Por Antognoni Misael

O mais novo trabalho da banda Palavrantiga, nem secular, nem gospel, mas que toca no “mundo” e na igreja, novamente me surpreendeu. Intitulado “Sobre o mesmo chão”, o disco é como um livro sonoro que precisa ser bem lido, apreciado e aproveitado.

Por trás de toda versatilidade poética de Marcos Almeida, líder da banda, se encontra o que ele mesmo chama de “os fios coloridos da dádiva”. Certo de que toda inspiração para arte vem de Deus, Almeida dá pistas de que sua cosmovisão é uma mescla de Evangelho descomplicado, rock in roll, MPB, filosofia, literatura e uma pitada pessoal do jeito de ser de cada integrante do grupo.

Acredito que, tanto para mim quanto para muitos, a canção “Rookmaaker”, presente no disco anterior e regravada em “Sobre o mesmo chão”, tornou-se uma espécie de apresentação pessoal da banda perante os desafios da arte cristã na contemporaneidade. O pensamento do crítico holandês parece bem compreendido pela música do Palavrantiga, que por sinal reverbera um discurso de interação com o mundo, tecendo na diversidade, olhando por cima de rótulos religiosos e desdenhando da obrigação de justificar sua própria arte.

Diante da ascensão do mercado “gospel”, da popularização da música dita “gospel”, dos intensos debates e segmentações a respeito do rumo da música evangélica no Brasil, ao que me parece, Palavrantiga passeia na liberdade de fazer arte, cosmovisão, forma e conteúdo. Portanto, talvez a desnecessária “necessidade” de categorizar ainda vigore diante dessa época de disparidades, banalização, “fogo amigo” ou o que quer que se pense por aí. Contudo, a sensação que sinto no “Palavra…” é a liberdade de se espalhar a Boa Nova por tudo que for lugar. Como uma banda de rock, não um ministério de levitas. Não vejo melhor forma de viver o ofício do que esta: passeando o amor e a vida “Sobre o mesmo chão” do mundo.

Como toda criação é feita a partir de algo já pronto, como bem frisou Almeida, aqui vai uma breve tecelagem do que ouvi em “Sobre o mesmo chão” e minhas rápidas sensações, por assim dizer, poéticas:

Sobre o mesmo chão está o muro, e o lado de lá, que você esqueceu” [Palavrantiga].

“Pois, vós sois a luz do mundo, não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte”.[Mt 5.14]

E a gora tanto faz o que é sagrado. Nada importa se isso tudo não for antes santificado bem no interior do meu peito deserto”. [Palavrantiga]

“Pois para um homem que vive para Deus nada é secular, tudo é sagrado” [C. H. Spurgeon]

Branca, a pele tão branca não esconde a pureza da alma. É claro, só mostra essa força que salta e inspira a gente a caminhar”. [Palavrantiga]

“Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre. Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida”. [Milton Nascimento]

Já faz um tempo que eu me apego naquele livro que anuncia minha liberdade”. [Palavrantiga]

“Pois se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. [Jesus em Jo 8.36]

Ela saiu sozinha, longe de casa está. Mal se despiu ao mundo, vejo o medo no seu olhar”. [Palavrantiga]

E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?”. [Jesus em Jo 8.10]

Deixa eu viver a boa nova. Deixa eu me encontrar com esse amor todos os dias” [Palavrantiga]

“Pois a felicidade é uma porta que sempre se abre pra fora. Quem forçá-la para dentro ordena que o amor vá embora”. [Kierkegaard em Jorge Camargo] 

 

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Antognoni Misael é professor de música (UFPB) , historiador (UEPB), membro da Igreja Presbiteriana do Brasil (Guarabira-PB) e escreve no blog “arte de chocar“. Texto originalmente publicado no blog do autor. Direitos reservados. Reprodução autorizada.

  1. Bem, como um amante da boa música cristã, analiso o novo cd da banda PalavraAntiga, como um compêndio anfibológico de sonoridade descompassada. A falta da teoligização nas músicas cristãs é algo cultural emergente do evangelical contemporâneo. Cada vez mais os vernáculos cristãos são ocultabilizados. A história é um testemunho para trazer ao presente como eram e, ainda são tocantes, as canções do passado cristão inspirador na composição das letras fortes e contundentes, explicitamente divina. Não se tem mais hoje um “H. Maxweel Wright, Jahn Sorheim, Paulo Leivas Macalão, Frida Griven, etc,etc. O mitiê gospel de hoje é uma taquara rachada, em desarmonia com o propósito do louvor a Deus!

    • Espera um pouco…deixa eu bater palmas para esse comentário super pertinente e cheio de verdades…argumentou de maneira impecável…de fato a música cristã carece de teologia…a base bíblica foi dispensada a fim de alcançar visibilidade…e sabe por que? A verdade biblica não envaidesse…é loucura para o mundo…e se não traz fama…não é interessante para os que buscam lucro…

    • Anderson Siqueira Basso

      O post do professor é mais coerente… Esse comentário estapafúrdio cheio de crítica , é por fim, dissertado por algum religioso , que com aparência de santidade, não pode perceber quão carregado de “Boas Novas” cada composição foi criada. Visto q claro, o dono das belas “e complicadas” palavras, sondou o coração do compositor, e chegou a essa conclusão. Porém é digna de respeito, afinal, cada um vê e expressa aquilo conforme consta em seu coração. E tão semelhante a Jesus em sua simplicidade ensinando verdades eternas por parábolas, e ocultando as mesmas dos fariseus . Realmente Deus escolhe coisas loucas.

  2. Analiso o novo cd da banda PalavraAntiga, como um compêndio anfibológico de sonoridade descompassada. A falta da teoligização nas músicas cristãs é algo cultural emergente do evangelical contemporâneo. Cada vez mais os vernáculos cristãos são ocultabilizados. A história é um testemunho para trazer ao presente como eram e, ainda são tocantes, as canções do passado cristão inspirador na composição das letras fortes e contundentes, explicitamente divina. Não se tem mais hoje um “H. Maxweel Wright, Jahn Sorheim, Paulo Leivas Macalão, Frida Griven, etc,etc. O mitiê gospel de hoje é uma taquara rachada, em desarmonia com o propósito do louvor a Deus!

  3. A arte não é um seminário de discussões teológicas
    Deus não condena ninguém por fazer reflexões fora do contexto bíblico, acho estrema arrogância desprezar canções que assim cm toda a manifestação artística nos leva a refletir sobre a vida e os limites do radicalismo (politico, cultural ou religioso) a proposta da banda não é fazer você adorar, mas apreciar de forma crítica seu conteúdo.

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