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Pieter Bruegel the Elder – The Tower of Babel (Vienna)

Por Vinnícius Almeida

Triste pelos últimos acontecimentos da semana…

Parece que vivemos numa Babel de dialetos incompreendidos. Teria o discurso ideológico sucumbido a espiritualidade? Ou ainda, a capacidade de dialogar?

É nublado o horizonte de fraternidade. O que emerge é um espectro de violência e hostilidade que permeia as múltiplas vozes polarizadas. Gritam, mas nada comunicam! Pelo menos, quando o assunto é promover uma mensagem de Paz, proclamada na ética das religiões, e, especificamente neste caso, daqueles que falam em nome do Evangelho…

Nossa linguagem teológica fala sobre a divindade que cremos? E nossa alteridade? Nossa sensibilidade? Empatia? Sem nenhuma gota de romantismo ou desconhecimento acerca da singularidade das diferenças, precisamos urgentemente de diálogos e encontros. Nossas fofocas de janelas fechadas vêm sendo pretexto para que cada voz ecoe apenas na própria sala de casa (ou teclada do computador), isolada nas quatro paredes do quiosque das ilhas virtuais e sectárias.

Aprendi há algum tempo que a Igreja é maior do que eu penso… E o Cristianismo é um profundo mar que contempla as mais belas praias espalhadas por suas tantas realidades: locais, globais, regionais e, universais.

Não se trata de nenhuma redundância aqui! Por isso brinco sério quando digo que moro no Cristianismo! No entanto, não customizo seus postulados, tampouco, seleciono apenas o que quero… É justamente aí que mora o risco! Dos equívocos! Das ênfases demasiadas! De desconsiderarmos o essencial. Das lentes desfocadas, míopes ou desajustadas diante das complexidades que nos cercam…

Então enroscamo-nos nas próprias relações! Típico do mundo líquido! Bloqueamos aqueles que apresentam conflitos. E que mantenha-se “o meu pensamento”!

É tão difícil a prosa com o “Tu”. Não estaríamos nós sendo afetados por uma espécie de “narcisismo discursivo?” Numa era onde impera as próprias ideias, por mais que se fale sobre “pluralidade?”

Caminhar em comunhão mesmo quando há divergência das perspectivas ideo-políticas e teológicas, pode ser possível? Não falo aqui dos oportunistas, dos idólatras, de quem apela por curtidas e por fama. Alguns, porque acham que estudam sobre livros sagrados, religiosidades e divindades, se apropriam disso para decretarem os ramos e rumos da igreja no curso da história… (Misericórdia Senhor!) É grave toda vez que a pregação humana caminha para a própria glorificação.

Babel se ocultou por detrás da torre, foi quando a construção da cidade se tornou pecado. O ufanismo presente justamente na confusão e vanglória do discurso dos homens provoca a confusão das línguas. Então, de onde procedem os profetas? São as personalidades midiáticas? Os grandes avatares virtuais? Os carismáticos? Aqueles de boa retórica? Não necessariamente! Conheço vários “sub pops”! Estão por aí, No chão da vida, nas cidades, vielas e vilarejos…

Entendo claramente as incertezas e a crise de identidade que sofre a cristandade, que perde suas substâncias mais cabais e tende a relativizar esses elementos. São ruídos que comprometem a verdade revelada e desestabiliza a jornada espiritual. Contudo, os frutos da graça estão aí… bem em meio ao corpus mixtum. E é no sabor desses frutos que adoçam a cultura que tanta coisa ainda faz sentido… Tem gente que quero por perto. Preciso deles! Porque aprendo! Porque motivam, inspiram com o testemunho e estilo de vida que seguem em nome de algo maior do que suas próprias vontades! Decidiram acreditar naquela mensagem que chamamos de “boa nova”! Para isso, dedicam o seu cotidiano simples naquilo que consideram extraordinário.

Ora, e qual é a alternativa para a confusão de línguas? Para a Babel maluca e desnorteada? O poder de Cristo! No Pentecostes , o milagre das línguas de fogo, provocado pelo Espírito Santo (At 2.2-5), sinaliza à Igreja a tarefa de trabalhar pela unidade da Palavra. A Igreja não possui uma linguagem própria, sectária ou confusa, mas fala o Idioma do Evangelho, na qual anuncia as maravilhas de Deus a partir dos caminhos conduzidos pelo próprio Santo Espírito.

O Evangelho é o idioma da Igreja!

Neste dia, pedi a Deus que conduza-nos enquanto igreja brasileira, para além de qualquer projeto ético-político ou societário, mas ajude-nos, no serviço do reino de Deus, que, apesar de produzirmos justiça e louvor nestas esferas, aponta especialmente para o pleno governo, a perfeita gestão eterna, do Cristo, Senhor e soberano sobre todas as coisas…

Alguém duvida? Eu creio…

• Vinnícius Almeida, é assistente social, estuda Religião e Cultura pelo UNIFAI e Teologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segue Jesus, o Cristo, caminha na fé e anda de skate. Publica no Blog Caminhada Figurada.

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