Não abra o presente“Não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira.” Cantares 3.5

Lembro-me de um Natal em que fui com minha mãe comprar meu presente: uma linda boneca que tinha um cabelo gigantesco e vários acessórios para ele. Fiquei encantada, pois era muito sofisticada. Apesar de ter comprado antes da data e não ter sido surpresa, minha mãe sugeriu que eu só abrisse o embrulho na noite de Natal, no dia 25 de dezembro. Quanto sofrimento ficar olhando para o lindo embrulho e não poder abri-lo! Por fim, não consegui esperar e abri o presente antes da data. Na hora foi o máximo, brinquei muito com a boneca, fiz todos os penteados possíveis, me diverti bastante. Mas, no dia 25 de dezembro, no Natal, quando eu deveria abri-lo oficialmente, senti uma tristeza muito grande: minha boneca já estava usada e havia perdido o cheiro inconfundível de nova. E, é claro, naquela data não ganhei presente de Natal porque já havia aberto meu presente duas semanas antes da hora certa.

Certa vez ouvi que o sexo é como um presente de casamento que Deus nos dá, diferente dos outros que recebemos quando nos casamos, o qual usaremos a vida inteira para manter um outro presente que ele nos dá: o amor pelo nosso cônjuge. Gosto de pensar no sexo dessa forma: criado por Deus para manter unidos um homem e uma mulher por toda a vida, no casamento, para aumentar o amor deles cada vez que se unem, como se fossem realmente “fazer amor”, “produzir amor”. Nasci na década de 80, no século passado, e lembro-me de ouvir as pessoas falando sobre “fazer amor” em vez de “fazer sexo”. Em inglês ainda é assim: make love, mas nunca ouvi um adolescente da nova geração falando sobre “fazer amor”.

Acredito que o sexo é como um remédio, que, quando tomado corretamente, tem um efeito benéfico, mas, se for tomado da forma incorreta, pode trazer consequências fatais. No casamento é como um remédio ou um mantenedor do amor entre o casal. Fora do contexto do casamento seria como um remédio tomado fora da hora, sem prescrição médica ou na dose errada.

Então, por que desejos sexuais não vêm só quando dizemos sim no altar? – pensei outro dia desses. Seria perfeito! Por que minha mãe não escondeu a boneca e me entregou só no dia de Natal, quando eu realmente deveria recebê-la? Deus nos criou com sentimentos e desejos, feitos de carne, mas ao mesmo tempo com inteligência e livre-arbítrio para escolher nossos caminhos. Minha mãe provavelmente queria me ensinar desde pequena sobre a arte da espera e sobre as consequências da desobediência. Deus nos deu a capacidade para resistir às tentações e o caminho certo para seguirmos, e ele quer nos ver esperar pelo melhor que virá no tempo certo, para que esse melhor realmente tenha valor em nossa vida.

Que saibamos esperar pelo sexo depois do casamento. Vai valer a pena e teremos a recompensa dessa decisão por toda a vida conjugal, pois Deus é fiel para recompensar aqueles que são fiéis a ele. Não abra o presente antes da hora.

Ana Gabriela é blogueira do Meus Outonos e Primaveras, professora de inglês e professora de escola bíblica para adolescentes. Curte música, literatura e sorvete de baunilha, e sonha em se casar, ter três filhos e uma poodle teimosa.

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