Sobre ser só
Por Fabrícia Soares
“Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só”. Jo 16.36
Estar só pode ser um estado apreciado por muitos, mas em alguns momentos do dia ou da vida ser só não é muito satisfatório. Ser ou estar, a meu ver, parece dois estados voluntários e involuntários. Às vezes queremos estar sozinhos e outras não suportamos a ideia de sermos sós.
Entendo o fato de querer estar só. Todos nós precisamos de um tempo nosso para pensar, para arrumar o que está fora do lugar e para não fazer nada, apenas olhar o tempo passar. E é incrível como aproveitamos muito bem o nosso tempo quando queremos fazer ou não fazer alguma coisa; um exemplo claro é que aproveitamos mais um livro quando estamos sozinhos; que a caminhada é mais produtiva quando não há ninguém ao lado para conversar; que você percebe o que o compositor quis dizer em certas estrofes da canção sem que ninguém esteja do seu lado cantando. Você arruma a casa com mais satisfação quando não tem ninguém para ficar pisando no seu chão que acabou de limpar; que ficar na internet é bem melhor quando não tem ninguém atrás de você perguntando “o que é isso, o que é aquilo” (não sei porque, mas me identifico muito com esse trecho). Vai perceber que assistir televisão é extremamente reconfortante quando não há ninguém sugerindo um canal e que o sofá está totalmente a sua disposição. Você vai entender isso quando estiver num momento de tranquilidade sozinho e de repente alguém toca a campainha. Aí você se pergunta: “quem será?”. Optar por estar só, na grande maioria das vezes, te fará muito bem.
Se por um lado, estar só pode nos beneficiar, por outro, ser só pode nos amedrontar. Quem nunca, pelo menos por um instante, não se imaginou sozinho? O ser só amedronta muitos de nós. Não ter alguém para conversar por um dia pode ser normal, mas não ter a presença de alguém em nossas vidas por muito tempo é, de certa forma, angustiante.
Há dias que o sentimento da solidão está mais aflorado em nós, principalmente quando percebemos que algumas situações naturais da vida nos levam a estar só. Ser só nos entristece e nos desanima; ser só é tirar a opção de estar só; é não ter com quem sair; é não ter com quem conversar; é não ter alguém a quem visitar.
A presença física do outro muda a vida de qualquer um. Por isso entendemos porque não é bom viver só; e que “é melhor serem dois do que um”. Mas essas pessoas não estarão sempre conosco. As escolhas e até mesmo o curso da vida vai levar-nos para caminhos diferentes. Algumas delas terão outras prioridades que não tinham antes. Assim como nós, terão responsabilidades que não tinham antes.
Ninguém ficará ao nosso lado por uma obrigação por que ocupa uma posição afetiva ou fraternal em nossas vidas. Quem sabe não é chegada a hora de todos serem dispersos, cada um para a sua casa? Cada um para o seu futuro? Cada um para seus projetos? Cada um para as suas vidas? Nós também nos ausentaremos da vida de algumas pessoas. Nós também seremos dispersos para as nossas casas e para as nossas vidas. E quando esses momentos chegarem à vida de cada um, certamente nos sentiremos sós, mas não estaremos. O Pai estará conosco.
O nosso estado de solidão não deve ser maior que a certeza da companhia de Deus em nossos dias. Nunca saberemos sobre o tempo e estações que virão até nós. A única certeza que temos sobre o amanhã é que Ele estará lá.
Ajuda-nos, Jesus!