Opinião
- 18 de março de 2024
- Visualizações: 2098
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Uma cruz pisada
Por William Lane
Um pastor idoso visitando uma pequena igreja de bairro numa cidade de porte médio no interior do estado de São Paulo, em meados dos anos 1980, se deparou com uma singela cruz de madeira pendurada na parede atrás do púlpito daquele pequeno templo. Ficou chocado, se não escandalizado. Uma cruz dentro de uma igreja presbiteriana! Mostrou o seu espanto ao presbítero local.
Algumas igrejas protestantes no Brasil foram – e talvez ainda são – muito minimalistas quanto aos símbolos religiosos. Para alguns, nem mesmo a cruz deve estar presente nos templos religiosos protestantes. Isso se deve provavelmente a pelo menos três fatores: a uma fé que valoriza mais a racionalidade pelo ouvir a palavra do que outros meios sensoriais; a uma tradição puritana que esvaziou o culto de quaisquer símbolos, exceto os símbolos dos sacramentos; e, possivelmente, a uma herança histórica do Brasil Império quando igrejas protestantes recém-chegadas eram proibidas de ter em seus recintos de culto qualquer semelhança arquitetônica com um templo cristão católico romano, a religião oficial do império.
Mas a cruz é um símbolo milenar e singular da fé em Jesus Cristo e da graça da salvação alcançada pelo sacrifício vicário de Jesus. É singela. Representa o sofrimento e, ao mesmo tempo, a vitória sobre a morte. O sofrimento, porque a morte de cruz era lenta em consequência da sede, fome, exaustão e flagelo1. Jesus faleceu em algumas horas, mas, não era incomum alguém passar dias se agonizando até expirar seu último fôlego. Ainda assim, o sofrimento de Jesus foi agonizante e intenso. A cruz também simboliza vitória, pois, a morte foi derrotada. Nas palavras do apóstolo Paulo, citando o profeta Isaías, “a morte foi destruída pela vitória” (1Co 15.54). A cruz vazia desperta nossa confiança e esperança de que em Cristo temos vida para sempre.
O presbítero da pequena igreja, acrescentando ao espanto do pastor visitante, disse: “O senhor já pisou nessa cruz.” O pastor reagiu em protesto: “De maneira alguma! Jamais faria isso.” O presbítero explicou: a madeira daquela cruz tinha vindo do assoalho do antigo seminário, já demolido, onde esse pastor tinha estudado. Todos os dias não só ele como também tantos outros estudantes e professores tiveram na madeira daquela cruz, literalmente, a base de seus pés e dos seus estudos teológicos. O pastor se encantou com a história da cruz, e se rendeu admirado.
A cruz do sofrimento, do espanto, do horror, quando acompanhada da história do que aconteceu, nos faz nos prostrar diante de Deus em tamanho encanto pelo amor e graça indizíveis. Nas palavras do hino “Quero estar ao pé da cruz / Que tão rica fonte / Corre franca, salutar, / De Sião no monte. [...] Desta cruz desejo aqui / Sempre recordar-me; / Dela à sombra, Salvador / Queiras abrigar-me!” E o refrão, “Sim, na cruz, sim, na cruz / Sempre me glorio! / E, por fim, descansarei / Salvo, além do rio.” 2
Notas
1. Paul J. Achtemeier, Harper & Row e Society of Biblical Literature, Harper’s Bible dictionary, 1985.
2. Hino de F. J. Crosby e tradução de J. C. Ribeiro, Hinário Novo Cântico, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1999.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?
Reconhecer que é necessário dar graças pela igreja – a que é e a que será (“igreja triunfante”) – pode ser uma chave para nos aproximar da comunidade dos fiéis, nestes dias em que a confiança nas igrejas e a frequência nelas estão em baixa. Ter feito as pazes com Deus por meio de Jesus Cristo, ter a sua presença próxima, experimentar isso – este é o maior motivo de gratidão.
É disso que se trata a edição 406 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais
» Os Últimos Dias de Jesus - O que de fato aconteceu?, N. T. Wright; Craig A. Evans
» Um Ano Com Jesus – Leituras e meditações diárias, Eugene Peterson
» Conheça a história do hino “Quero estar ao pé da cruz”
Um pastor idoso visitando uma pequena igreja de bairro numa cidade de porte médio no interior do estado de São Paulo, em meados dos anos 1980, se deparou com uma singela cruz de madeira pendurada na parede atrás do púlpito daquele pequeno templo. Ficou chocado, se não escandalizado. Uma cruz dentro de uma igreja presbiteriana! Mostrou o seu espanto ao presbítero local.
Algumas igrejas protestantes no Brasil foram – e talvez ainda são – muito minimalistas quanto aos símbolos religiosos. Para alguns, nem mesmo a cruz deve estar presente nos templos religiosos protestantes. Isso se deve provavelmente a pelo menos três fatores: a uma fé que valoriza mais a racionalidade pelo ouvir a palavra do que outros meios sensoriais; a uma tradição puritana que esvaziou o culto de quaisquer símbolos, exceto os símbolos dos sacramentos; e, possivelmente, a uma herança histórica do Brasil Império quando igrejas protestantes recém-chegadas eram proibidas de ter em seus recintos de culto qualquer semelhança arquitetônica com um templo cristão católico romano, a religião oficial do império.
Mas a cruz é um símbolo milenar e singular da fé em Jesus Cristo e da graça da salvação alcançada pelo sacrifício vicário de Jesus. É singela. Representa o sofrimento e, ao mesmo tempo, a vitória sobre a morte. O sofrimento, porque a morte de cruz era lenta em consequência da sede, fome, exaustão e flagelo1. Jesus faleceu em algumas horas, mas, não era incomum alguém passar dias se agonizando até expirar seu último fôlego. Ainda assim, o sofrimento de Jesus foi agonizante e intenso. A cruz também simboliza vitória, pois, a morte foi derrotada. Nas palavras do apóstolo Paulo, citando o profeta Isaías, “a morte foi destruída pela vitória” (1Co 15.54). A cruz vazia desperta nossa confiança e esperança de que em Cristo temos vida para sempre.
O presbítero da pequena igreja, acrescentando ao espanto do pastor visitante, disse: “O senhor já pisou nessa cruz.” O pastor reagiu em protesto: “De maneira alguma! Jamais faria isso.” O presbítero explicou: a madeira daquela cruz tinha vindo do assoalho do antigo seminário, já demolido, onde esse pastor tinha estudado. Todos os dias não só ele como também tantos outros estudantes e professores tiveram na madeira daquela cruz, literalmente, a base de seus pés e dos seus estudos teológicos. O pastor se encantou com a história da cruz, e se rendeu admirado.
A cruz do sofrimento, do espanto, do horror, quando acompanhada da história do que aconteceu, nos faz nos prostrar diante de Deus em tamanho encanto pelo amor e graça indizíveis. Nas palavras do hino “Quero estar ao pé da cruz / Que tão rica fonte / Corre franca, salutar, / De Sião no monte. [...] Desta cruz desejo aqui / Sempre recordar-me; / Dela à sombra, Salvador / Queiras abrigar-me!” E o refrão, “Sim, na cruz, sim, na cruz / Sempre me glorio! / E, por fim, descansarei / Salvo, além do rio.” 2
Notas
1. Paul J. Achtemeier, Harper & Row e Society of Biblical Literature, Harper’s Bible dictionary, 1985.
2. Hino de F. J. Crosby e tradução de J. C. Ribeiro, Hinário Novo Cântico, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1999.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?
Reconhecer que é necessário dar graças pela igreja – a que é e a que será (“igreja triunfante”) – pode ser uma chave para nos aproximar da comunidade dos fiéis, nestes dias em que a confiança nas igrejas e a frequência nelas estão em baixa. Ter feito as pazes com Deus por meio de Jesus Cristo, ter a sua presença próxima, experimentar isso – este é o maior motivo de gratidão.
É disso que se trata a edição 406 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais
» Os Últimos Dias de Jesus - O que de fato aconteceu?, N. T. Wright; Craig A. Evans
» Um Ano Com Jesus – Leituras e meditações diárias, Eugene Peterson
» Conheça a história do hino “Quero estar ao pé da cruz”
Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
- Textos publicados: 62 [ver]
- 18 de março de 2024
- Visualizações: 2098
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Em janeiro: CIMA 2025 - Cumpra seu destino
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Cheiro de graça no ar
- Vem aí o Congresso ALEF 2024 – “Além dos muros – Quando a igreja abraça a cidade”
- Todos querem Ser milionários
- A visão bíblica sobre a velhice
- Vem aí o Congresso AME: Celebremos e avancemos no Círculo Asiático
- A colheita da fé – A semente caiu em boa terra, e deu fruto
- A era inconclusa
- IV Encontro do MC 60+ reúne idosos de todo o país – Um espaço preferencial