Por Mateus Octávio

Em janeiro de 2010 a humanidade presenciou uma tragédia que seria, sem dúvida, uma das maiores de todos os tempos. O povo haitiano cruzava um vale escuro de perdas incontáveis e o mundo comovido, solidarizava-se. O famoso escritor português e Nobel de literatura, José Saramago, em estado crítico de saúde na época, pediu à editora do seu livro Uma Jangada de Pedra que publicasse uma edição especial para que toda a renda fosse revertida em favor dos haitianos.

Hoje, quase três anos depois, livre da forte sensibilidade do momento, percebo o gesto de Saramago. A linda e vibrante descrição do livro dizia: “Porque todos temos uma obrigação”. Essa não foi para ele uma questão de escolha ou alternativa. Ecoou não como uma opção bela de um gesto de sensibilidade, mas avolumou-se como uma verdadeira missão. Vale lembrar, como o próprio Saramago disse certa vez: “… somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir…”. Todos temos um compromisso inadiável.

A palavra que traduz essa atitude nas Sagradas Escrituras é “justiça”. Justiça é um direito que o meu semelhante tem: o outro que não tem suas necessidades mais básicas, quando eu em abundância possuo. Praticar a justiça é dar a cada um o que é seu. Não dar é como negar ao bebê que acabara de nascer que seja amamentado. Isso é sublime porque independe de teologias, ofícios ou crenças. Sem contar que fazer apenas nosso dever não nos eleva como grandes.

Não podemos dar nada que recompense, acrescente ou sirva de gratidão ao Criador de tudo. Por isso é que Ele pede que façamos aos seus pequeninos e isso é como se fizéssemos a Ele. Deus, em sua graça, nos deu para repartirmos. Ter é uma dádiva, assim como dar, é graça, é deixar manifestar em nós o favor divino.

Um antigo provérbio judaico dizia que “quando salvamos uma vida, salvamos o mundo inteiro”. Talvez esse seja o melhor momento para olharmos para o nosso povo. Não é uma mensagem nova, nem um esforço demasiadamente alto, muito menos precisamos ser super-heróis. Se honrarmos apenas a nossa responsabilidade, já “salvamos” o mundo.

Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.16).

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Mateus Octávio Alcantara de Souza tem 20 anos, é Bacharel em teologia e escreve no blog Meditações*

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