Opinião
- 23 de junho de 2023
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Trocando penduricalhos inúteis pela leveza do fardo
As avenidas de liberdade a que somos chamados incluem nos alegrarmos com o sucesso do outro, com sua contribuição ímpar, com seu desembaraço.
Por Ivan Abreu Figueiredo
Por Ivan Abreu Figueiredo
Os toques da Palavra são certeiros, como esse de Paulo aos filipenses: "Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos" (Fp 2.3). Avenidas de liberdade se abrem com a advertência quanto às motivações obscuras que trazemos dentro de nós ("ambição egoísta e vaidade"). Seria mentiroso negar sua existência, seu crescimento nutrido por uma mistura confusa de nossas inseguranças, padrões distorcidos de criação, visões do que é esperado numa sociedade neuroticamente competitiva e sede de projeção, aceitação e poder. Mas é certeiro o diagnóstico do que somos. E também o é o do que podemos ser se aceitarmos a proposta de uma leveza especial trazida por aquele que nunca desiste de esculpir em nós a semelhança da imagem de seu Filho.
O antídoto proposto é muito eficaz e libertador: reconhecer que outros são melhores do que nós em várias características, desempenhos e capacidades. Um nocaute necessário na vaidade que pode nos alienar na prisão dos incapazes de pedir ajuda, incapazes também de verbalizar sua apreciação pelos dons e habilidades dos outros que tanto somam na vida. As avenidas de liberdade a que somos chamados incluem a de nos alegrarmos com o sucesso do outro, com sua contribuição ímpar, com seu desembaraço em situações nas quais nos confundiríamos. Trazem consigo a liberdade de aprender de um eterno coração de estudante, pronto a agradecer as chances do caminho. O fardo da ambição egoísta e vaidade é pesado, muito pesado. A troca proposta por Jesus é realmente leve, um desvencilhar-se do inútil e lesivo, orientação sábia e útil na família, no trabalho, em qualquer lugar. Um toque especial está no "humildemente", porque a coisa é sincera, nos deixa espaço para a alegria sincera motivada pela superioridade do outro. Nos chama atenção para o intercambiável entre servir e ser servido, ajudar e ser ajudado. Nos chama à maturidade de renunciar as relações em que entram de contrabando dependências que só devem ser dirigidas ao Pai e jamais a outros seres humanos. Lembra que nos nossos melhores momentos somos veículos de bênçãos e não suas fontes. Nada de jogos de manipulação, nada de cálculos de retribuição no suposto tempo certo no futuro. Basta a alegria da apreciação muitas vezes mútua, porque benção de verdade é via de mão dupla. Basta o acumular de lembranças e pessoas cujos caminhos cruzam os nossos trazendo cor, beleza e auxílio em tempo oportuno.
Em vez do gasto emocional na busca e manutenção de posições, a leveza sustentável do ser, estar junto, olhar nos olhos com gratidão pelos amigos e irmãos que se importam e lutam junto conosco.
Passam rápidos flashes de muita gente boa, tesouros de décadas de caminhada ou mais recentes. Irresistível gratidão por essas interações, exemplo claríssimo do fardo leve proposto por Jesus.
Muito bom se alegrar com o sucesso alheio espantando qualquer traço de inveja. Muito bom não se meter a fazer o que percebermos outros mais habilitados a conseguir.
O persistente escultor não se escandaliza com nossa eventual lentidão nesse processo de retirada dos penduricalhos inúteis. Ele se alegra com nossos desajeitados passos exatamente como me encanto com o andar ainda meio trôpego do meu netinho. Muito boa a liberdade de dizer ao outro: "Você é muito bom nisso, melhor do que eu. Preciso de você. Gosto de olhar você em ação e aprender com você".
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Não é fácil assumir-se fraco. Não é nem um pouco confortável vivenciar a fraqueza. Ela causa dor, limita, envergonha, humilha, incomoda, nos encurrala. É, muitas vezes, o lugar do desânimo, da ansiedade, do desespero, da tristeza, da desorientação, do cansaço, da indiferença. Mas é também o lugar onde clamamos com toda a sinceridade pela força que vem de Deus. E ele nos atende!
Saiba mais:
Ivan Abreu Figueiredo, médico, professor universitário, membro da Igreja Batista Plenitude, São Luís, MA.
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