Opinião
- 01 de abril de 2008
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Um engenheiro e sua fé
Karl Heinz Kienitz
Durante a adolescência aceitei o amor de Deus e suas conseqüências para minha vida pessoal. Por isto, como bom aluno de matemática e ciências naturais não compreendia o pretenso conflito entre fé cristã e as ciências, tão propalado por alguns dos meus professores. Décadas depois, já engenheiro, vim saber que pelo menos oito dos cientistas homenageados no SI (sistema internacional de unidades) foram cristãos convictos: Newton, Kelvin, Ampère, Faraday, Henry, Volta, Joule e Pascal. Todos eles eram mencionados constantemente em aula, mas não sua fé, escondida pelos professores ou talvez desconhecida por eles, mas entendida por cada um dos oito como tendo relevância fundamental. Assim ignorava o que sei hoje, que para o profissional cristão da área de ciências naturais e exatas Hb 12.1,2 vale literalmente num duplo sentido: "Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé" (NVI).
Durante a adolescência a "nuvem" daqueles oito cristãos estava ali, mas eu não sabia. Mais tarde vim a conhecer detalhes de suas biografias e de outros, alguns ainda maiores do que os oito, como James Maxwell, Max Planck e Wernher von Braun. Hoje minha fé co-define a perspectiva que tenho da profissão. A profissão do cristão é uma ferramenta de testemunho e inserção na sociedade, mas, pelo menos no caso das profissões tecnológicas, há mais do que isto. No primeiro capítulo de Gênesis, o livro denominado pelo teólogo suíço Emil Brunner de "Magna Charta da técnica"1, Deus ordena aos homens: "Enchei a terra e sujeitai-a". Isto acontece com tecnologia em combinação com princípios adequados, bíblicos. É também a tecnologia que proporciona mais tempo às pessoas para atividades recreativas e culturais, especialmente a artística. Na Bíblia lemos outras passagens impressionantes com significado especial para o engenheiro. A história da torre de Babel, por exemplo, nos alerta para o perigo da auto-suficiência e da glorificação do homem de forma geral, mas de modo especial na atividade técnica. Um outro exemplo, a história de Noé, revela como Deus usou um artefato de engenharia (no caso a arca) para avançar seu plano com a humanidade. Os livros de Reis narram episódios que alertam para o perigo da confiança exagerada na técnica em detrimento da fé. Além de mensagens específicas como estas, a Bíblia fornece princípios de liderança e um fundamento consistente para a ética profissional. A profissão do engenheiro possui, pois, sua dimensão especial, à qual o cristão e engenheiro Herbert Hoover, trigésimo primeiro presidente dos EUA, se referiu dizendo que "ao engenheiro cabe a tarefa de vestir os ossos da ciência de vida, conforto e esperança".2
É neste último quesito, a esperança, que o engenheiro cristão tem a oportunidade de tornar-se de fato um profissional integral, pois devemos estar sempre preparados para responder a todo aquele que nos pedir a razão da esperança que há em nós (1 Pe 3.15). Nisto, dentre muitos outros, Augustin Louis Cauchy, matemático e físico, foi-nos um exemplo: "Sou um cristão, isto significa: creio na divindade de Jesus Cristo juntamente com Tycho Brahe, Copérnico, Descartes, Newton, Fermat, Leibniz, Pascal, Grimaldi, Euler, Guldin, Boscowitsch, Gerdil, com todos os grandes astrônomos, todos os grandes pesquisadores das ciências naturais, todos os grandes matemáticos dos séculos passados. E se porventura me perguntarem pela razão, terei prazer em explicá-la. Verão que minha convicção é resultado de estudo cuidadoso e não de preconceitos".3 Cauchy estava disposto e preparado a compartilhar sua fé em pontos práticos e inteligíveis, uma fé alicerçada em fatos: o nascimento de Jesus, seu ministério na Palestina, sua morte e ressurreição, fatos testemunhados, registrados, anotados. Tal fé dá-nos perspectiva, confiança e esperança, pois "é pela fé que entendemos que o Universo foi criado pela palavra de Deus ... Foi pela fé que as pessoas do passado conseguiram a aprovação de Deus... Pela fé eles lutaram contra nações inteiras e venceram. Fizeram o que era certo e receberam o que Deus lhes havia prometido. Apagaram incêndios terríveis e escaparam de serem mortos à espada. Eram fracos, mas se tornaram fortes." ( trechos de Hebreus 11)
Hoje, decorridos quase 35 anos de fé pessoal e 25 anos de engenharia, sou grato a Deus por esta profissão especial e pela oportunidade de participar do desafio de, também na e com minha profissão, "batalhar pela fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos." (Jd 3)
Notas
1 O termo foi cunhado por Emil Brunner em sua preleção por ocasião do jubileu da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH Zürich).
2 Herbert Hoover - The Memoirs of Herbert Hoover: Years of Adventure, Macmillan, 1951.
3 Citado conforme J. Gutzwiller - Das Herz, etwas zu wagen, Friedrich Bahn Verlag, 2000.
• Karl Heinz Kienitz é doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça, em 1990, e professor da Divisão de Engenharia Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. www.freewebs.com/kienitz
Durante a adolescência aceitei o amor de Deus e suas conseqüências para minha vida pessoal. Por isto, como bom aluno de matemática e ciências naturais não compreendia o pretenso conflito entre fé cristã e as ciências, tão propalado por alguns dos meus professores. Décadas depois, já engenheiro, vim saber que pelo menos oito dos cientistas homenageados no SI (sistema internacional de unidades) foram cristãos convictos: Newton, Kelvin, Ampère, Faraday, Henry, Volta, Joule e Pascal. Todos eles eram mencionados constantemente em aula, mas não sua fé, escondida pelos professores ou talvez desconhecida por eles, mas entendida por cada um dos oito como tendo relevância fundamental. Assim ignorava o que sei hoje, que para o profissional cristão da área de ciências naturais e exatas Hb 12.1,2 vale literalmente num duplo sentido: "Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé" (NVI).
Durante a adolescência a "nuvem" daqueles oito cristãos estava ali, mas eu não sabia. Mais tarde vim a conhecer detalhes de suas biografias e de outros, alguns ainda maiores do que os oito, como James Maxwell, Max Planck e Wernher von Braun. Hoje minha fé co-define a perspectiva que tenho da profissão. A profissão do cristão é uma ferramenta de testemunho e inserção na sociedade, mas, pelo menos no caso das profissões tecnológicas, há mais do que isto. No primeiro capítulo de Gênesis, o livro denominado pelo teólogo suíço Emil Brunner de "Magna Charta da técnica"1, Deus ordena aos homens: "Enchei a terra e sujeitai-a". Isto acontece com tecnologia em combinação com princípios adequados, bíblicos. É também a tecnologia que proporciona mais tempo às pessoas para atividades recreativas e culturais, especialmente a artística. Na Bíblia lemos outras passagens impressionantes com significado especial para o engenheiro. A história da torre de Babel, por exemplo, nos alerta para o perigo da auto-suficiência e da glorificação do homem de forma geral, mas de modo especial na atividade técnica. Um outro exemplo, a história de Noé, revela como Deus usou um artefato de engenharia (no caso a arca) para avançar seu plano com a humanidade. Os livros de Reis narram episódios que alertam para o perigo da confiança exagerada na técnica em detrimento da fé. Além de mensagens específicas como estas, a Bíblia fornece princípios de liderança e um fundamento consistente para a ética profissional. A profissão do engenheiro possui, pois, sua dimensão especial, à qual o cristão e engenheiro Herbert Hoover, trigésimo primeiro presidente dos EUA, se referiu dizendo que "ao engenheiro cabe a tarefa de vestir os ossos da ciência de vida, conforto e esperança".2
É neste último quesito, a esperança, que o engenheiro cristão tem a oportunidade de tornar-se de fato um profissional integral, pois devemos estar sempre preparados para responder a todo aquele que nos pedir a razão da esperança que há em nós (1 Pe 3.15). Nisto, dentre muitos outros, Augustin Louis Cauchy, matemático e físico, foi-nos um exemplo: "Sou um cristão, isto significa: creio na divindade de Jesus Cristo juntamente com Tycho Brahe, Copérnico, Descartes, Newton, Fermat, Leibniz, Pascal, Grimaldi, Euler, Guldin, Boscowitsch, Gerdil, com todos os grandes astrônomos, todos os grandes pesquisadores das ciências naturais, todos os grandes matemáticos dos séculos passados. E se porventura me perguntarem pela razão, terei prazer em explicá-la. Verão que minha convicção é resultado de estudo cuidadoso e não de preconceitos".3 Cauchy estava disposto e preparado a compartilhar sua fé em pontos práticos e inteligíveis, uma fé alicerçada em fatos: o nascimento de Jesus, seu ministério na Palestina, sua morte e ressurreição, fatos testemunhados, registrados, anotados. Tal fé dá-nos perspectiva, confiança e esperança, pois "é pela fé que entendemos que o Universo foi criado pela palavra de Deus ... Foi pela fé que as pessoas do passado conseguiram a aprovação de Deus... Pela fé eles lutaram contra nações inteiras e venceram. Fizeram o que era certo e receberam o que Deus lhes havia prometido. Apagaram incêndios terríveis e escaparam de serem mortos à espada. Eram fracos, mas se tornaram fortes." ( trechos de Hebreus 11)
Hoje, decorridos quase 35 anos de fé pessoal e 25 anos de engenharia, sou grato a Deus por esta profissão especial e pela oportunidade de participar do desafio de, também na e com minha profissão, "batalhar pela fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos." (Jd 3)
Notas
1 O termo foi cunhado por Emil Brunner em sua preleção por ocasião do jubileu da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH Zürich).
2 Herbert Hoover - The Memoirs of Herbert Hoover: Years of Adventure, Macmillan, 1951.
3 Citado conforme J. Gutzwiller - Das Herz, etwas zu wagen, Friedrich Bahn Verlag, 2000.
• Karl Heinz Kienitz é doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça, em 1990, e professor da Divisão de Engenharia Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. www.freewebs.com/kienitz
Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
- Textos publicados: 32 [ver]
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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