Uma história, nossas histórias
Por Jeverton “Magrão”
Um domingo de sol, barracas, o colorido das frutas, o cheiro do pastel numa típica feira e seus frequentadores.
São tantos os sons, que mais um não fará diferença. A música irrompe na atmosfera onde os artistas são os feirantes e sua criatividade para despertar o interesse dos fregueses.
A melodia e letras que tratam e retratam a vida, e o vazio que muitos sentem, parecem despertar o interesse de alguns poucos.
Sou um observador atento aos movimentos, detalhes que não podem passar desapercebidos, pois no meio da multidão transita a consciência. Entre uma música e outra são lançadas palavras que confortam, confrontam e deveriam levar as pessoas a pensarem sobre suas próprias histórias.
Percebo que poucos dão ouvidos, entre eles, um jovem adulto. Ele para sua bicicleta e, por alguns instantes, parece desligar-se de tudo ao seu redor. Será esse um dos conscientes no meio da multidão?
Ainda não o conheço, mas ele me faz olhar para mim mesmo e rever minha própria trajetória, percebendo que há anos sou um cara que se encontrou com o sentido de se estar vivo.
A música silencia e nós voltamos aos sons típicos do ambiente.
Começa a história do jovem que, num rompante, resolveu aventurar-se pelo mundo, levando na mochila o desejo de experimentar o que de melhor a vida tem para oferecer e, de quebra, gastar um bocado de grana.
O jovem adulto continua lá e agora tira o boné, os óculos e mostra o rosto cansado e os olhos que começam a marejar.
Escuta tudo atentamente e por, um momento, tenho a impressão que ele percebeu minha presença observadora. Estou ali e não me aproximo.
A saga do jovem aventureiro vai chegando ao final e o nosso ouvinte está paralisado, imerso naquela que talvez fosse sua própria história — sem o anel e as roupas novas. Estaria ele sem coragem para voltar para casa e encontrar o pai de braços abertos?
Chega a hora de deixar meu papel de observador e me fazer presente na vida do jovem que por agora vou chamar apenas de A. Dou uns poucos passos e, sim, estou frente a frente com meu igual, alguém com uma vida, dramas, decepções e, como eu e você, por vezes sem saber para onde ir, já que resolvemos trilhar nosso próprio caminho. É hora de voltar e perceber que tudo pode ter um recomeço.
Ele me abraça e encosta sua cabeça em meu peito, as lágrimas correm. Juntos, nos lançamos nos braços do Pai. Sou movido a apresentar nossas vidas em oração.
Vivencio uma vez mais a sublime beleza de sentir a singeleza do encontro, do abraço sincero e da vida que deseja seguir sonhando.
O jovem A é mais um desses anônimos – invisível para muitos. Um entre tantos que compartilham desse tempo e dessa história.
O resgate de vidas está bem ao nosso lado e o mundo precisa de pequenos gestos de amor que só exigem de cada um de nós, peregrinos, sensibilidade, compaixão e um olhar atento.
A minha história, a história do A e a sua própria história não termina aqui.
• Jeverton “Magrão” Ledo é missionário e pastor de jovens.
Matheus Ferré
Muito bom Magrão, cada vez melhores os seus textos!