Opinião
- 07 de dezembro de 2010
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"Um verso livre de Adélia que ressoa"
Assisti recentemente a uma entrevista da Adélia Prado na Globo News. Adélia é grande poetisa e escritora. Tendo como padrinho nas letras ninguém menos que Drummond, ela enriquece nossa literatura com seu texto eminentemente feminino, que retrata o cotidiano com perplexidade e encanto, e que é norteado por sua fé.
Em sua entrevista, depois de um silêncio literário de dez anos, Adélia fala de espiritualidade com rara beleza e humildade.
Escrevo sobre ela justamente por essas duas características que notei de maneira tão clara na conversa com o também escritor e jornalista Ednei Silvestre.
Na fé evangélica, falamos de Deus com malandragem. A ideia é “maquiarmos” a abordagem, para fins "evangelísticos". Os receptores, a princípio, não devem perceber que caíram na armadilha dos conquistadores. Quando perceberem terá sido tarde demais. Estarão diante da necessidade de decidir se aceitam o que foi dito ou não.
Também “pregamos” com petulância, sempre conscientes da superioridade de nossas convicções e de nossa herança religiosa em detrimento das convicções e da herança de outros.
Ouvir Adélia falando de Deus é se deixar ser envolvido por um momento de beleza e de sensibilidade de alguém que parece querer simplesmente repartir seus sentimentos, sem desejar absolutamente que eles sejam impostos a quem quer que seja.
Ponderar sobre as palavras de Adélia é não sentir-se ofendido ou acuado por convicções impositivas. É ser conquistado sim, mas pelos encantos da formosura e da delicadeza.
Por tudo isso, Adélia, uma homenagem simples e singela...
IMENSIDÃO
Gladir Cabral & Jorge Camargo
Você não faz ideia da imensidão
Dos muitos rios que desembocam nesse mar
No mar aberto e fundo do seu coração
De um mundo inteiro ainda por se navegar
De toda parte passam as embarcações
Singrando as águas turvas de uma vida a sós
Que clama por sentido e realização
Usando o vento e as ondas como a sua voz
E você lê algum poema do Pessoa,
Uma mensagem escondida na garrafa,
Um verso livre de Adélia que ressoa
Como um soluço incontido que se abafa
E então desaba aquele anseio de infinito
De andar por mares nunca dantes navegados
Uma saudade muda feito quase um grito
O sal da lágrima de amores naufragados
Abrir as velas e abraçar a luz do dia
Olhar à frente e navegar o que é preciso
Vencer a fúria, bem além da calmaria
Provar o sal, o sol, o céu, o rio e o riso
Em sua entrevista, depois de um silêncio literário de dez anos, Adélia fala de espiritualidade com rara beleza e humildade.
Escrevo sobre ela justamente por essas duas características que notei de maneira tão clara na conversa com o também escritor e jornalista Ednei Silvestre.
Na fé evangélica, falamos de Deus com malandragem. A ideia é “maquiarmos” a abordagem, para fins "evangelísticos". Os receptores, a princípio, não devem perceber que caíram na armadilha dos conquistadores. Quando perceberem terá sido tarde demais. Estarão diante da necessidade de decidir se aceitam o que foi dito ou não.
Também “pregamos” com petulância, sempre conscientes da superioridade de nossas convicções e de nossa herança religiosa em detrimento das convicções e da herança de outros.
Ouvir Adélia falando de Deus é se deixar ser envolvido por um momento de beleza e de sensibilidade de alguém que parece querer simplesmente repartir seus sentimentos, sem desejar absolutamente que eles sejam impostos a quem quer que seja.
Ponderar sobre as palavras de Adélia é não sentir-se ofendido ou acuado por convicções impositivas. É ser conquistado sim, mas pelos encantos da formosura e da delicadeza.
Por tudo isso, Adélia, uma homenagem simples e singela...
IMENSIDÃO
Gladir Cabral & Jorge Camargo
Você não faz ideia da imensidão
Dos muitos rios que desembocam nesse mar
No mar aberto e fundo do seu coração
De um mundo inteiro ainda por se navegar
De toda parte passam as embarcações
Singrando as águas turvas de uma vida a sós
Que clama por sentido e realização
Usando o vento e as ondas como a sua voz
E você lê algum poema do Pessoa,
Uma mensagem escondida na garrafa,
Um verso livre de Adélia que ressoa
Como um soluço incontido que se abafa
E então desaba aquele anseio de infinito
De andar por mares nunca dantes navegados
Uma saudade muda feito quase um grito
O sal da lágrima de amores naufragados
Abrir as velas e abraçar a luz do dia
Olhar à frente e navegar o que é preciso
Vencer a fúria, bem além da calmaria
Provar o sal, o sol, o céu, o rio e o riso
Mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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