Opinião
- 31 de outubro de 2023
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A vida passa muito rápido
Sessenta +
Por Jiro Nishimura
Minha mãe pergunta: “Filho, você não vai casar?”. E eu respondo: “Sim, mãe, não se preocupe que até os 28 anos vou me casar”.
Resposta rápida, mas, na verdade, eu ainda não tinha compromisso algum. Contudo, a pergunta foi o ponto de partida para pensar seriamente sobre quem seria minha companheira para a vida.
Casei-me com Hiromi e, depois de um ano e meio, chegou Ariane, a criancinha mais linda do mundo. No berçário através de uma janelinha de vidro para ver os bebês, eu observava a Ariane todo orgulhoso quando um senhor encostou em mim, apontou uma criança linda também e disse: “Olha, aquela nenê é minha filha”. Todo papai nestas horas é o maior coruja. Quando trouxeram a nenê no quarto, coloquei-a nas palmas das mãos e pensei: “Como vou criar esta criança?”. Não tinha experiência alguma nisso. Senti-me totalmente incapaz nessa jornada.
Minha esposa, linda moça, filha de pastor, pensou que eu fosse um bom rapaz, crente firme. Na lua de mel, ela percebeu que eu era um crente “fajuto”. Ela queria ler todos os dias comigo a revista de meditação diária O Cenáculo. E eu disse a ela que preferia ler Tio Patinhas. Aí começou a jornada dela em oração por minha conversão de verdade.
Em 1976, resolvi participar de um retiro de jovens no acampamento Panorama e, pela primeira vez, tive uma “conversa com Deus”. Ele falando comigo e orientando-me a trilhar seus caminhos, a deixar de ser hipócrita. Nessa época, prometi que seria fiel de verdade, mas precisava da ajuda do Senhor, porque eu não o conhecia e sentia que era impossível seguir a Jesus como meu Senhor e Salvador.
Em 1977, nossa igreja começou a realizar acampamentos de casais, que foram experiências de grande aprendizado. Ouvíamos palestras sobre o papel do marido e da esposa, comunicação no lar, educação de filhos, curso de finanças etc. Esses acampamentos foram como a resposta de Deus àquela pergunta: “Como vou educar esta criança?”.
No ano de 1991, tive uma experiência terrível, quando fui destituído da presidência da nossa empresa familiar. Fiquei totalmente transtornado, ferido, pela forma como o processo foi feito. Queria ficar sozinho e, por três dias, num hotel, chorei as pitangas pela decisão que achava imerecida. No terceiro dia, as lágrimas de autocompaixão secaram e Deus falou comigo pela segunda vez: “Você dá mais valor para sua empresa ou para sua família?”.
Os cursos sobre família que começamos a fazer após 1977 nos acampamentos de casais haviam formado em mim um conceito sobre família. E, também, minha mãe praticou isso o tempo todo. A partir disso, eu pude escolher preservar a família em vez de quebrar a nossa unidade familiar por causa da empresa. Abri mão de qualquer direito na empresa, perdoei meus irmãos. Futuramente, descobri que Deus tinha tudo isso debaixo de seu controle. O processo de perdão começou e daí para frente o convívio na nossa família ficou muito mais fácil.
72 anos. Mas já? A idade que o conselho familiar havia determinado que deveríamos nos aposentar de todas as atividades ligadas à empresa chegou. Eu havia recebido aconselhamento a respeito de me aposentar e não entrar em depressão. Mas entrei. Fui cuidado por psicólogos e psiquiatra e fui entendendo que precisaria reagir contra as artimanhas do cérebro e levantar a autoestima. Compreendi também que era preciso usar minha capacidade para trabalhar em prol dos mais necessitados (Mc 12.30-31).
Nessa época, nosso pastor pediu para cuidarmos dos mais idosos da igreja e formamos o grupo de 60+ . Estávamos prontos para ajudar os irmãos, apoiar as atividades da igreja, pintar salas, formar grupos de pescaria e reunirmo-nos semanalmente para estudar a Bíblia. Todos nós, desta idade, precisávamos de uma oportunidade para nos sentir felizes. Deus nos abençoou.
80 anos. Meus filhos organizaram a festa de bodas de ouro do meu casamento com Hiromi. Foi uma festa muito alegre, com a presença dos meus amigos, e de gratidão a Deus, que nos abençoou copiosamente. Não há coisa melhor do que ser parte da grande família de Deus – e continuar trabalhando até ele nos chamar.
- Jiro Nishimura foi o primeiro presidente da empresa Jacto, sucedendo o fundador, o senhor Shunji Nishimura. É membro da Igreja Evangélica Holiness de Pompeia, São Paulo, e conselheiro emérito da Universidade da Família (UDF).
REVISTA ULTIMATO | ENVELHECEMOS. Quando foi que isso aconteceu?
A Bíblia fala de florescer e também de enfado; de frutos e também de dor. De esperança e planos e também de esquecimento e invisibilidade.a A boa notícia é que é possível aprender a envelhecer.
É disso que trata a matéria de capa da edição 404 da revista Ultimato.Enfim, o mundo mudou, as perguntas mudaram, as frustrações e as tentações mudaram, assim como as possibilidades também mudaram.
Saiba mais:
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
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