Opinião
- 11 de dezembro de 2013
- Visualizações: 7671
- 2 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
“Tudo é culto”?
A ideia de que tudo é culto é brandida por quem defende um programa “descontraído”, “criativo”, ou por quem simplesmente não se dá ao trabalho de planejar e preparar a liturgia. E a turma do “tudo é culto” parece ter descoberto um argumento teológico da maior profundidade: o que será impróprio para o nosso momento de culto comunitário, se “tudo é culto”?
Em Mateus 4.10, quando Jesus cita a limitação da lei divina quanto ao objeto da adoração, ele emprega as expressões “adorar” e “dar culto”. A primeira, “proskyneo”, tem o sentido de reverência, de prostrar-se diante da deidade. A segunda, “latreuo”, tem o sentido de adoração. Outra palavra usada para culto é glorificação, relacionada originalmente com “valorização”. Adorar a Deus é reconhecer o seu valor. O salmo 24 encerra com a afirmação de que o Senhor dos exércitos é o rei da Glória. E o salmo 29 nos chama a tributar ao Senhor a glória devida ao seu nome (v.1). Isso é reconhecimento do valor, é honrar, é adoração.
Aí está a porta, entendem alguns, para o “tudo é culto”. Devemos fazer tudo para a glória de Deus (1 Co 10.31). Para isso fomos criados (Is 43.7). Então adoremos a Deus comendo ou bebendo, trabalhando ou no lazer. Tudo é santo ao Senhor, como profetizou Zacarias com respeito ao Reino de Deus (Zc 14.20,21).
O Dia do Senhor anunciado pelos profetas já se iniciou com Jesus (Mt 12.28). Mesmo assim, sob orientação apostólica, a igreja continuou a reunir-se para a adoração comunitária em dia e local combinados. Vindos todos de um dia-a-dia tomado por atividades realizadas para a glória de Deus, os crentes ainda assim se reuniam para o estudo das Escrituras, para comer a Ceia do Senhor e para as orações. Ao disciplinar o programa de culto em Corinto, Paulo menciona partes do culto relacionadas com adoração, louvor e ensino comunitário (1 Co 14.26-29). O que tiver caráter e interesse apenas pessoal deve ficar de fora (v.28). “Tudo é culto”, mas quando a igreja se reúne para adoração concentra-se nesses elementos: as orações, os cânticos, a leitura e o ensino da Escritura.
A teologia do “tudo é culto” mudou o que se vê na Escritura e na prática do povo de Deus desde os tempos antigos. “Tudo é culto”, então podemos intercalar duas orações com o aviso de que o seu Pedrinho retornou de merecidas férias. Ah, é claro, damos um toque litúrgico acrescentando o indefectível “Amém, irmãos”. Os que estiverem próximos poderão abraçar o seu Pedrinho. Se desejar, aproveite para comentar que ele ficou melhor sem aquela barba. Ainda não conseguimos inventar o culto sem avisos. Eu sei, a imprensa com os tipos móveis já foram inventados um dia desses (para não falar das redes sociais), mas nada como terminar o sermão e ouvir que o pessoal do passeio da mocidade vai se encontrar sábado às oito em frente à igreja. “Tudo é culto.”
“Tudo é culto,” então incluímos no programa cânticos que exaltam a pessoa humana, em vez do Criador. Deus é que devia ser exaltado, mas insistimos que “você tem valor” (Abrace o seu irmão, diga que o ama em nome de Jesus, diga que ele tem valor). Exaltar o ser humano e massagear o ego de cada pessoa também faz parte do “Tudo é culto”. Deus chegou antes de qualquer um de nós em qualquer canto do universo que ele mesmo criou e “é ele quem nos convoca para a sua adoração”, mas insistimos em lhe dizer que “tu és bem-vindo em nosso meio”. E chamamos esse equívoco cósmico de “culto”.
O pessoal da música pode muito bem afinar os instrumentos depois que o hino ou cântico foi anunciado. É claro que daria para fazer isso antes, mas afinação de instrumentos também é culto. O coral não começa sem antes o regente combinar uns últimos detalhes com a pianista ou com o próprio coral. Afinal, ensaio também é culto. Pequenos detalhes ganham conotação litúrgica. Todos os domingos o pregador prega, mas trazer um copo de água para o púlpito também é culto, por isso os diáconos preferem fazer isso depois que o culto começa.
Inventamos algo impensável nos tempos apostólicos: um programa de culto sem o ensino da Palavra de Deus. Colocamos no lugar a cantata do coral ou “apresentação” de uma banda. Um show. Não é à toa que alguns batem palmas no fim. “Tudo é culto.”
O “Tudo é culto” está, na verdade, acabando com o culto, com a ideia de nos prostrarmos diante da deidade (“proskyneo”). Ou resulta de não reconhecermos a majestade de Deus. Não precisamos de programas conservadores ou contemporâneos. Precisamos de temor de Deus. Convém voltar ao modelo do Novo Testamento e nos reunirmos para adorar a Deus com orações, cânticos, leituras bíblicas e para ouvir o ensino da Palavra de Deus.
Tudo para a glória de Deus.
Leia mais
A Hospitalidade da Palavra
Louvor, Adoração e Liturgia (Rubem Amorese)
A Espiritualidade na Prática
Em Mateus 4.10, quando Jesus cita a limitação da lei divina quanto ao objeto da adoração, ele emprega as expressões “adorar” e “dar culto”. A primeira, “proskyneo”, tem o sentido de reverência, de prostrar-se diante da deidade. A segunda, “latreuo”, tem o sentido de adoração. Outra palavra usada para culto é glorificação, relacionada originalmente com “valorização”. Adorar a Deus é reconhecer o seu valor. O salmo 24 encerra com a afirmação de que o Senhor dos exércitos é o rei da Glória. E o salmo 29 nos chama a tributar ao Senhor a glória devida ao seu nome (v.1). Isso é reconhecimento do valor, é honrar, é adoração.
Aí está a porta, entendem alguns, para o “tudo é culto”. Devemos fazer tudo para a glória de Deus (1 Co 10.31). Para isso fomos criados (Is 43.7). Então adoremos a Deus comendo ou bebendo, trabalhando ou no lazer. Tudo é santo ao Senhor, como profetizou Zacarias com respeito ao Reino de Deus (Zc 14.20,21).
O Dia do Senhor anunciado pelos profetas já se iniciou com Jesus (Mt 12.28). Mesmo assim, sob orientação apostólica, a igreja continuou a reunir-se para a adoração comunitária em dia e local combinados. Vindos todos de um dia-a-dia tomado por atividades realizadas para a glória de Deus, os crentes ainda assim se reuniam para o estudo das Escrituras, para comer a Ceia do Senhor e para as orações. Ao disciplinar o programa de culto em Corinto, Paulo menciona partes do culto relacionadas com adoração, louvor e ensino comunitário (1 Co 14.26-29). O que tiver caráter e interesse apenas pessoal deve ficar de fora (v.28). “Tudo é culto”, mas quando a igreja se reúne para adoração concentra-se nesses elementos: as orações, os cânticos, a leitura e o ensino da Escritura.
A teologia do “tudo é culto” mudou o que se vê na Escritura e na prática do povo de Deus desde os tempos antigos. “Tudo é culto”, então podemos intercalar duas orações com o aviso de que o seu Pedrinho retornou de merecidas férias. Ah, é claro, damos um toque litúrgico acrescentando o indefectível “Amém, irmãos”. Os que estiverem próximos poderão abraçar o seu Pedrinho. Se desejar, aproveite para comentar que ele ficou melhor sem aquela barba. Ainda não conseguimos inventar o culto sem avisos. Eu sei, a imprensa com os tipos móveis já foram inventados um dia desses (para não falar das redes sociais), mas nada como terminar o sermão e ouvir que o pessoal do passeio da mocidade vai se encontrar sábado às oito em frente à igreja. “Tudo é culto.”
“Tudo é culto,” então incluímos no programa cânticos que exaltam a pessoa humana, em vez do Criador. Deus é que devia ser exaltado, mas insistimos que “você tem valor” (Abrace o seu irmão, diga que o ama em nome de Jesus, diga que ele tem valor). Exaltar o ser humano e massagear o ego de cada pessoa também faz parte do “Tudo é culto”. Deus chegou antes de qualquer um de nós em qualquer canto do universo que ele mesmo criou e “é ele quem nos convoca para a sua adoração”, mas insistimos em lhe dizer que “tu és bem-vindo em nosso meio”. E chamamos esse equívoco cósmico de “culto”.
O pessoal da música pode muito bem afinar os instrumentos depois que o hino ou cântico foi anunciado. É claro que daria para fazer isso antes, mas afinação de instrumentos também é culto. O coral não começa sem antes o regente combinar uns últimos detalhes com a pianista ou com o próprio coral. Afinal, ensaio também é culto. Pequenos detalhes ganham conotação litúrgica. Todos os domingos o pregador prega, mas trazer um copo de água para o púlpito também é culto, por isso os diáconos preferem fazer isso depois que o culto começa.
Inventamos algo impensável nos tempos apostólicos: um programa de culto sem o ensino da Palavra de Deus. Colocamos no lugar a cantata do coral ou “apresentação” de uma banda. Um show. Não é à toa que alguns batem palmas no fim. “Tudo é culto.”
O “Tudo é culto” está, na verdade, acabando com o culto, com a ideia de nos prostrarmos diante da deidade (“proskyneo”). Ou resulta de não reconhecermos a majestade de Deus. Não precisamos de programas conservadores ou contemporâneos. Precisamos de temor de Deus. Convém voltar ao modelo do Novo Testamento e nos reunirmos para adorar a Deus com orações, cânticos, leituras bíblicas e para ouvir o ensino da Palavra de Deus.
Tudo para a glória de Deus.
Leia mais
A Hospitalidade da Palavra
Louvor, Adoração e Liturgia (Rubem Amorese)
A Espiritualidade na Prática
Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
- Textos publicados: 25 [ver]
- 11 de dezembro de 2013
- Visualizações: 7671
- 2 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- A última revista do ano
- Vem aí "The Connect Faith 2024"