um erro do tipo. Ele pensava que encontraria tanto – mais do que ele jamais sonhou possível em quase todo mundo, mas em vez disso não tinha nada – priva de toda coisa de sentimento humano vivo – a única coisa que saiu foi uma serragem tão fina – como a de uma boneca de pano.

Para a Marilyn, a conclusão a que chegou o seu psicanalista era óbvia: “A paciente (pupila – ou estudante – comecei a escrever) consiste de vazio completo.”1

Podemos só estimar quantos gestos de apreciação temos que ouvir antes que acreditemos em nosso próprio valor. Cem? Mil? Três ou quatro por dia? Ninguém sabe. Mas não importa o quanto as pessoas nos afirmem – Marilyn Monroe com certeza tinha tantos fãs quando qualquer outra celebridade –, permanece sempre a dúvida de que as pessoas ainda não nos conheceram, de verdade. Se elas pudessem ver todos os meus aspectos, pensamos, a admiração iria desmoronar como areia. Se as pessoas pudessem ver além dos sorrisos, risadas, além do balançar da saia e do cabelo, e pudessem ver dentro dela, temia Marilyn, descobririam somente uma boneca de pano. Apesar de todas as aparências positivas, a fonte de informação de quem somos nós, a verdade sólida sobre o nosso valor, o veredito de apreciação de alguém que viu todos os nossos mistérios e profundezas, deve ser encontrado em outro lugar. Apreciamos os elogios gentis que chegam, mas ansiamos pela voz do juiz verdadeiro.

A nossa fome contemporânea de verdade nos consome. Apesar de toda a discussão sobre a pós-modernidade e a sua negação da verdade, eu sinto que ansiamos pela verdade mais do jamais fizemos. Desejamos histórias que sejam, acima de tudo, verdadeiras: histórias que mostrem o mundo como ele é, que não tenham medo da complexidade, que apresentem personagens divididos e sutis, que revelem os nossos motivos interiores, que acabem de modo consistente à trama e ao mundo, mesmo que não seja um final feliz. Em um mundo de imagens fabricadas, de updates  do Facebook e do Twitter sempre pra cima, queremos ir além das camadas de artificialidade e contemplar a verdade nua e crua sobre quem somos e sobre o mundo.

A questão que “vale um milhão de dólares”, então, é essa: onde encontramos essa verdade? Quem é que pode dizer – definitivamente, com a nossa concordância completa, com aquela atmosfera definitiva de autoridade – quem somos nós? Alguns dizem que encontramos a verdade dentro nós mesmos, depois de muita reflexão, e provavelmente com a ajuda de um psicanalista. Outros dizem que depois de longas viagens, depois de anos em países diferentes, depois de visitas a muitos gurus e bestsellers. Ainda outros defendem que essa verdade absoluta não pode ser encontrada – contra a fome profunda das nossas almas – e é, na verdade, só uma construção social.

A minha convicção, entretanto, é que, apesar de encontrarmos boas verdades ao viajar para dentro e para fora, a verdade que buscamos chega só com um encontro específico: só quando encontramos o nosso Criador. Como um bom clímax sutil, nós desejamos e tememos esse encontro. Mas só quando nos despimos diante de Deus, só depois que o passo existencial é dado, é que seremos lavados pela verdade e clareza e confiança e graça. Só quando encontramos o nosso Criador, o universo vai fazer sentido, e descobriremos qual o nosso lugar nele. Ou, como colocou Jesus, “Vocês conhecerão a verdade, e a verdade os fará livres.” (Jo 8.32)

• René Breuel é brasileiro, autor de O Paradoxo da Felicidade (ed. Hagnos), missionário e pastor da Chiesa Evangelica San Lorenzo, em Roma, Itália, e editor do fórum wonderingfair.com.

Nota:
1. Marilyn Monroe, Fragments: Poesie, Appunti, Lettere [Fragmentos: Poemas, Anotações, Cartas], ed. Stanley Buchtal and Bernard Comment, trad. Grazia Gatti (Milão: Feltrinelli, 2010), 97.

  1. Lindas verdades, só Nele encontramos o sentido, não há nada nesse mundo que se compare ser preenchido por ele, a história da Marilyn pode lembrar aquele versículo “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? “Marcos 8:36, Ele é o tudo que nos preenche de verdade!!

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