Opinião
- 26 de janeiro de 2018
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Uma conversa sobre imaginação bíblica e fé
Intrigado pelo Mestre de Nazaré, Samuel, o judeu socorrido pelo famoso Bom Samaritano, vai em busca de encontros e histórias dos personagens que viram Jesus. É essa a premissa da série Século I, que já tem dois livros publicados por Ultimato: O Resgate e A Reconstrução.
Através de Samuel, o autor Cayo César Santos transporta o leitor para o primeiro século depois de Cristo, pela vivacidade contada em seus detalhes imaginativos, em uma ficção fundamentada na narrativa bíblica. É sobre a importância de histórias, da imaginação e suas inspirações que conversamos com Cayo nesta entrevista.
O que te motivou a escrever histórias a partir de temas bíblicos?
A motivação básica decorre do meu interesse pelo texto sagrado. Sempre me fascinou pensar que, no conteúdo das escrituras, de algum modo misterioso, mas ao mesmo tempo acessível, temos a mensagem direta de Deus para o homem.
Por outro lado, é inerente ao ato de compartilhar histórias o poder de criar empatia e compreensão, elementos fundamentais para a boa comunicação, algo que Deus deseja ter com o homem. Conte-me a sua história e eu poderei entender quem você é!
Essa troca proporciona, ainda, um processo de identificação e aprendizagem, pois percebemos, ao cabo, que somos iguais em dores e alegrias, na esperança e na desilusão, na morte e na vida. Dada a variedade dos relatos bíblicos, uma razão adicional para a definição do cenário: meu fascínio por Jesus, o desejo de conhecê-lo melhor e de torná-lo mais conhecido para outras pessoas. Então, não haveria lugar mais apropriado para desvendar os meandros do seu drama pessoal do que os evangelhos e todo o conteúdo bíblico que, ao cabo, como bem sabemos, aponta para Cristo, do primeiro ao último livro.
Assim, procurei transitar pelo universo bíblico, interligando acontecimentos e experiências reveladoras do significado de Cristo para a vida humana. Quis fazer isto de modo lúdico, uma tentativa de aproximar as pessoas de um Jesus bem mais acessível, bem mais próximo do “chão” da nossa própria história, o homem de Nazaré.
>> Século I - O Resgate <<
Como surgiu a ideia para os livros de Século I, com o judeu socorrido pelo Bom Samaritano como personagem principal, em busca dos rastros de Jesus?
Esta é uma pergunta interessante que me faz lembrar do processo criativo inicial da série. Para fazer uma obra de ficção, como sempre foi a minha intenção, era necessário um personagem central, em torno do qual toda a trama se desenvolveria.
Tendo refletido, durante muito tempo na escola dominical da IPP e em nosso pequeno grupo, sobre a vida de Jesus, ocorreu-me, em determinado momento, que o próprio Jesus havia utilizado, tantas e tantas vezes, o maravilhoso expediente da imaginação. Toda vez que ele contava uma parábola, estava, de fato, elaborando uma peça de ficção, criando uma estória, com personagens imaginários ou, quem sabe, inspirados na observação atenta que ele fazia das pessoas com quem convivia. Foi aí que Samuel ganhou vida em minha imaginação.
Pensei comigo mesmo, por que não começar pegando emprestado um personagem criado pela mente imaginativa do próprio Jesus? O desafio seguinte era identificar um elemento de aproximação, o ponto de conexão entre as realidades do Século I e do leitor moderno, que muitas vezes conhece as narrativas bíblicas, mas que nem sempre consegue se identificar emocionalmente com elas.
Foi quando, transferindo para Samuel o fascínio que sinto por Jesus, vislumbrei o crescimento, em seu coração, da profunda atração que ele passou a experimentar desde que ouviu falar de Jesus e, ainda, do assombro que foi tomando conta de sua alma em face das descobertas sobre o que o mestre era capaz de dizer e realizar. Neste sentido, não seria exagero identificar um alter ego em Samuel.
Por fim, a impossibilidade de encontrar Jesus pessoalmente no decorrer da narrativa do livro revelou-se como o desafio que aproxima Samuel de todo ser humano que viveu após o tempo limitado da encarnação, tornando-o um arquétipo de todos nós.
>> Século I - A Reconstrução <<
Quais são os maiores desafios ao escrever uma ficção que envolve personagens e cenários bíblicos?
Os desafios são muitos. Eu destacaria três. O primeiro se refere à preocupação constante em manter o maior grau de fidelidade aos relatos bíblicos, muitos dos quais são enormemente conhecidos, e ainda assim, estabelecer um componente de surpresa e admiração, capaz de prender a atenção e curiosidade do leitor.
O segundo está relacionado à necessidade de manter um elevado patamar de embasamento histórico, o qual deve permear não apenas aos aspectos geográficos, mas também aos componentes culturais e temporais dos perfis atribuídos aos personagens. Um agravante nesse exercício de voltar ao contexto histórico e geográfico exato do primeiro século, reside, especialmente, na descrição de lugares e costumes, pois, muitas vezes, me deparava com informações que, conquanto corretas, já descreviam realidades que só começaram a existir séculos à frente, a exemplo dos nomes dos pórticos de Jerusalém, que tiveram substanciais mudanças, no século sexto.
Para enfrentar estes desafios, procurei ter o extremo cuidado de não reescrever nada que o texto bíblico já tinha dito e de balizar a imaginação, com responsabilidade e coerência histórica, onde o texto bíblico deixava lacunas em sua narração.
O terceiro desafio se relaciona ao manejo de um recurso criativo, qual seja, o de encadear os eventos narrados pela Bíblia de maneira que eles não fossem simplesmente relatos ou repetições das escrituras, mas que evidenciassem o minucioso e abrangente plano de Deus para a humanidade.
Veja, neste sentido, que a trajetória de Samuel, narrada no primeiro livro (Século I - O Resgate), evidencia os dilemas e inquietações experimentados pelos judeus diante dos conflitos entre as palavras e atitudes de Jesus, a forma como os religiosos interpretavam a lei judaica e as expectativas que muitos nutriam quanto ao perfil e à missão do Messias prometido. Samuel, como um judeu zeloso, passou por um penoso processo de mudança na forma de enxergar, o que, em nossos dias atuais, corresponderia ao difícil exercício de mudar de paradigma ou do famoso “pensar fora da caixa”.
No segundo livro (Século I - A Reconstrução), as descobertas que Samuel gradativamente foi fazendo revelam o propósito divino de reconstruir o homem, ferido de morte pelo pecado. Assim, os vínculos que estabeleci entre personagens e fatos, por vezes propositadamente marcados por sucessivas coincidências, têm por objetivo levar o leitor, como se utilizássemos o efeito visual do “zoom”, a descobrir que ao curar cegos, coxos, surdos-mudos, escravos morais e mentais das forças do pecado, Jesus estava evidenciando que, no Reino de Deus, os nossos sentidos e capacidades são restaurados, para que possamos, num pequeno vislumbre da eternidade, saber enxergar, ouvir, agir e viver em plenitude, tal como imaginado por Deus no momento da Criação.
Um elemento dificultador no manejo deste recurso talvez seja decorrente da pouca familiaridade do público cristão com o gênero fictício, que não pode se ater à leitura literal que muitas vezes estamos acostumados a fazer.
>> A imaginação tem espaço na leitura bíblica? <<
Que papel a imaginação pode ter no fortalecimento da fé?
Grande pergunta! Destaco que esta questão vem elaborada da maneira mais adequada, ou seja, ela relaciona a fé com a imaginação de forma positiva quando pressupõe, com propriedade, que uma pode fortalecer a outra. Na minha concepção é exatamente isto!
A capacidade de imaginar é a geografia da fé. A imaginação se constituí, de certo modo, no espaço para a construção de uma nova realidade e para que ousemos acolher as insondáveis e misteriosas obras e ações do Senhor. O Deus Criador, para trazer à existência aquilo que não era, precisou usar de sua ilimitada imaginação criativa, já pensou nisto?
Somos imagem e semelhança deste mesmo Criador e, como tal, foi-nos legada a capacidade imaginativa, sabidamente cerceada pela ruptura advinda da queda mas, por certo, ainda presente em nós. Lembro-me das lições do professor Rikk Watts sobre o tema da imaginação, quando ele, sustentando o mais moderno modelo de aparelho celular em sua mão costumava afirmar: “isto aqui só existe concretamente hoje, porque um dia, alguém o imaginou exatamente assim!”
Alguns textos bíblicos nos ajudam a entender um pouco melhor o processo imaginativo em relação à fé. Destaco os seguintes: 1) quando o jovenzinho Davi está se preparando para enfrentar o gigante Golias, curiosamente, ele descreve ao seu inimigo cada um dos eventos que, conforme imagina, se sucederão na iminente e vitoriosa batalha, travada em nome do Senhor. E a vitória veio, exatamente como Davi anteviu...
2) quando o velho Abraão, já cansado de esperar pelo cumprimento da promessa divina de que lhe daria um filho, já idoso e perdendo a esperança, é convidado por Deus para “um passeio ao luar”, em sua conversa com o Criador, enquanto caminhava pelas areias do deserto, Abraão é desafiado a contar estrelas e a contar os grãos das areias sobre as quais pisava. Concluindo ser impossível tal missão, é lembrado por Deus que sua descendência será tão incomensurável como aquelas estrelas, tão incontável quanto aqueles grãos de areia. E o velho patriarca volta para sua tenda com a mente gestada de novas percepções sobre a vida e sobre o que Deus é capaz de fazer, com o coração fecundado por novas possibilidades, enfim, com sua fé fortalecida, reforçada, confirmada!
Lembro-me aqui, da preciosa lição do mestre Osmar Ludovico, que nos adverte para a importância de meditar nas Escrituras a partir das lentes do coração, e não apenas da razão. A Palavra, que gera a fé, deve ser acolhida sim, inicialmente, por nossa mente, mas no amadurecimento desta relação, há que se instalar nos corações pela via do afeto e das emoções. Afinal, não custa lembrar a poesia cantada por Herbert Vianna: “o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu!”
Imaginação é dádiva direcionada exclusivamente ao ser humano, componente essencial da imagem e semelhança do Criador. Devemos usá-la e, preferencialmente, usá-la para alimentar a fé no Filho de Deus.
Através de Samuel, o autor Cayo César Santos transporta o leitor para o primeiro século depois de Cristo, pela vivacidade contada em seus detalhes imaginativos, em uma ficção fundamentada na narrativa bíblica. É sobre a importância de histórias, da imaginação e suas inspirações que conversamos com Cayo nesta entrevista.
O que te motivou a escrever histórias a partir de temas bíblicos?
A motivação básica decorre do meu interesse pelo texto sagrado. Sempre me fascinou pensar que, no conteúdo das escrituras, de algum modo misterioso, mas ao mesmo tempo acessível, temos a mensagem direta de Deus para o homem.
Por outro lado, é inerente ao ato de compartilhar histórias o poder de criar empatia e compreensão, elementos fundamentais para a boa comunicação, algo que Deus deseja ter com o homem. Conte-me a sua história e eu poderei entender quem você é!
Essa troca proporciona, ainda, um processo de identificação e aprendizagem, pois percebemos, ao cabo, que somos iguais em dores e alegrias, na esperança e na desilusão, na morte e na vida. Dada a variedade dos relatos bíblicos, uma razão adicional para a definição do cenário: meu fascínio por Jesus, o desejo de conhecê-lo melhor e de torná-lo mais conhecido para outras pessoas. Então, não haveria lugar mais apropriado para desvendar os meandros do seu drama pessoal do que os evangelhos e todo o conteúdo bíblico que, ao cabo, como bem sabemos, aponta para Cristo, do primeiro ao último livro.
Assim, procurei transitar pelo universo bíblico, interligando acontecimentos e experiências reveladoras do significado de Cristo para a vida humana. Quis fazer isto de modo lúdico, uma tentativa de aproximar as pessoas de um Jesus bem mais acessível, bem mais próximo do “chão” da nossa própria história, o homem de Nazaré.
>> Século I - O Resgate <<
Como surgiu a ideia para os livros de Século I, com o judeu socorrido pelo Bom Samaritano como personagem principal, em busca dos rastros de Jesus?
Esta é uma pergunta interessante que me faz lembrar do processo criativo inicial da série. Para fazer uma obra de ficção, como sempre foi a minha intenção, era necessário um personagem central, em torno do qual toda a trama se desenvolveria.
Tendo refletido, durante muito tempo na escola dominical da IPP e em nosso pequeno grupo, sobre a vida de Jesus, ocorreu-me, em determinado momento, que o próprio Jesus havia utilizado, tantas e tantas vezes, o maravilhoso expediente da imaginação. Toda vez que ele contava uma parábola, estava, de fato, elaborando uma peça de ficção, criando uma estória, com personagens imaginários ou, quem sabe, inspirados na observação atenta que ele fazia das pessoas com quem convivia. Foi aí que Samuel ganhou vida em minha imaginação.
Pensei comigo mesmo, por que não começar pegando emprestado um personagem criado pela mente imaginativa do próprio Jesus? O desafio seguinte era identificar um elemento de aproximação, o ponto de conexão entre as realidades do Século I e do leitor moderno, que muitas vezes conhece as narrativas bíblicas, mas que nem sempre consegue se identificar emocionalmente com elas.
Foi quando, transferindo para Samuel o fascínio que sinto por Jesus, vislumbrei o crescimento, em seu coração, da profunda atração que ele passou a experimentar desde que ouviu falar de Jesus e, ainda, do assombro que foi tomando conta de sua alma em face das descobertas sobre o que o mestre era capaz de dizer e realizar. Neste sentido, não seria exagero identificar um alter ego em Samuel.
Por fim, a impossibilidade de encontrar Jesus pessoalmente no decorrer da narrativa do livro revelou-se como o desafio que aproxima Samuel de todo ser humano que viveu após o tempo limitado da encarnação, tornando-o um arquétipo de todos nós.
>> Século I - A Reconstrução <<
Quais são os maiores desafios ao escrever uma ficção que envolve personagens e cenários bíblicos?
Os desafios são muitos. Eu destacaria três. O primeiro se refere à preocupação constante em manter o maior grau de fidelidade aos relatos bíblicos, muitos dos quais são enormemente conhecidos, e ainda assim, estabelecer um componente de surpresa e admiração, capaz de prender a atenção e curiosidade do leitor.
O segundo está relacionado à necessidade de manter um elevado patamar de embasamento histórico, o qual deve permear não apenas aos aspectos geográficos, mas também aos componentes culturais e temporais dos perfis atribuídos aos personagens. Um agravante nesse exercício de voltar ao contexto histórico e geográfico exato do primeiro século, reside, especialmente, na descrição de lugares e costumes, pois, muitas vezes, me deparava com informações que, conquanto corretas, já descreviam realidades que só começaram a existir séculos à frente, a exemplo dos nomes dos pórticos de Jerusalém, que tiveram substanciais mudanças, no século sexto.
Para enfrentar estes desafios, procurei ter o extremo cuidado de não reescrever nada que o texto bíblico já tinha dito e de balizar a imaginação, com responsabilidade e coerência histórica, onde o texto bíblico deixava lacunas em sua narração.
O terceiro desafio se relaciona ao manejo de um recurso criativo, qual seja, o de encadear os eventos narrados pela Bíblia de maneira que eles não fossem simplesmente relatos ou repetições das escrituras, mas que evidenciassem o minucioso e abrangente plano de Deus para a humanidade.
Veja, neste sentido, que a trajetória de Samuel, narrada no primeiro livro (Século I - O Resgate), evidencia os dilemas e inquietações experimentados pelos judeus diante dos conflitos entre as palavras e atitudes de Jesus, a forma como os religiosos interpretavam a lei judaica e as expectativas que muitos nutriam quanto ao perfil e à missão do Messias prometido. Samuel, como um judeu zeloso, passou por um penoso processo de mudança na forma de enxergar, o que, em nossos dias atuais, corresponderia ao difícil exercício de mudar de paradigma ou do famoso “pensar fora da caixa”.
No segundo livro (Século I - A Reconstrução), as descobertas que Samuel gradativamente foi fazendo revelam o propósito divino de reconstruir o homem, ferido de morte pelo pecado. Assim, os vínculos que estabeleci entre personagens e fatos, por vezes propositadamente marcados por sucessivas coincidências, têm por objetivo levar o leitor, como se utilizássemos o efeito visual do “zoom”, a descobrir que ao curar cegos, coxos, surdos-mudos, escravos morais e mentais das forças do pecado, Jesus estava evidenciando que, no Reino de Deus, os nossos sentidos e capacidades são restaurados, para que possamos, num pequeno vislumbre da eternidade, saber enxergar, ouvir, agir e viver em plenitude, tal como imaginado por Deus no momento da Criação.
Um elemento dificultador no manejo deste recurso talvez seja decorrente da pouca familiaridade do público cristão com o gênero fictício, que não pode se ater à leitura literal que muitas vezes estamos acostumados a fazer.
>> A imaginação tem espaço na leitura bíblica? <<
Que papel a imaginação pode ter no fortalecimento da fé?
Grande pergunta! Destaco que esta questão vem elaborada da maneira mais adequada, ou seja, ela relaciona a fé com a imaginação de forma positiva quando pressupõe, com propriedade, que uma pode fortalecer a outra. Na minha concepção é exatamente isto!
A capacidade de imaginar é a geografia da fé. A imaginação se constituí, de certo modo, no espaço para a construção de uma nova realidade e para que ousemos acolher as insondáveis e misteriosas obras e ações do Senhor. O Deus Criador, para trazer à existência aquilo que não era, precisou usar de sua ilimitada imaginação criativa, já pensou nisto?
Somos imagem e semelhança deste mesmo Criador e, como tal, foi-nos legada a capacidade imaginativa, sabidamente cerceada pela ruptura advinda da queda mas, por certo, ainda presente em nós. Lembro-me das lições do professor Rikk Watts sobre o tema da imaginação, quando ele, sustentando o mais moderno modelo de aparelho celular em sua mão costumava afirmar: “isto aqui só existe concretamente hoje, porque um dia, alguém o imaginou exatamente assim!”
Alguns textos bíblicos nos ajudam a entender um pouco melhor o processo imaginativo em relação à fé. Destaco os seguintes: 1) quando o jovenzinho Davi está se preparando para enfrentar o gigante Golias, curiosamente, ele descreve ao seu inimigo cada um dos eventos que, conforme imagina, se sucederão na iminente e vitoriosa batalha, travada em nome do Senhor. E a vitória veio, exatamente como Davi anteviu...
2) quando o velho Abraão, já cansado de esperar pelo cumprimento da promessa divina de que lhe daria um filho, já idoso e perdendo a esperança, é convidado por Deus para “um passeio ao luar”, em sua conversa com o Criador, enquanto caminhava pelas areias do deserto, Abraão é desafiado a contar estrelas e a contar os grãos das areias sobre as quais pisava. Concluindo ser impossível tal missão, é lembrado por Deus que sua descendência será tão incomensurável como aquelas estrelas, tão incontável quanto aqueles grãos de areia. E o velho patriarca volta para sua tenda com a mente gestada de novas percepções sobre a vida e sobre o que Deus é capaz de fazer, com o coração fecundado por novas possibilidades, enfim, com sua fé fortalecida, reforçada, confirmada!
Lembro-me aqui, da preciosa lição do mestre Osmar Ludovico, que nos adverte para a importância de meditar nas Escrituras a partir das lentes do coração, e não apenas da razão. A Palavra, que gera a fé, deve ser acolhida sim, inicialmente, por nossa mente, mas no amadurecimento desta relação, há que se instalar nos corações pela via do afeto e das emoções. Afinal, não custa lembrar a poesia cantada por Herbert Vianna: “o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu!”
Imaginação é dádiva direcionada exclusivamente ao ser humano, componente essencial da imagem e semelhança do Criador. Devemos usá-la e, preferencialmente, usá-la para alimentar a fé no Filho de Deus.
- Cayo César Santos é casado com Jane e pai de Lucas, Felipe e Rafael. É presbítero da Igreja Presbiteriana do Planalto e membro da diretoria do Centro Cristão de Estudos, em Brasília, DF. É analista e assessor jurídico no Ministério Público Federal.
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