Aqui está o último texto prometido na seção Altos Papos da edição de Janeiro e Fevereiro da revista.

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Quase todas as sextas-feiras são iguais em Belo Horizonte, MG. Nas áreas nobres da cidade, jovens se aprontam para a balada em inferninhos, boates e bares chiques da zona sul. No Prado, Santa Tereza e Floresta, há espaço para os boêmios ao som do samba e do chorinho. Mais ao norte, o forró e o black atraem para os bailes tanto dançarinos jovens quanto os mais maduros. Já o Centro é o point dos botecos, que reúnem pessoas de bairros populares da capital e cidades da região metropolitana. É ali também que está a maioria dos moradores de rua e prostitutas da cidade e, junto deles, um grupo de cristãos dispostos a cumprir o chamado de Mateus 28.19 e apresentar a mensagem do evangelho a quem quiser ouvir. O objetivo não é acabar com a alegria fugaz dos festeiros da madrugada, mas levá-los a conhecer um motivo permanente de felicidade: o carinho de Deus. Por isso, o nome da iniciativa é Madrugada do Carinho com Deus.

Organizada sempre na primeira sexta-feira do mês por, em média, 65 voluntários vindos das mais diferentes denominações evangélicas – contando, às vezes, com alguns católicos –, a Madrugada acontece desde 1996 nas principais avenidas do centro de BH. Seu foco, desde sempre, foi abraçar os marginalizados, isto é, a população “em situação de rua”, como define o atual coordenador, pastor Maurício do Amor Divino Costa. “Nosso trabalho é voltado para atender a mendigos, crianças de rua, dependentes químicos, travestis, prostitutas, famílias carentes da cidade, mas também pregamos para os transeuntes que cruzam conosco pela noite”, informa.

Além da oportunidade de Salvação, os grupos que representam o projeto também carregam consigo pão com manteiga e leite achocolatado, usados como “cartões de visita”. Folhetos, roupas, prancheta para anotar informações e alguns conselhos também são boas “armas” dos integrantes, que encontram uma infinidade de tipos urbanos com necessidades diversas em uma mesma noite.

Maurício esclarece que a principal preocupação da Madrugada é mostrar que a reinserção social é possível. “Nossa perspectiva é que a população em situação de rua possa ser reintegrada à sociedade, resgatando vínculos familiares e adquirindo ferramentas que a possibilite definir novas escolhas para sua vida”, explica. Para isso, há uma equipe que trabalha além das sextas-feiras, recolhendo alimentos para cestas básicas, mantendo contato com as pessoas cadastradas no evangelismo e atendendo a moradores de rua e famílias carentes todas as segundas-feiras, na Igreja Batista do Barro Preto, comunidade que abriu suas portas ao projeto.

Outra vertente do projeto é o envio de dependentes químicos a clínicas de reabilitação, onde são mantidos com ofertas recolhidas nos encontros mensais ou doações via depósito bancário.

Mais do que carinho

Como muitos projetos sociais, a Madrugada do Carinho com Deus se vê às voltas com muitos desafios. O primeiro é a necessidade de voluntários fixos dispostos a ajudar as pessoas abordadas semanalmente, sendo facilitadores para o resgate dos vínculos familiares, comunitários e sociais. O segundo é a busca por ferramentas que estimulem os atendidos a superar a discriminação e se reinserir no mercado de trabalho. Mantenedores ,pessoas que queiram adotar, espiritual e financeiramente, aqueles que estão em recuperação do vício em drogas e álcool em clínicas, também são necessários:. O maior desafio, no entanto, segundo o pr. Maurício, “ainda é a busca por um local fixo para o funcionamento semanal do projeto. Precisamos de uma estrutura na área central para fazermos o atendimento e a triagem dos moradores de rua”.

Histórias de vida (por Letícia Bessa)

Livre da prostituição – Deusa de Fátima vivia nas ruas, durante as madrugadas, se prostituindo. Em uma das abordagens da Madrugada do Carinho, ela ouviu sobre o amor de Jesus e aceitou receber uma visita do grupo em sua casa, apesar de não acreditar que eles, de fato, fossem. Moradora de uma favela, ela nunca havia recebido visitas. Depois da primeira experiência, Deusa, seus dois filhos e as pessoas do projeto passaram a fazer um estudo bíblico uma vez por semana. Depois de algum tempo, ela se integrou integrada a uma igreja. Todavia, ainda não havia conseguido outro emprego. Sem marido, ela preferiu ir às ruas catar papéis e latas de alumínio para comprar alimento a voltar à prostituição.

Livre das drogas – Anderson de Oliveira foi encontrado nas ruas da cidade totalmente drogado, mas disposto a mudar de vida. O jovem foi internado, pela Madrugada do Carinho em uma clínica, onde permaneceu por nove meses em processo de recuperação. Hoje Anderson está empregado, voltou para a sua família, está integrado a uma igreja evangélica e cria seu filho de 12 anos.

Um casamento inesperado – Internado por causa do vício em drogas, Flávio Benjamim ficou 11 meses em recuperação. Durante esse período, acabou se apaixonando pela jovem que fazia os estudos bíblicos na clínica. Após deixar o processo, ele começou o relacionamento com a moça. “Tive o privilégio de ser padrinho do seu casamento e de almoçar em sua nova casa, que não era mais as ruas, mas sim um local digno, pois o Senhor faz do homem uma nova criatura, as coisas velhas passam”, lembra o pastor Maurício, coordenador da Madrugada do Carinho.

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Pabline Felix tem 23 anos e é jornalista, graduada pela UFMG. É membro da Comunidade Caverna de Adulão e apaixonada pela ABUB e por Belo Horizonte.

  1. Há vários anos atrás, participei de um trabalho semelhante e com o mesmo nome, só que no Rio. Não sei se ainda é feito. O ponto de envontro e saída era na PIB do Rio, e contava com irmãos de várias denominações. Muitos, inclusive, resgatados de madrugadas anteriores. Não sei se existe, pois perdi depois que passei uns anos fora. Mas, se existe, vale a pena conhecê-lo!

  2. Oi gente.
    fiquei muito feliz em ler a matéria.
    Eu trabalho na madrugada e posso dizer que é um trabalho maravilhoso. Deus não só nos usa e capacita para servir ao próximo, como usa diferentes situações para falar conosco.
    é recompensador e muito gratificante poder ajudar e abraçar moradores de ruas, prostituas e até viciados. Deus tem grande obra na vida dessas pessoas.
    se você mora em Bh e quer fazer parte do projeto, pode entrar em contato comigo.

    Deus abençoe a todos e muito obrigada por divulgar nosso trabalho aqui no site.
    Abraços,

    Jubis

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